No presídio, há liberdade para o futebol
Diante dos problemas do sistema carcerário brasileiro, esporte surge como uma alternativa pela ressocialização. Presídio de Igarassu idealizou um campeonato entre reeducandos
Quando as grades abrem-se, as batidas da bola anunciam o futebol. É dia de praticar esportes, momento em que as divergências ficam de lado, brigas e conflitos são apagados. No piso liso ou no campo de barro alaranjado, os jogadores iniciam uma “partida” pela ressocialização, por mais utópica que ela pareça diante do problemático sistema carcerário brasileiro. Os times, no entanto, são descritos como pavilhões, em um campeonato que a taça, de fato, não é o mais importante. O que se busca é uma oportunidade de recuperação e de relembrar as épocas em que o futebol era disputado longe das grades.
No Presídio de Igarassu, Região Metropolitana do Recife, o futebol virou uma “arma” contra a ociosidade dos reeducandos. Além dele, outras modalidades esportivas e atividades de qualificação integram a programação da unidade prisional que, há pelo menos dois anos, não registra rebeliões, diferente de outros presídios pernambucanos. Cerca de três meses atrás, a direção da cadeia criou um campeonato de futebol entre detentos de diferentes pavilhões, no formato de pontos corridos e com jogos decisivos na fase final prevista para dezembro deste ano.
Os times foram escolhidos via sorteio. No entanto, os representantes das equipes foram selecionados por apresentarem intimidade com o futebol. Eles ficaram com a responsabilidade de definir as posições de cada reeducando nos times, além de acompanhar a tabela de disputa. Parte das partidas é realizada em campo de barro, com cinco atletas na linha e um no gol, enquanto outros jogos ocorrem nas quadras de futsal, sendo quatro atletas e um goleiro.
“O sistema carcerário é carente. Então, qualquer coisa, por pequena que pareça, é muito grande para a gente. A ideia do campeonato partiu da direção, antes aqui não tinha. Já passei por outros presídios, são diferentes do PIG (Presídio de Igarassu). Aqui a gente joga sem confusão, não tem inimigo”, relata o reeducando Fabson Lemos, 36 anos.
Para Fabson, o futebol foi um meio de vida. Afirma ter atuado - quando estava em liberdade - como profissional em equipes do Nordeste, relembrando saudosamente da época em que compartilhava alegria vendo a bola rolar. “O que mais sinto falta é da resenha, das brincadeiras após os jogos. Era um meia que deixava os atacantes na cara do gol”, diz, de forma descontraída, em entrevista ao LeiaJá.
Integrante da mesma equipe de Fabson, o reeducando Flávio Duarte, 36 anos, também jogou futebol antes da prisão. Se diz bom atacante, rápido, daqueles jogadores que incomodam a defesa adversária. “Aqui, todo mundo gosta de bola. E com certeza temos bons jogadores, existem até outros que foram profissionais. Sou um atleta que não gosto de perder e com certeza procuro ajudar dentro de campo”, comenta Flávio.
De acordo com o diretor do Presídio de Igarassu, Charles Belarmino, o campeonato conta com 120 reeducandos distribuídos em dez times. As partidas são realizadas duas vezes por semana, com 15 minutos em cada tempo, sob a arbitragem de um colaborador – os jogadores respeitam a decisão do juiz, sem contestação -. O próprio Charles faz questão de participar de algumas partidas. “Sou apaixonado por futebol e tenho a confiança dos reeducandos. Aqui a gente tem uma série de atividades ocupando o tempo deles”, conta o diretor.
Na unidade prisional, existem cinco quadras e um campo. Com capacidade para 426 detentos, o Presídio de Igarassu conta hoje com mais de 3 mil reeducandos, sendo considerado uma cadeia de segurança máxima. Assista, a seguir, como é a disputa do campeonato realizado nas dependências de um presídio: