Onça é devolvida à natureza após ter as patas queimadas

Onça-pintada ficou mais de um mês em tratamento

ter, 20/10/2020 - 16:10
Reprodução/Instagram Animal correu em direção à mata após perceber que estava livre Reprodução/Instagram

Ousado está de volta ao Pantanal. A onça-pintada resgatada em setembro com queimaduras de segundo grau nas quatro patas foi devolvida à natureza na manhã desta terça-feira (20) após 39 dias longe da região para tratamento. A soltura ocorreu na mesma margem do Rio Corixo Negro, em Poconé, em Mato Grosso, uma das áreas atingidas pelo fogo, onde a reportagem do Estadão encontrou o felino, debilitado.

O animal de cerca de dois anos passou uma temporada no NEX, uma ONG especializada no tratamento de onças, em Corumbá de Goiás, a 80 km de Brasília. A viagem de 1,2 mil quilômetros de volta ao Pantanal foi toda feita numa van climatizada de vidros escuros. Durou 21 horas. Diferentemente do resgate, dessa vez não houve apoio de helicóptero da Marinha.

Ousado, nome dado por ribeirinhos ao exemplar da espécie, um macho, foi encontrado às margens de um rio do Mato Grosso, em 11 de setembro. Todo o processo de resgate, desde antes da chegada de veterinários e voluntários, foi documentado.

A operação para levar Ousado de Goiás foi discreta. Uma equipe do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), chegou na cidade goiana nas primeiras horas da manhã de segunda-feira com recomendações expressas para que não houvesse publicidade das ações nas próximas horas.

Apesar de o NEX dar ampla transparência ao passo a passo do tratamento da onça nas redes sociais, o Cenap não permitiu nenhuma informação sobre a reinserção do felino à natureza. A justificativa do órgão era a de que a soltura deveria mobilizar uma quantidade mínima de pessoas para que Ousado não ficasse estressado e para que os riscos do procedimento fossem reduzidos. Na semana passada, auxiliares do presidente Jair Bolsonaro e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ensaiaram uma agenda oficial para que ambos participassem da soltura da onça. O compromisso, porém, acabou cancelado.

Ao final da longa viagem pelas estradas, a onça chegou à localidade de Porto Jofre, em Poconé, na extremidade final da Rodovia Transpantaneira, a cerca de 250 km de Cuiabá. Dentro de uma caixa metálica, a onça foi transferida para um barco que subiu os rios até a exata localização do resgate, nas proximidades do Parque Estadual Encontro das Águas, uma das áreas de maior incidência de onças, quase todo devastado pelo fogo que atingiu o Pantanal.

A estrutura metálica com o felino foi depositada na terra e um sistema de roldana foi montado em uma árvore para que os técnicos pudessem abrir a porta da caixa puxando um cabo de aço, sem ficarem expostos ao animal.

Ousado colocou apenas a pata direita na terra firme e permaneceu imóvel por exatos 15 segundos, observando o entorno. Constatado o reencontro com seu habitat, correu e, com um impulso, venceu o barranco para se reencontrar com a vegetação pantaneira. O animal ganhou um colar, que servirá para monitorá-lo por GPS. Técnicos do Cenap dizem que um estudo atestou as condições das imediações do parque para que o animal fosse reintroduzido com segurança. A readaptação de Ousado à natureza alimenta a esperança de pantaneiros na resiliência do Pantanal.

O regresso da onça ao Pantanal tem forte carga simbólica. Incêndios destroem o bioma há meses e sobram críticas à falta de providências adotadas pelas autoridades, especialmente federais.

A diversidade da fauna local e a preservação do bioma são fundamentais à atividade econômica da região, que atrai turistas de todo o mundo interessados na observação de animais livres.

Até aqui, a saga de Ousado é feliz. Amanaci, outra onça resgatada do Pantanal com queimaduras, ainda em tratamento em Corumbá de Goiás, não fará o mesmo caminho de volta. A fêmea teve queimaduras de terceiro grau nas patas e, apesar do moderno tratamento com células-tronco, ficou com o movimento das garras comprometido. Ela não tem mais condições de viver livre, segundo veterinários que a acompanham.

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Ousado está livre na natureza!!! A onça-pintada que se tornou símbolo dos animais queimados no Pantanal, representa a esperança da recuperação da rica biodiversidade desse bioma brasileiro tão maravilhoso. Seu olhar de tristeza e dor emocionou o Brasil. Depois de 36 dias, Ousado voltou para casa. Ao longo desse tempo Ousado recebeu excelente tratamento no Instituto NEX, em Corumbá de Goiás-GO, com terapia de ozônio e laser, com o apoio da Ampara Animal. Isso permitiu rápida recuperação e no último dia 15/10 Ousado recebeu alta. O ICMBio em parceria com as instituições envolvidas no resgate, Ampara Animal, SEMA-MT, UFMT, Panthera e Pantanal Relief Fund, iniciaram os preparativos para a soltura da onça Ousado no mesmo local em que foi resgatado. No dia 19/10 Ousado foi anestesiado e recebeu um colar GPS-Satélite para monitoramento, com o objetivo de avaliar sua readaptação no retorno ao lar. Foi transportado por via terrestre até Porto Jofre-Pantanal e depois de barco até o local onde foi resgatado. Nos primeiros dias será acompanhado de perto pelos guias locais e pelo pesquisador Fernando Tortato (Panthera) para avaliação direta, enquanto os dados do colar serão avaliados pela equipe do CENAP-ICMBio. O Ousado, além de nos informar sobre sua adaptação ao ambiente extremamente impactado pelas queimadas, será um espelho para podermos analisar como todas as onças da região estão sobrevivendo. Caso seja percebida qualquer dificuldade para sua sobrevivência, o radio colar também nos permitirá a obtenção de sua localização precisa, caso seja necessário recapturá-lo. A volta do Ousado para casa simboliza o esforço de todos que trabalharam no combate aos incêndios florestais e no resgate da fauna afetada. Instituições envolvidas no resgate e reabilitação do Ousado: @icmbio @ibamagov @sema.matogrosso @cbmmt @amparasilvestre @nex_noextinction @ufmt.br @pantheracats @pantanal_relief_fund Crédito das imagens: @frtortato

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