UE ameaça retaliar tarifas bilionárias dos EUA

Na quarta-feira (2), a Organização Mundial do Comércio habilitou os Estados Unidos a taxarem as importações de bens europeus em até US$ 7,5 bilhões

qui, 03/10/2019 - 15:50
PASCAL PAVANI A União Europeia (UE) ameaçou nesta quinta-feira (3) responder às tarifas bilionárias que os Estados Unidos pretendem impor a aviões europeus e a produtos como azeite, vinho e queijo, uma decisão que aumenta a tensão comercial entre os dois lados do Atlântico PASCAL PAVANI

A União Europeia (UE) ameaçou nesta quinta-feira (3) responder às tarifas bilionárias que os Estados Unidos pretendem impor a aviões europeus e a produtos como azeite, vinho e queijo, uma decisão que aumenta a tensão comercial entre os dois lados do Atlântico.

"Se os Estados Unidos impuserem suas contramedidas, obrigarão a UE a fazer o mesmo", advertiu, em entrevista coletiva, o porta-voz da Comissão Europeia, Daniel Rosario.

Segundo ele, isso complicará o caminho para uma solução negociada no velho contencioso Boeing/Airbus.

Na quarta-feira (2), a Organização Mundial do Comércio (OMC) habilitou os Estados Unidos a taxarem as importações de bens europeus em até US$ 7,5 bilhões. Washington anunciou que pretende aplicar a medida a partir de 18 de outubro.

Esta decisão é o último episódio de um conflito de 15 anos entre o fabricante aeronáutico americano Boeing e seu rival europeu Airbus - com participação de França, Alemanha, Espanha e Reino Unido -, devido aos subsídios recebidos pelos respectivos governos.

Os Estados Unidos atacaram primeiro na OMC em 2004, acusando os quatro países de concederem subvenções ilegais para apoiar a produção de uma série de produtos Airbus. Um ano mais tarde, a UE afirmava que a Boeing também recebeu subvenções proibidas por parte de Washington.

Os dois casos se viram imersos depois em um conflito jurídico, e cada parte ganhou de maneira parcial. Washington pedia à OMC poder impor tarifas de 11,2 bilhões de dólares, enquanto a queixa da UE, que deve ser considerada no início de 2020, é de 12 bilhões de dólares.

Nos últimos meses, os europeus tentaram convencer os Estados Unidos de Donald Trump a iniciarem uma negociação para resolver esta controvérsia de maneira amigável. O objetivo era evitar a imposição de novas tarifas, que se agregariam às do aço e do alumínio de março de 2018.

Apesar do anúncio das medidas para 18 de outubro, o representante comercial dos EUA (USTR, na sigla em inglês), Robert Lightizer, disse que Washington está aberta a negociar com Bruxelas. Para a UE, a imposição de tarifas complicará uma solução negociada, ainda que também esteja disposta a conversar.

"Nossa mão está estendida. Espero que os Estados Unidos ouçam esta voz que, na minha opinião, é a voz da razão", declarou o ministro francês das Finanças, Bruno Le Maire, que classificou de "grave erro econômico" a decisão de Washington de aumentar as taxas.

- Alívio na Itália -

Washington decidiu que cobrará, a partir de 18 de outubro, tarifas extras de 10% dos aviões europeus e de 25% sobre os demais bens. Entre eles, estão emblemáticos produtos europeus como o azeite de oliva espanhol, ou os vinhos e queijos franceses.

"Evidentemente, estabeleceremos medidas de represália" contra os Estados Unidos, junto com a UE, se Washington consumar estas medidas, disse a porta-voz do governo francês, Sibeth Ndiaye, às emissoras BMFTV e RMC.

Já o ministro alemão das Finanças, Olaf Scholz, pediu uma reação "resolvida, mas calibrada".

A política comercial no bloco é dirigida pela Comissão Europeia.

A Espanha, cujo principal produto agrícola exportado para os Estados Unidos é o azeite de oliva, pedirá que se trate do tema das tarifas durante a reunião de ministros da Agricultura prevista para 14 de outubro em Luxemburgo.

Segundo a secretária de Estado de Comércio da Espanha, Xiana Méndez, "o impacto nas exportações pode alcançar um valor de 1 bilhão de euros, principalmente para o setor agroalimentar". Além do azeite, as azeitonas e o vinho também serão afetados.

As medidas do governo americano se concentram, sobretudo (ainda que não exclusivamente), nos produtos dos países participantes da Airbus. Exemplo disso é o alívio da Itália de ver como alguns de seus símbolos, entre eles massa e tomate, conseguiram se livrar da decisão.

O anúncio de novas tarifas tensiona a frágil trégua comercial estabelecida entre Bruxelas e Washington em julho de 2018. E poderá sofrer mais um golpe em breve, se Trump decidir, antes de 13 de novembro, ir adiante com sua ameaça contra os carros europeus, temida por Berlim.

burs-tjc/mb/tt

COMENTÁRIOS dos leitores