Papa visita a Romênia e reforça diálogo com os ortodoxos
Francisco foi recebido no aeroporto de Bucareste pelo presidente romeno, Klaus Iohannis, um pró-europeu de confissão luterana, que na quinta-feira manifestou satisfação com o encontro "cristão ortodoxos, católicos romanos e greco-católicos" em seu país
O papa Francisco desembarcou nesta sexta-feira (31) na Romênia, onde permanecerá por três dias, para reiterar a vontade de diálogo com os ortodoxos, mas também para recordar a repressão soviética e demonstrar sua proximidade com o povo gitano.
Francisco foi recebido no aeroporto de Bucareste pelo presidente romeno, Klaus Iohannis, um pró-europeu de confissão luterana, que na quinta-feira manifestou satisfação com o encontro "cristão ortodoxos, católicos romanos e greco-católicos" em seu país.
Os dois tinham uma reunião programada no palácio presidencial e vários encontros com representantes do governo e da sociedade civil. Mais tarde, o papa se reunirá com o patriarca ortodoxo Daniel e celebrará uma missa na catedral de São José.
Apesar da previsão de que os dois rezem dentro da nova catedral ortodoxa da capital, um em latim e o outro em romeno, os dois líderes religiosos não devem aparecer juntos em público, o que alguns analistas interpretam como um sinal de desafio da igreja ortodoxa romena ao líder de 1,3 bilhão de católicos do planeta.
"Venho como peregrino e irmão", anunciou o pontífice argentino em um vídeo ao povo romeno divulgado na quinta-feira.
Esta é a 30º viagem ao exterior em seis anos de pontificado e acontece 20 anos depois da visita de João Paulo II, o primeiro papa a visitar um país de maioria ortodoxa.
Francisco percorrerá em três dias boa parte da Romênia, um país de 20 milhões de habitantes e composto por um mosaico de religiões e línguas, com 18 minorias oficialmente reconhecidas.
O pontífice "deseja visitar todas as regiões do país, que representam a riqueza étnica, cultural e religiosa da Romênia", afirmou o porta-voz do Vaticano, Alessandro Gisotti.
No sábado, o papa visitará o santuário mariano de Sumuleu Ciuc (centro do país), frequentado principalmente pela minoria húngara, assim como Iasi (nordeste), o maior centro de católicos latinos. No domingo seguirá para Blaj (centro), sede da igreja greco-católica.
"O desafio do papa é demonstrar à comunidade ortodoxa que a igreja de Roma não quer latinizá-la" explicou à AFP o bispo Pascal Gollnisch, diretor geral da Obra do Oriente.
"A unidade que se busca não é institucional, não pretende reunir todos os cristão sob a etiqueta de católicos, e sim que todos se reconheçam como cristãos", completou.
Situada entre a Europa oriental e ocidental, a Romênia estabeleceu relações diplomáticas com a Santa Sé em 1920, mas os vínculos se romperam depois da Segunda Guerra Mundial, com a chegada dos comunistas ao poder.
Na atualidade, 85% dos romenos se declaram ortodoxos e 7% católicos, cerca de 1,4 milhão de fiéis, inclusive os 200.000 que pertencem à igreja greco-católica ou uniata.
A partir de 1948, esta comunidade minoritária foi integrada à igreja ortodoxa e desapareceu oficialmente. Vários sacerdotes e fiéis foram presos e alguns executados. Muitos, no entanto, conservaram os rituais em sigilo até a queda do líder comunista Nicolae Ceausescu en 1989, que governo o país com mão de ferro.
Para honrar sua memoria, o papa beatificará no domingo em Blaj sete bispos uniatas, que foram detidos e torturados por agentes do regime comunista em 1948, morrendo em total isolamento.
Outro momento importante será a missa de sábado no santuário de Sumuleu Ciuc, na Transilvânia, diante de 200.000 pessoas, acontecimento que é considerado pelas autoridades locais como um reconhecimento da identidade húngara desta região.
O papa completará a viagem com uma visita à comunidade romani, o povo cigano, no distrito de Barbu Lautaru de Blaj.