ONU afirma que não há país preparado para o zika vírus

No Recife, representantes do órgão se reuniram na manhã desta quarta-feira (14) para 2º. Encontro da Sala de Situação, Ação e Articulação sobre Direitos de Grupos em Situação de Vulnerabilidade

por Eduarda Esteves qui, 14/04/2016 - 14:21

Teve início nesta quinta-feira (14) o segundo Encontro da Sala de Situação, Ação e Articulação sobre Direitos de Grupos em Situação de Vulnerabilidade. O evento está sendo realizado no Recife com o objetivo de dialogar com a sociedade civil e buscar respostas para a epidemia de vírus zika. Escolhido como sede, Pernambuco é o estado que apresenta o maior número de casos notificados de microcefalia, com 1849 notificações, das quais 312 já foram confirmadas. 

Para o representante do Fundo de População da Organização das Nações Unidas (ONU), Jaime Nadal, muito tem sido feito com relação ao combate ao vírus, mas que atualmente chegou o momento das mulheres serem o centro das respostas. O encontro reuniu lideranças de mais de 30 organizações da sociedade civil e agências da ONU, além da participação de órgãos federais e estaduais de saúde. Nathalie Broutet, médica infectologista do Departamento de Saúde Sexual da Organização Mundial de Saúde, explicou que o direcionamento do evento é dialogar com a sociedade, entender o que as mulheres infectadas com o zika vírus pensam, quais suas vontades e quais os riscos que elas correm.

"Queremos compreender melhor o que temos que fazer em relação aos direitos das mulheres e dos seus bebês com microcefalia. As consequências desse surto têm um impacto muito grande nessas famílias e nas comunidades e a nós ainda estamos pesquisando isso", falou. A médica da OMS também falou sobre o acompanamento clínicas das mães e de seus bebês. "Até o fim do mês de abril deste ano, haverá uma nova recomendação médica no site da OMS", pontuou.

Segundo Jaime Nadal, também representante do Fundo de População da ONU (UNFPA), a crise do zika vírus pode ser vista como uma oportunidade para o Brasil repensar os paradigmas de desenvolvimento e os problemas estruturais que ainda persistem. "O surto tem que nos fazer lembrar e repensar os modelos de desenvolvimento sustentáveis presentes no país. Isso tem muito a ver com os padrões de urbanização, com o empoderamento das comunidades e das mulheres e com a falta de acesso de setores muito importantes da população, como o saneamento básico de nível primário", argumentou. Jaime falou que apesar das pesquisas, nenhum país está preparado para o zika. "A gente pensava que o vírus era uma doença mais suave e menor. Agora estamos vendo que é muito pior do que nós entendíamos e ainda há muitas interrogações", pontuou.

De acordo com informações da sede brasileira da ONU, o evento permitirá  que sejam realizadas definições e o acompanhamentos de ações conjuntas e eficazes que garantam o empoderamento e a autonomia das mulheres. No último dia 24 de fevereiro, a diretora-geral da Organização Mundial da Saúde, Margaret Chan, visitou a capital pernambucana e o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip). Na ocasião, Chan afirmou que o Brasil não estava sozinho na batalha contra o mosquito e que o país tem sido transparente na divulgação das informações.  Jaime Nadal relembrou a passagem da diretora por Recife e exemplificou como sucesso a luta do Brasil contra o vírus da Aids (HIV) nos anos 1990. "Não só houve luta em combate ao vírus, mas um trabalho humanizado contra o estigma e a descriminação contra o grupo mais afetado".

Voz feminina precisa de mais espaço

Representante da ONU Mulheres Brasil, Nadine Gasman argumentou que é importante criar um espaço para que a organização e as mulheres feministas possam estabelecer um diálogo. "A necessidade dessa articulação surgiu com a realidade a nível nacional pois a resposta ao zika estava centrada no controle do vetor e no combate ao mosquito, além de pesquisas científicas para entender o que estava acontecendo. Mas, pra nós, ficou claro que teríamos que agir muito rápido para compor a discussão do que essa situação de epidemia faz com a vida dessas mulheres".  Para Sandra Munhoz, representando a Rede Feminista Nacional, a problemática está na culpabilização que essas mulheres têm sido acometidas.

A feminista explicou que o Governo do Estado age de forma irresponsável. "A gestão agora coloca agora isso mundialmente como sendo algo alarmante, mas não explica que ele também é produtor disso. Não adianta só ter saneamente básico em algumas ruas da classe alta, quando a periferia ainda não é tratada. Por isso as mulheres negras e de baixa renda são as principais atingidas pelo vírus", lamentou. Ela também falou que durante os dois dias do evento, a questão do aborto deve ser levantada. "Queremos discutir o direito da mulher de abortar. O movimento buscado essa articulação de que o corpo é da mulher e ela decide se quer ter o bebê com microcefalia ou não", concluiu.

O evento segue acontecendo no Hotel Mercure Recife Mar Hotel Conventions, no bairro de Boa Viagem e terá duração de dois dias, na quarta e na quinta. No encontro, estão presentes representantes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Ministério da Saúde, da Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco e redes e organizações de mulheres e de direitos humanos. Para Jaime Nadal, o Brasil deve reverter a situação do zika. "Acredito que o Brasil tem uma capacidade e recursos humanos para ser muito efetivo não somente na luta com a zika, mas também marcando a pauta internacional, assim como fez no passado com a Aids", concluiu.

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