UE nega ter modificado relatório sob pressão da China
'Eu refuto e contesto absolutamente qualquer alegação de que, em nosso relatório, nos submetemos a uma pressão externa', declarou seu porta-voz, Peter Stano, durante uma coletiva de imprensa
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, negou nesta segunda-feira (27), por meio de seu porta-voz, ter amenizado, sob pressão de Pequim, um relatório sobre as campanhas de desinformação lideradas pela China.
"Eu refuto e contesto absolutamente qualquer alegação de que, em nosso relatório, nos submetemos a uma pressão externa", declarou seu porta-voz, Peter Stano, durante uma coletiva de imprensa.
O grupo do Partido Popular Europeu (PPE, direita) no Parlamento Europeu disse estar "revoltado" com relatos da imprensa, alegando que o Serviço Europeu para a Ação Externa (SEAE) cedeu à pressão chinesa e modificou suas conclusões sobre a campanha de desinformação chinesa a respeito da COVID-19.
"Peço ao alto representante Josep Borrell que explique em detalhes e sem demora que ele tomou conhecimento do relatório", disse a eurodeputada letã Sandra Kalniete, vice-presidente da grupo do PPE encarregado dos assuntos externos.
O grupo Renew (liberais) também pediu "esclarecimentos" ao diplomata-chefe da UE.
"Se isso for verdade, é um problema muito sério", disse o eurodeputado holandês Bart Groothuis.
O relatório publicado no site do Serviço Europeu para a Ação Externa difere de um documento que vazou na imprensa, do qual a AFP obteve uma cópia.
Referências a investigações em Taiwan e um incidente com a França não são mais mencionadas.
"Deixe-me dizer uma coisa com muita clareza: não houve alterações e não houve várias versões desses documentos", sustentou Peter Stano.
"Temos dois processos separados. Existe um interno, concebido para diferentes propósitos. Depois, existem documentos a serem publicados que são processados em paralelo porque eles têm objetivos e conteúdo diferentes", afirmou.
"O fato é que existem dois relatórios: um interno, para uso interno; e outro, para uso público, preparados de acordo com um processo diferente", reconheceu.
"Dois procedimentos, dois documentos. Um documento não é necessariamente um reflexo verdadeiro do outro. Enquanto isso, há coisas diferentes que podem entrar em jogo", disse ele.
Questionado sobre e-mails internos citados pelo jornal americano The New York Times sobre ameaças de reação das autoridades chinesas, "se o relatório for publicado", Peter Stano se recusou a comentar.
No sábado, porém, pelo Twitter, lamentou o uso de "comunicações internas fora de contexto".
O porta-voz da Comissão, Eric Mamer, alertou contra a publicação de tais documentos com nomes, porque, "infelizmente, isso pode ter consequências".
As ameaças feitas pelo embaixador chinês na Austrália na segunda-feira confirmaram, no entanto, a pressão exercida por Pequim para neutralizar as investigações sobre a maneira como as autoridades lidaram com a pandemia de coronavírus.