Mão de obra nacional domina mundo do futebol
Atualmente são 1,2 mil atletas em atividade em outros países
O futebol brasileiro pode até estar há quase 20 anos sem ganhar uma Copa do Mundo, mas ainda é o país mais requisitado do planeta quando se trata de mão de obra. Um estudo publicado mês passado pelo Observatório do Futebol do Centro Internacional de Estudos Esportivos (CIES, em inglês), localizado na Suíça, comprovou que o Brasil é a nação que mais exporta atletas. Atualmente são 1,2 mil atletas em atividade em outros países.
Os pesquisadores chegaram ao número ao estudarem mais de 120 ligas nacionais em diversos países. O levantamento incluiu até segundas e terceiras divisões em alguns casos. Em 23 desses campeonatos os brasileiros são a nacionalidade estrangeira mais presente. Em termos de exportação de mão de obra do futebol, França e Argentina são os dois outros países com os maiores números.
A maior presença brasileira está concentrada em Portugal. Apenas as duas primeiras divisões têm quase 250 atletas. A ligação histórica entre os países, os salários pagos em euro e a oportunidade de se iniciar no futebol europeu onde se fala português são os principais atrativos para quem joga lá.
"Acredito que Portugal seja uma grande porta para o mercado europeu. O futebol tem crescido e todos os clubes da Europa têm monitorado as competições", disse o goleiro Léo, do Rio Ave. "Acho que até hoje todos gostam do futebol brasileiro, do talento único e acho que sempre procuram o novo Neymar ou mesmo um jogador com a alegria de jogar, ir pra cima e driblar", completou outro goleiro brasileiro, Raphael Aflalo, do Portimonense.
Porém, nem todos os atletas deixam o País movidos apenas pelo intuito de fazer uma carreira milionária ou de se expor para as grandes ligas. Para a grande parte, é a oportunidade de trocar a rotina de salários atrasados nas equipes brasileiras e para receber em dia e ter uma qualidade de vida melhor onde os brasileiros são tratados como reforços de peso.
O atacante carioca Leandro Assumpção tem 34 anos e há nove está no futebol tailandês. Os brasileiros também são maioria por lá e somam 27 jogadores na elite. "Eu estava desanimado no Brasil porque você faz contratos curtos, roda por times pequenos e muitas vezes não recebe salário. Cansei da rotina de ficar entre a primeira e a segunda divisões do Rio. Muitas vezes a Tailândia paga o que times da Série A do Brasileirão não pagam", explicou. Atualmente no Nakhon Ratchasima, o jogador disse ter encontrado no país a estabilidade financeira e até fez os pais pararem de trabalhar.
Próxima à Tailândia, a liga do Vietnã soma 16 brasileiros e tem o grande atrativo de pagar salários em dólar. O zagueiro Thiago Papel, de 28 anos, joga pelo Sai Gon FC, um clube que gosta de atletas do Brasil. "O jogador brasileiro ainda tem muito respeito e se destaca pela técnica diferenciada. Muitas vezes quem joga só pensa em Europa, mas a Ásia também tem locais que pagam bem e têm bons campeonatos", afirmou.
Até mesmo times da segunda divisão de mercados alternativos estão de olho em brasileiros. O atacante Maurício Cordeiro, de 28 anos, deixou de lado o sofrimento de não receber em times do interior paulista para defender o Hapoel Afula, em Israel. "Eles geralmente pegam jogadores com baixo custo para dar oportunidade. Aqui é uma vitrine para a Europa e outros mercados da Ásia", disse o atleta.
GESTÃO DE CARREIRA - Com 20 anos de atuação no mercado de transferências, o empresário Marcelo Robalinho explicou que os jogadores brasileiros dominam o mercado internacional por dois fatores. O primeiro é pelo excesso de atletas com qualidade que não têm espaço nos grandes times nacionais. O segundo está ligado à possibilidade financeira de ter um bom salário fora, desde que consiga se adaptar ao novo país.
"Sobra bom jogador no Brasil. Muitos jovens não têm oportunidade aqui. Os times de fora sempre querem buscar algo diferente na parte de criatividade e técnica. E o Brasil é sempre o primeiro país a ser lembrado por isso", afirmou. "É muito fácil contratar um jogador do Brasil. Se um time pequeno da Europa aceitar pagar mil euros de salário (R$ 6,2 mil), já é maior do que a média paga na Série C, por exemplo", comparou.