"Escalpelamento é violência contra mulher da Amazônia"

A afirmação é do fisioterapeuta André Guimarães, que abordou o tema no Congresso Multidisciplinar de Saúde, na Unama

por Raiany Pinheiro sex, 01/04/2016 - 16:39
Vítimas de escalpelamento participam de ação educativa no Espaço Acolher, em Belém Divulgação/Agência Pará Vítimas de escalpelamento participam de ação educativa no Espaço Acolher, em Belém
Lucas Moraga/LeiaJá Imagens André Guimarães fez pesquisa sobre casos de escalpelamento na Amazônia Lucas Moraga/LeiaJá Imagens

Um dos maiores problemas enfrentados pela população ribeirinha foi tema da programação de fisioterapia do Congresso Multidisciplinar de Saúde realizado no campus BR da Unama, em Ananindeua, nesta sexta-feira (1). O mestre em Planejamento e Políticas Públicas André Gustavo Moura Guimarães abordou a contribuição da fisioterapia na assistência às vítimas de escalpelamento e reforçou que a ocorrência desses acidentes é uma forma de agressão contra as mulheres da região.

Em entrevista ao LeiaJá, o fisioterapeuta André Guimarães explicou que a temática do evento é bem característica da Amazônia. "Se você for para as regiões Nordeste, Sul e Sudeste do Brasil, você não tem as embarcações como seu principal veículo de locomoção. Nós sabemos que o deslocamento dos ribeirinhos é feito na maioria das vezes por pequenas embarcações, e com isso os acidentes de escalpelamento são mais frequentes", disse o pesquisador, referindo-se aos casos em que pessoas perdem o couro cabeludo quando se aproximam de motores sem proteção adequada.

Para André Guimarães, os acidentes de escalpelamento se tornaram banais e por conta disso muitas vezes são esquecidos pelo poder público e cidadãos. "Para nós, amazônidas, é uma realidade próxima. Mas esquecemos que o escalpelamento acontece, e continua acontecendo. Quem mora na capital acaba por ignorar uma realidade tão próxima", disse. 

O fisioterapeuta explicou que numa simples travessia rio um grave acidente de escalpelamento pode acontecer. "Os acidentes de escalpelamento são mais frequentes do que imaginamos. Não podemos negar que eles ainda acontecem e que, por descaso do poder público, há uma grande falta de assistência para com as pessoas que sofreram esses acidentes”. 

Mobilização - De acordo ele, é importante também uma mobilização por parte da sociedade civil: "A própria população pode se mobilizar, divulgando os acidentes de escalpelamentos, que são recorrentes em nossa região. A partir do momento em que começarmos a divulgar, com certeza vamos ter um grande retorno evitando esse tipo de acidente”.

André Guimarães defende que o escalpelamento feminino é uma violência contra a mulher. "Eu faço parte do Observatório de Violência Contra a mulher, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), onde foi inserido meu trabalho (de dissertação), e ele foi colocado como (exemplo de) uma violência contra a mulher justamente porque mais uma vez não é visto o lado da mulher. Será que todas as embarcações recebem fiscalização devida para que a mulher possa entrar no barco protegida?", questionou. 

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