Mudança de hábitos ajuda a prevenir o câncer

No Dia Mundial de Luta contra o Câncer, especialista alerta para as ações preventivas que podem contribuir para a redução os casos da doença. Taxas de mortalidade continuam altas no Brasil.

qui, 04/02/2016 - 11:37
Divulgação Paula Sampaio, oncologista: diagnóstico precoce aumenta chances de cura Divulgação

O câncer é hoje a segunda maior causa de mortes no Brasil. Em quatro anos, a estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) é de que a doença passe a ocupar o topo desse ranking. Por isso, várias ações serão realizadas pelo País, nesta quinta-feira (04), para mostrar que todos – individual ou coletivamente – podem contribuir para a redução da doença. É o Dia Mundial de Luta Contra o Câncer, instituído pela UICC (União Internacional de Controle do Câncer), com o apoio do INCA e da Fundação do Câncer, no Brasil.

Apesar da disseminação de campanhas como essa, em 2016, 20 mil pessoas a mais do que em 2015 devem ser diagnosticadas com câncer, segundo o INCA. Serão 596 mil novos casos registrados em 2016 e a prevenção continua sendo a principal arma.

A melhor maneira de diminuir as chances de ter câncer passa pela adoção de um estilo de vida saudável, o que significa seguir recomendações já bem conhecidas, como praticar atividades físicas e ter uma boa alimentação. A oncologista clínica Paula Sampaio, especialista do Centro de Tratamento Oncológico, ressalta que existem alguns tipos de câncer que são considerados evitáveis, pois possuem relação direta com o estilo de vida.

A médica cita estatísticas oficiais, que comprovam os benefícios da chamada prevenção primária, que é aquela capaz de evitar o câncer. “De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), pelo menos 33% dos cânceres mais comuns podem ser evitados diminuindo-se o consumo de álcool e adotando dietas mais saudáveis. Evitar a exposição ao sol sem proteção e o sedentarismo também são fatores fundamentais. A OMS estima que somente o abandono do hábito de fumar aumenta a proteção contra a doença em cerca de 50%”, destaca Paula Sampaio.

Quem se alimenta bem durante a vida toda dificilmente terá câncer de estômago. Para a prevenção do câncer de colo do útero, a vacinação contra o HPV e a prática de sexo seguro são recomendações extremamente importantes e os tumores de pulmão estão diretamente relacionados ao consumo de tabaco, que está na origem de 90% dos casos.

Estatísticas - No Brasil, as mulheres devem ser as mais atingidas pelo câncer, esse ano, com 300.870 novos casos. Entre os homens serão 295.200 novos pacientes. O câncer de pele não melanoma é o mais comum entre ambos os gêneros e corresponde a 29% do total de casos. Em seguida, entre os homens, está o câncer de próstata, que terá 61.200 casos novos em 2016. Entre as mulheres, o câncer de mama será o segundo mais recorrente, com 57.960 casos.

Os cânceres de mama e próstata estão entre os que não podem ser evitados apenas com mudanças de hábitos. Nesses casos, é fundamental a chamada prevenção secundária, aquela que possibilita o diagnóstico precoce e a redução drástica no número de mortes. Consultas regulares com especialistas e a realização de exames preventivos são hábitos de enorme importância.

“O câncer de mama, por exemplo, se for diagnosticado e tratado oportunamente, tem um prognóstico muito bom. As chances de cura são superiores a 90%”, destaca Paula Sampaio.“ Apesar disso, as taxas de mortalidade por câncer de mama continuam elevadas no Brasil. O grande problema é que a doença ainda é diagnosticada em estágios avançados”, lembra a médica.

Em junho de 2014, Maria Tereza Cunha, de 69 anos, fez os exames preventivos e nenhum apresentou alterações, mas em agosto de 2015 ela começou a ter uma secreção que evoluiu para sangramento. Com a suspeita de um tumor, repetiu os exames e foi diagnosticada com câncer de colo de útero. “O tumor, de 6 centímetros, estava no endométrio e por isso não apareceu nos preventivos”, lembra Maria Tereza. Ela fez uma cirurgia de histerectomia total, com retirada de útero e ovário, e está concluindo o tratamento com quimioterapia, radioterapia e braquiterapia. “Se eu tivesse relaxado e não fizesse os exames neste ano, minha história poderia ser diferente e quem sabe a doença já teria evoluído para metástase?”, avalia.

Hoje, Maria Tereza comemora o fim do tratamento e garante que nunca relaxou quando se trata de cuidar da saúde. “Imagino o risco que muitas mulheres passam quando não podem ou não fazem os exames preventivos. Eu faço todos os anos, até porque, em 2000, minha mãe teve câncer de intestino, e por isso eu faço exames além dos mais indicados para rastreamento”, explica. “Se você tem acesso a médicos, tem plano de saúde e não depende exclusivamente do sistema público, nada justifica deixar de fazer os exames recomendados e prevenir o câncer”, diz.

Segundo uma pesquisa publicada pela revista americana Lancet Oncology, enquanto nos EUA 60% das mulheres descobrem o tumor no início, no Brasil, apenas 20% das mulheres conseguem o diagnóstico precoce. Outros números dramáticos da saúde brasileira tornam a situação ainda mais grave: 75% dos brasileiros com câncer dependem do SUS para conseguir o diagnóstico e o tratamento. E a Lei 12.732/12, que assegura aos pacientes com câncer o início do tratamento em no máximo 60 dias após a inclusão da doença em seu prontuário no Sistema Único de Saúde (SUS), não é respeitada. Na prática, a maioria dos pacientes espera vários meses para iniciar o tratamento pelo SUS. E o câncer não pode esperar.

Hábitos preventivos

Alimentação saudável

Prática de atividades físicas

Combate ao fumo

Redução do consumo de álcool

Realização de exames periódicos

Proteger a pele da exposição excessiva ao sol

Sexo seguro

Vacinas contra agentes causadores de câncer, tais como hepatite e HPV

Conhecer o histórico médico familiar e adotar medidas de rastreamento indicadas pelos médicos

 

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