EUA reduzirão presença no Afeganistão e Iraque
Funcionários americanos e estrangeiros advertiram que uma retirada precipitada das tropas poderia ajudar grupos extremistas como Al Qaeda e Estado Islâmico
Os Estados Unidos vão reduzir a quantidade de militares no Afeganistão e no Iraque ao seu menor número em 20 anos depois de o presidente Donald Trump se comprometer a pôr um fim aos conflitos do país no exterior, anunciou o Pentágono na terça-feira (17), gerando preocupações de segurança.
Rejeitando o risco de que se destrua o que foi conseguido pelos Estados Unidos na região, o secretário interino da Defesa, Chris Miller, disse que 2 mil soldados vão deixar o Afeganistão em 15 de janeiro. Outros 500 retornarão do Iraque na mesma data, deixando 2,5 mil em cada país.
A retirada reflete o desejo de Trump "de pôr um fim de forma exitosa e responsável às guerras no Afeganistão e no Iraque e trazer nossos corajosos soldados para casa", disse Miller.
O secretário informou que já foi alcançada a meta estabelecida em 2001, após os ataques da Al Qaeda contra os Estados Unidos, de derrotar os extremistas islâmicos e ajudar "seus parceiros locais e aliados a liderar a luta".
O porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, declarou à AFP que a retirada "é um bom passo e é ótimo para os povos de ambos os países", tanto Estados Unidos quanto Afeganistão.
Terminar com as guerras sem fim
A decisão aproxima os Estados Unidos de se desvincularem de conflitos que desde 2001 atravessaram três presidentes e não têm um fim à vista.
O anúncio foi feito faltando dois meses para que o republicano Trump transfira o poder ao democrata Joe Biden em 20 de janeiro.
Diante da observação de que Trump estaria agindo abruptamente após sua derrota eleitoral, o assessor de segurança da Casa Branca, Robert O'Brien, disse que a retirada das tropas estava planejada há tempos.
"Há quatro anos, o presidente Trump fez campanha prometendo terminar as guerras sem fim para os Estados Unidos. Hoje, o Pentágono só anunciou que o presidente Trump cumpriu com a promessa feita ao povo".
Trump "espera que por volta de maio todos tenham voltado sãos e salvos".
Foguetes em Bagdá
A decisão foi divulgada dez dias depois de Trump destituir o secretário da Defesa Mark Esper, que insistia em deixar 4,5 mil soldados no Afeganistão para apoiar o governo de Cabul.
Esper reduziu a quantidade de 13 mil soldados americanos desde o acordo de 29 de fevereiro entre os Estados Unidos e a insurgência talibã.
Os talibãs e o governo afegão iniciaram negociações de paz após um acordo assinado entre Washington e os insurgentes, que envolve a retirada das forças americanas até meados de 2021.
Mas até a destituição de Esper, o Pentágono alegava que os talibãs não tinham cumprido sua promessa de reduzir os ataques violentos contra as forças afegãs e advertiu que estes ataques seriam intensificados com menos tropas americanas.
Sediq Sediqqi, porta-voz do presidente Ashraf Ghani, confirmou por sua vez no Twitter que Ghani falou por telefone com Miller sobre "o contínuo e significativo apoio militar americano às Forças de Defesa e Seguraça afegãs".
No Iraque, a administração Trump anunciou a redução do número de soldados em meio a um ataque com foguetes lançados por grupos aliados ao Irã contra a embaixada americana e bases militares americanas.
Nesta terça, uma salva de foguetes foi disparada contra a Zona Verde de Bagdá, onde fica a embaixada dos Estados Unidos, rompendo uma trégua de um mês nos ataques contra a representação diplomática.
Sob a condição de não ser identificado, um alto funcionário da Defesa minimizou o risco de ressurgimento de grupos extremistas como Al Qaeda e Estado Islâmico.
"Os profissionais do serviço militar estão de acordo de que esta é a decisão correta", disse este funcionário.
"A Al Qaeda está no Afeganistão há décadas e a realidade é que seríamos uns tolos se disséssemos que vão embora amanhã", completou.
'Saída humilhante'
Funcionários americanos e estrangeiros advertiram que uma retirada precipitada das tropas poderia ajudar grupos extremistas como Al Qaeda e Estado Islâmico.
O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, disse na segunda-feira que a redução de tropas provocará um fracasso como "a humilhante saída americana do Vietnã", em 1975, e se tornará uma vitória propagandística dos extremistas.
O chefe da Otan, Jens Stoltenberg, considerou que o Afeganistão pode "voltar a ser uma base para os terroristas internacionais".
O ministro das Relações Exteriores alemão, Heiko Maas, afirmou que Berlim está preocupada pois o anúncio dos Estados Unidos "pode significar que as negociações de paz prossigam", alertando também contra uma "retirada precipitada".
Desde o lançamento das ofensivas militares em 2001 no Afeganistão e no Iraque, dois anos depois, mais de 6.900 militares americanos morreram e mais de 52.000 ficaram feridos nos dois países, segundo o Pentágono.