Alemanha se despede da última mina de carvão

As galerias escavadas durante 150 anos, ou seja, por seis gerações de trabalhadores, serão seladas e vão-se afogar progressivamente nas águas dos rios

sex, 21/12/2018 - 08:24
Patrik STOLLARZ Entrada da mina Prosper-Haniel, a última mina de carvão da Alemanha, na cidade de Bottrop, em 20 de novembro de 2018 Patrik STOLLARZ

Os trabalhadores da mina de Prosper-Haniel, na bacia do Ruhr, vão descer o subsolo pela última vez, nesta sexta-feira (21), e fechar um capítulo da história da indústria alemã.

Após semanas de documentários e de programas especiais, todo país acompanhará pela televisão, a partir das 16h locais (12h em Brasília), o solene adeus à derradeira mina de carvão da Alemanha, na presença do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e do chefe de Estado alemão, Frank-Walter Steinmeier.

Vestidos com seus capacetes e uniformes brancos, os mineiros lançarão um último "Glückauf Kumpel!" ('Boa sorte, camarada!'), sua frase ritual antes de perfurar um filão e diante do perigo onipresente.

Depois extrairão um último bloco de carvão, o "ouro negro" alemão, que caiu no esquecimento diante da hulha estrangeira de baixo custo, enquanto o coral da bacia de Ruhr entoará o "Steigerlied", o tradicional hino dos mineiros.

As galerias escavadas durante 150 anos, ou seja, por seis gerações de trabalhadores, serão seladas e vão-se afogar progressivamente nas águas dos rios.

Os 1.500 funcionários da mina de Prosper-Haniel, situada na cidade de Bottrop, estão há 11 anos se preparando para este fechamento, em uma zona que chegou a ter 600.000 mineiros no Pós-Guerra.

- Coesão operária -

Desde ontem, igrejas e catedrais da região celebram missas dedicadas à causa, enquanto os clubes de futebol da zona, liderados por Dortmund e Schalke, prestaram uma homenagem às suas raízes mineiras antes das partidas.

Os altos fornos erguidos nas colinas renanas desde o século XIX e as fossas de suas entranhas, de até 1.500 metros de profundidade, eram muito mais do que um elemento de trabalho.

Debaixo da terra havia uma sociedade operária e masculina, com jargão próprio, sua solidariedade, suas trocas sinceras e ásperas e sua paixão por futebol, que se estendia à igreja e ao "Kneipe" (bar operário).

"É esta coesão que faz a força na nossa região", disse emocionado Reinhold Adam, de 72 anos, aposentado há 25, que compareceu para uma última descida.

Por trás dessa solidariedade, havia um trabalho exaustivo e arriscado, a ameaça de explosão e a convivência com uma poeira que corrói os pulmões pouco a pouco.

O jornal "Bild" publicou, nesta quinta, o retrato da "última vítima das minas", Markus Zedler, um trabalhador de 29 anos que faleceu na segunda-feira durante as obras de desmontagem de uma mina de antracita em Ibbenbüren.

"A mina era sua vida. Também o matou", escreveu o jornal mais lido do país, que também publicou um caderno especial dedicado a esse fim de ciclo, com retratos dos mineiros e, na capa, um grande "Obrigado pelo carvão".

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