“Me senti nada”, afirma estudante trans violentada na UFPE
Jovem registrou Boletim de Ocorrência na noite desse sábado (24), acompanhada pela coordenadora do Mães pela Diversidade e advogado da OAB
A estudante transexual do curso pré-vestibular da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) espancada e abusada por dois homens perto de uma parada de ônibus da instituição na noite da última sexta (23), registrou Boletim de Ocorrência por agressão física motivada por transfobia, neste sábado (24). A jovem já realizou exames no Instituto Médico Legal (IML) e se dirigiu para o Hospital Tricentenário, para receber atendimento médico.
Acompanhada pelo advogado da Comissão de Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Pernambuco, Sérgio Pessoa, e pela coordenadora do Mães pela Diversidade, Gi Carvalho, a estudante, além de ter tido o corpo esmurrado e apalpado pelos agressores, pode ter sido ferida com ácido. “Agora que o vermelho começa a sair, podemos ver traços de queimadura em seu rosto e em suas mãos. A médica suspeita que jogaram ácido”, comenta Gi Carvalho.
Para Gi, o registro da motivação por transfobia é uma vitória. “Nós que estamos na militância sabemos como isso é difícil”, completa. Além disso, a ativista fez questão de revelar sua identidade à imprensa. “Eu e o advogado Sérgio Pessoa fazemos questão que as pessoas trans e homossexuais saibam que podem nos procurar caso sofram violência. Que saibam que não precisam silenciar, pois têm pessoas ao seu lado”, afirma.
Estudante foi esmurrada e teve o corpo apalpado por agressores. (Reprodução/Facebook)
Além de agredida, a vítima teve seu perfil no Facebook bloqueado. “Estava sofrendo agressões e ameaças no meu perfil. Essas pessoas denunciaram minha conta. Já tenho os prints das mensagens e levarei para a Polícia”. A jovem conta que sentiu uma enorme sensação de impotência durante a agressão. “Me senti nada, porque foi uma violência tão gratuita, um ódio tão sem motivo, só pelo fato de eu existir”, lamenta.
Apesar da agressão brutal, a estudante se diz bem. “Porque eu não silenciei com medo de denunciar. Ter feito a denúncia me deu segurança”, completa. Agora, ela estuda a possibilidade de continuar frequentando a UFPE. “É um ambiente onde posso encontrar meus agressores, mas também é o ambiente onde estou tendo a oportunidade que não tinha tido de ingressar na universidade”, coloca.