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A Guarda Civil da Espanha prendeu nesta semana dois irmãos de nacionalidade brasileira em Estepona, no sul do país, por suposta ligação com o Estado Islâmico. Os irmãos foram levados a Madri e colocados em prisão provisória.

Segundo comunicado do Ministério do Interior espanhol, os irmãos, que não foram identificados, estariam "imersos em um processo de radicalização" e usariam plataformas de mensagens instantâneas encriptadas para mostrar o seu apoio ativo ao Estado Islâmico.

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"Ambos consumiam e difundiam por meio de seus perfis na internet material multimídia de propaganda do Daesh (sigla em árabe do nome anterior do grupo). Entre esse material havia atividades terroristas realizadas em diferentes lugares, manuais para confecção de explosivos e envenenamentos, segurança cibernética, hacking, assim como documentos que justificam a violência da execução de ações suicidas", diz a nota.

A Guarda Civil teve a colaboração do FBI para detectar, identificar e neutralizar os dois irmãos. O comunicado do ministério espanhol também afirma que a operação contou com a ajuda da Polícia Federal brasileira e que, por meio da Agência da União Europeia para a Cooperação Policial (Europol), foram encontrados vínculos internacionais dos dois com indivíduos detidos ou investigados em países europeus por suas ligações à ameaça jihadista.

A Polícia Federal (PF) vasculhou três endereços em São Paulo e no Rio de Janeiro na manhã desta quinta-feira (10) para colher provas sobre o possível recrutamento de adolescentes pelo grupo jihadista Estado Islâmico. As diligências foram realizadas por ordem da 2ª Vara Federal de Belo Horizonte.

A investigação teve início a partir da prisão de um brasileiro, no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, que estava prestes a embarcar para se juntar ao Estado Islâmico. A detenção ocorreu em 11 de junho.

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Após acessarem o celular do preso, os investigadores descobriram que ele, através de aplicativos de mensagens, teria recrutado adolescentes para também integrarem o EI.

Segundo a PF, o caso é investigado como crime de corrupção de menores, previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Como o crime sob suspeita teria sido praticado em ambiente virtual, a pena é de um a quatro anos de reclusão para cada jovem recrutado.

Além disso, uma eventual sentença contra o investigado pode ser mais pesada em razão de ele ter tentado induzir os menores a cometer infrações previstas na Lei de Terrorismo, consideradas crime hediondo.

Um ataque de drones dos Estados Unidos matou um líder do grupo Estado Islâmico na Síria horas depois que os mesmos drones MQ-9 Reaper foram perseguidos por jatos militares russos na parte ocidental do país, de acordo com o Departamento de Defesa.

Três Reapers voavam em busca do militante na sexta-feira, 07, disse uma autoridade de Defesa dos EUA, quando foram perseguidos por cerca de duas horas por aeronaves russas. Pouco depois, os drones atingiram e mataram Usamah Al-Muhajir, que andava de motocicleta na região de Alepo, no Noroeste da Síria, disse o oficial, que não estava autorizado a discutir publicamente o assunto e falou em condição de anonimato.

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O oficial disse que Al-Muhajir estava no Noroeste da Síria no momento do ataque, mas que normalmente operava no Leste.

Não ficou claro ainda como os militares dos EUA confirmaram que a pessoa morta era Al-Muhajir. Nenhum outro detalhe foi fornecido.

Em um comunicado no domingo, 09, o Comando Central dos EUA disse que não há indícios de que civis tenham sido mortos no ataque. Os militares estavam avaliando relatos de que um civil pode ter sido ferido.

Sexta-feira foi o terceiro dia consecutivo em que as autoridades americanas reclamaram que caças russos na região realizaram voos de maneira insegura e "assediaram" drones americanos.

O tenente-general Alex Grynkewich, chefe do Comando Central das Forças Aéreas dos EUA, disse em comunicado que, na sexta-feira, os aviões russos "fizeram 18 passagens não profissionais que fizeram com que os MQ-9s reagissem para evitar situações inseguras".

O primeiro atrito ocorreu na manhã de quarta-feira, quando aeronaves militares russas "se envolveram em comportamento inseguro e não profissional" enquanto três drones americanos MQ-9 conduziam uma missão contra o Estado Islâmico, disseram os militares dos EUA. Na quinta-feira, os militares dos EUA disseram que os caças russos voaram de maneira "incrivelmente insegura e não profissional" contra aeronaves francesas e americanas sobre a Síria.

O coronel Michael Andrews, porta-voz do Comando Central das Forças Aéreas, disse que o incidente de quinta-feira durou quase uma hora e incluiu sobrevoos de um SU-34 e um SU-35, e que eles lançaram sinalizadores diretamente no MQ-9.

Autoridades dos EUA disseram que os drones estavam desarmados nos voos anteriores, mas carregavam armas na sexta-feira, enquanto caçavam Al-Muhajir.

"Deixamos claro que continuamos comprometidos com a derrota do Isis (EI) em toda a região", disse o general Erik Kurilla, comandante do Comando Central dos EUA, no comunicado.

O contra-almirante Oleg Gurinov, chefe do Centro de Reconciliação da Rússia para a Síria, disse na semana passada que os militares russos e sírios iniciaram um treinamento conjunto de seis dias que termina na segunda-feira.

Gurinov acrescentou em comentários veiculados pela mídia estatal síria que Moscou está preocupada com os voos de drones da coalizão liderada pelos Estados Unidos sobre o Norte da Síria, chamando-os de "violações sistemáticas de protocolos" destinados a evitar confrontos entre as duas forças militares.

Fonte: Associated Press

A Polícia Federal (PF) prendeu um brasileiro que, segundo a corporação, planejava se juntar ao grupo terrorista Estado Islâmico. O homem foi preso no portão de embarque internacional do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.

O mandado de prisão foi expedido pela 2ª Vara Federal de Belo Horizonte. A Justiça também autorizou buscas em endereços ligados a ele, em São José dos Campos (SP) e Barbacena (MG). O material apreendido com ele ainda será analisado.

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O homem, que não teve a identidade revelada, pode responder por "integrar e promover organização terrorista". O crime, quem tem status de hediondo, está previsto na lei antiterrorismo. A pena pode chegar a cinco a oito anos de prisão.

O grupo Estado Islâmico (EI) anunciou na quarta-feira (30) a morte de seu líder, Abu Hassan al-Hashimi al-Qurashi, sem detalhar a data, nem as circunstâncias do óbito. Segundo os Estados Unidos, ele teria morrido em combate na província síria de Deraa em outubro.

O que se sabe das circunstâncias de sua morte?

- O que aconteceu em Deraa? -

As forças do regime sírio reconquistaram a província de Deraa em 2018, em virtude de um acordo auspiciado pela Rússia, o principal aliado de Damasco, que permitiu aos antigos combatentes manter a posse de suas armas.

Um combatente local, ativistas na província de Deraa e a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) garantiram para a AFP que, em meados de outubro, houve combates entre os antigos rebeldes e os jihadistas na localidade de Jasim, perto de Deraa.

Vários integrantes do EI, incluindo um iraquiano, morreram nesses enfrentamentos.

O Comando Central do Exército dos Estados Unidos (Centcom) no Oriente Médio informou que o líder do EI morreu nessa operação em Jasim, da qual as suas forças não participaram.

O ativista de oposição Omar al Hariri indicou que as autoridades sírias informaram aos notáveis de Jasim que havia jihadistas do EI escondidos e que soube que o regime pediu aos antigos rebeldes que lançassem um ataque contra os extremistas.

Um combatente que participou da operação falou com a AFP sob anonimato e contou que houve coordenação entre os antigos rebeldes e o regime de Assad para "determinar quais eram as casas onde os jihadistas estavam escondidos" em Jasim e em uma localidade vizinha.

"Ninguém nos disse que o líder do Daesh [acrônimo do EI em árabe] se encontrava entre eles", assegurou o combatente.

Segundo ele, os combatentes locais realizaram a operação e o exército sírio ofereceu "apoio limitado" com artilharia.

Os enfrentamentos que começaram em 14 de outubro duraram cinco dias e envolveram cerca de 20 casas onde os jihadistas estavam abrigados.

Segundo o combatente, havia cerca de 100 jihadistas, dos quais dois morreram após acionarem seus cinturões com explosivos.

Muitos jihadistas morreram nos combates, incluindo um iraquiano, conhecido por seu nome de guerra, Abu Abdel Rahman al-Iraqi.

Segundo o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman, o homem se suicidou ao acionar seu cinturão com explosivos na casa onde estava entrincheirado, depois de evacuar seus familiares. O especialista estimou que poderia se tratar do líder do EI.

De acordo com o combatente, representantes do regime sírio que chegaram a identificar os corpos afirmaram que Al-Iraqi era o "emir" do EI na região de Deraa.

"Os serviços de segurança levaram os corpos de desconhecidos para identificá-los", acrescentou.

- O que diz o regime sírio? -

Em 14 de outubro, a agência oficial síria Sana anunciou que "grupos locais apoiados pelo exército" haviam lançado uma operação contra jihadistas em Jasim. Um dia depois, a Sana informou que havia "emires" do EI, incluindo um iraquiano, dentro do grupo que foi atacado.

Em 17 de outubro, a agência anunciou que "todos os membros do grupo terrorista foram erradicados".

Hassan Hassan, que é especialista em grupos jihadistas, estimou em um tweet que o líder do EI "poderia ter morrido acidentalmente", sem que aqueles que o eliminaram soubessem disso.

- Qual é a situação em Deraa? -

A situação na província, que foi o berço da revolta contra o regime de Bashar al-Assad em 2011, continua instável, apesar do retorno das forças do regime em julho de 2018.

Há atentados, enfrentamentos e assassinatos de pessoas leais ao regime, de antigos opositores ou de civis que trabalham para o governo. O Estado Islâmico reivindica esses ataques.

Segundo al-Hariri, "o caos que reina em Deraa é a principal razão pela qual as células do EI se refugiaram ali".

O grupo jihadista Estado Islâmico (EI), que instaurou um regime de terror na Síria e no Iraque antes de ser derrotado, anunciou nesta quarta-feira (30) a morte de seu líder, o iraquiano Abu Hassan al-Hashimi al-Qurashi, e a nomeação de um sucessor.

O porta-voz do grupo extremista, Abu Omar al-Muhajir, afirmou em uma mensagem de áudio que o líder foi assassinado ao combater "os inimigos de Deus", mas não deu mais informações sobre as circunstâncias, nem sobre a data de sua morte.

Em seguida, foi nomeado o novo "califa dos muçulmanos", Abu al-Hussein al-Husseini al-Qurashi, acrescentou o porta-voz.

Assim como seus antecessores, o novo dirigente inclui em seu nome o termo "Al-Qurashi", uma referência à tribo do profeta Maomé e que indica que o novo líder é considerado um de seus descendentes.

Segundo o porta-voz, o novo "califa" figura entre os "antigos mujahedines" (combatentes islâmicos) do grupo.

O Estado Islâmico conquistou amplos territórios da Síria e do Iraque em 2014, mas seu autoproclamado "califado" caiu depois de ofensivas em 2017 e 2019.

Mesmo tendo perdido seus bastiões na Síria e no Iraque, o grupo continua reivindicando ataques nesses dois países, por meio de células adormecidas.

A organização jihadista também ampliou sua influência em outras regiões do mundo, como no Sahel, na Nigéria, no Iêmen e no Afeganistão.

- Milhares de prisioneiros -

Depois da derrota do EI no Iraque e na Síria, milhares de supostos jihadistas foram detidos.

O grupo instaurou um regime de terror nas regiões que controlava e impôs uma versão bastante rígida da lei islâmica, a "sharia".

Durante sua existência, o autoproclamado califado realizou inúmeros abusos, alguns deles diante das câmeras. Também perseguiu minorias étnicas e religiosas, como os yazidis no Iraque.

Segundo Hassan Hassan, que escreveu um livro sobre o grupo, um cenário possível, mas "sem precedentes", seria Hashimi ter morrido de forma "acidental" durante um ataque, ou um enfrentamento. Outro cenário seria o de uma informação falsa, acrescentou.

O primeiro líder do grupo, Abu Bakr al-Baghdadi al-Qurashi, foi assassinado durante um ataque americano na Síria em 2019.

Seu sucessor, Abu Ibrahim al-Hachimi al-Qurashi foi abatido em fevereiro, em uma operação das forças especiais dos Estados Unidos no noroeste do país.

Os Estados Unidos lideram uma coalizão militar que luta contra o EI na Síria e continua tendo seus líderes como alvo.

Em outubro, as forças americanas mataram um integrante "sênior" do grupo em uma operação no nordeste da Síria, informou naquele momento o Comando Central dos Estados Unidos (Centcom).

E, em julho, o Pentágono afirmou que tinha assassinado o líder do EI na Síria em um ataque com drones no norte do país. Segundo o Centcom, ele era considerado "um dos cinco" líderes supremos do grupo.

Um britânico acusado de integrar uma célula de sequestros e assassinatos do grupo Estado Islâmico (EI), conhecida como os "Beatles", foi indiciado por terrorismo depois de sua detenção ao retornar ao Reino Unido, informou a polícia.

"Um homem de 38 anos foi acusado de vários crimes de terrorismo após uma investigação do Comando Metropolitano Antiterrorismo", afirmou a polícia em um comunicado.

O detido foi identificado como Aine Davis, que permanece sob custódia policial.

A força de segurança informou que a detenção de Davis aconteceu no momento em que desembarcou no aeroporto de Luton em um voo procedente da Turquia, onde cumpriu uma pena de prisão por crimes de terrorismo.

Os quatro integrantes dos "Beatles", chamados desta maneira por seus sotaques britânicos, são acusados pelo sequestro de ao menos 27 jornalistas e trabalhadores humanitários dos Estados Unidos, Reino Unido, Europa, Nova Zelândia, Rússia e Japão.

Também são suspeitos de tortura e assassinato, inclusive por decapitação, dos jornalistas americanos James Foley e Steven Sotloff, assim como dos trabalhadores humanitários Peter Kassig e Kayla Mueller. Davis publicou vídeos das execuções nas redes sociais.

Dois integrantes do grupo chamado de 'Beatles', Alexanda Kotey (38 anos) e El Shafee Elsheikh (34 anos), foram detidos em janeiro 2018 por uma milícia curda na Síria e entregues às forças americanas no Iraque, antes da transferência para o Reino Unido.

Em 2020 foram extraditados para os Estados Unidos por acusações de sequestro, conspiração para matar cidadãos americanos e apoio a uma organização terrorista estrangeira.

Kotey se declarou culpado de participar nos assassinatos e foi condenado à prisão perpétua em abril, enquanto Elsheikh foi condenado em abril e receberá a sentença na próxima semana.

O quarto membro dos 'Beatles', Mohamed Emwazi, foi morto em um ataque com drone americano em 2015 na Síria.

A esposa de Aine Davis, Amal El Wahabi, foi condenado em 2014 no Reino Unido por financiamento do grupo extremista EI, depois de tentar enviar 20.000 euros (25.000 dólares na época) para o marido na Síria.

A França repatriou nesta terça-feira 35 menores de idade e 16 mães que estavam em campos de prisioneiros jihadistas na Síria desde a queda do grupo Estado Islâmico (EI), anunciou o ministério das Relações Exteriores.

"A França procedeu neste dia o retorno ao território nacional de 35 menores de idade franceses que estavam nos campos do nordeste da Síria e 16 mães", afirma um comunicado oficial.

As mulheres foram entregues às autoridades judiciais, enquanto o serviço de atendimento à infância assumiu a responsabilidade pelos menores de idade, que terão acompanhamento médico, acrescenta a nota.

Ao contrário dos vizinhos europeus, a França reluta em repatriar estas crianças, filhos de jihadistas, mas os que já retornaram levam uma vida normal, uma uma infância recuperada. Desde 2016, o país havia repatriado 126.

Antes da chegada do grupo desta terça-feira, quase 200 menores e 80 mães permaneciam nis campos do nordeste da Síria, controlados pelos curdos, onde as condições de vida são "espantosas", de acordo com a ONU.

Seguindo o exemplo da Alemanha, a Bélgica repatriou no fim de junho quase todas as crianças. A França, no entanto, mantém uma criticada política de conta-gotas.

O ataque do grupo Estado Islâmico (EI) contra uma prisão no nordeste da Síria e os combates entre extremistas e forças curdas deixaram 332 mortos desde 20 de janeiro, informou neste domingo a ONG Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).

No sábado foram registrados confrontos esporádicos entre os curdos - apoiados pelas tropas americanas - e membros do EI que fugiram, perto da prisão de Ghwayran, onde estavam detidos pelos menos 3.500 extremistas de diferentes nacionalidades, segundo a ONG.

O OSDH informou que o ataque, o mais violento do EI desde sua derrota na Síria há três anos, e os combates posteriores provocaram as mortes de 246 extremistas, 79 membros das forças curdas e sete civis.

O aumento do número de mortos desde o balanço anterior foi provocado pela descoberta de mais corpos durante a a operação que as forças curdas estão realizando nos edifícios da prisão e seus arredores, em uma zona sob controle da administração curda semiautônoma, de acordo com o OSDH.

Rami Abdel Rahman, diretor da ONG, afirmou que o balanço pode aumentar porque há vários feridos. Além disso, ele afirmou que, com base em informações confirmadas", foram localizados outros 22 corpos, que ainda não foram identificados.

O porta-voz das Forças Democráticas Sírias (FDS, dominadas pelos curdos), Farhad Shami, afirmou que os corpos serão enterrados em setores "isolados" controlados pelas forças curdas.

As forças curdas retomaram o controle da prisão e centenas de jihadistas, entre presos que fugiram e participantes do ataque, se entregaram ou foram detidos, segundo o OSDH.

Mas dezenas de membros do EI permanecem entrincheirados, especialmente na ala norte da prisão, "difícil de atacar pelo ar ou de acesso por terra", segundo o OSDH.

Shami advertiu que, caso os extremistas não se entreguem, as forças curdas considerariam uma solução "militar".

Uma alemã que viajou para a Síria quando adolescente para se juntar ao grupo jihadista Estado Islâmico (EI) começou a ser julgada por um tribunal de Halle, no leste da Alemanha, nesta terça-feira (25), acusada de cumplicidade em crimes contra a humanidade.

Agora com 22 anos, Leonora Messing está sendo processada por suspeita de que ela e seu marido, membro do EI, escravizaram uma mulher yazidi em 2015, na Síria.

Neste julgamento, que transcorrerá a portas e deve durar até meados de maio, Messing também é acusada de ter-se integrado a uma organização terrorista e de violação de leis sobre armas.

O caso gerou debate na Alemanha sobre como uma garota de 15 anos, de uma pequena localidade, conseguiu se radicalizar e se juntar à causa islâmica.

Messing fugiu de casa em março de 2015 e seguiu para a parte da Síria controlada pelo EI. Ao chegar a Raqa, então "capital" de facto do EI na Síria, tornou-se a terceira esposa de um alemão de sua região.

O pai de Messing, um padeiro da cidade alemã de Breitenbach, soube que sua filha havia se juntado ao islamismo radical ao abrir seu computador e ler seu diário, após seu desaparecimento.

Seis dias depois que ela partiu, seu pai recebeu uma mensagem, informando que sua filha "escolheu Alá e o Islã" e que "chegou ao califado".

- "Boa aluna" -

"Era uma boa aluna", disse seu pai, Maik Messing, à rádio NDR, em 2019. "Ia para um lar para idosos para ler para eles", contou.

A jovem levava uma vida dupla e frequentava, aparentemente sem o conhecimento dos pais, uma mesquita em Frankfurt.

Messing está entre os mais de 1.150 islâmicos que deixaram a Alemanha desde 2011, rumo à Síria e ao Iraque, segundo o governo alemão.

Seu caso despertou especial atenção por sua idade e porque seu pai concordou em colaborar com uma equipe da televisão e da rádio pública regional NDR.

O homem tornou públicas as milhares de mensagens trocadas com a filha, revelando que a jovem tentava, desesperadamente, fugir do "califado".

A Justiça alemã acusa-a de ter trabalhado durante três meses em um hospital do EI em Raqa e de ter "espionado" as esposas de combatentes para os serviços de Inteligência do grupo.

Ela também é acusada de envolvimento em crimes de tráfico de pessoas, pois seu marido "comprou" uma mulher yazidi de 33 anos e depois a vendeu. Após dar à luz duas meninas, Messing acabou detida em um acampamento controlado pelos curdos no norte da Síria.

Seu marido, Martin Lemke, foi capturado em 2019 pelas Forças Democráticas Sírias (FDS), dominadas pelos curdos, contaram Leonora Messing e outra de suas esposas à AFP.

A jovem foi repatriada em dezembro de 2020 e detida ao chegar ao aeroporto de Frankfurt. Depois, foi liberada.

"O Daesh é o Talibã, mas ainda pior". Um dia após o atentado contra um hospital de Cabul reivindicado pelo Estado Islâmico, os moradores da capital do Afeganistão temem o novo inimigo, que utiliza os antigos métodos talibãs contra os atuais governantes do país.

"Os talibãs nos chamavam de infiéis. Agora são eles que morrem porque são considerados infiéis pelo EI", resume um comerciante no bairro do hospital militar atacado, ainda em estado de sítio.

"E nesta guerra, eles não têm nenhuma chance de ganhar", analisa.

Na rua do hospital, onde pelo menos 19 pessoas morreram na terça-feira, segundo um balanço que não é definitivo, um funcionário da limpeza joga água sobre as machas de sangue.

Um guarda talibã aponta com o fuzil para a cerca de arame farpado que ainda têm restos mortais.

"Nós falamos para que não deixassem que veículos circulassem por esta rua. O hospital já havia sido atacado, mas não nos escutaram", disse à AFP um médico que pediu anonimato.

O hospital foi alvo de um ataque em março de 2017, executado por criminosos com uniformes médicos. A ação também foi reivindicada pelo EI.

Durante seis horas eles massacraram as pessoas dentro do edifício. O balanço foi de dezenas de mortos, mas algumas fontes das forças de segurança citaram mais de 100 vítimas fatais.

- Ataque após o atentado -

Para o médico do hospital militar, "Daesh (o acrônimo árabe do EI) e o Talibã são as duas orelhas da mesma cabeça de burro".

"Não sei dizer a diferença, eles têm a mesma barba, a mesma roupa. Para mim, eles são religiosos que atacam os que são diferentes deles, aqueles que não foram educados na religião como eles".

Mas ao falar sobre os métodos, ele tem uma definição: "O Daesh é o Talibã, mas ainda pior. Seus ataques são ainda mais complicados e perigosos".

Desta vez, uma moto-bomba se aproximou da entrada principal do hospital e o piloto detonou a carga explosiva. Em seguida, homens armados abriram fogo e entraram no local.

Após 20 minutos, quando as forças especiais dos talibãs chegaram ao hospital, outro carro-bomba, com aspecto de táxi, apareceu no local, de acordo com testemunhas.

A tática de executar um segundo ataque aproveitando a confusão do primeiro, utilizada pelos talibãs quando eram insurgentes e não aceitavam o governo apoiado pelo Ocidente, virou o pesadelo dos habitantes de Cabul.

"Depois da primeira explosão, eu vi pessoas feridas, mas não podia socorrê-los porque sabia que aconteceria uma segunda explosão, e aconteceu", relata o médico.

- Talibãs inquietos -

Já presentes no resto da cidade, as patrulhas de talibãs armados até os dentes foram enviadas ao local do ataque. Param veículos, verificam documentos, inspecionam as malas.

Hazrat Noor, fazendeiro da região de Yauzyan (norte) que está há várias semanas no hospital de Cabul, afirmou que "não se sentia tão seguro há 40 anos".

"O Daesh não ousará voltar a atacar. Era sua última tentativa, os talibãs são fortes, têm o controle em todos os lados. O Daesh não é nada", afirma o idoso, com uma roupa tipicamente talibã.

Mas os talibãs exibiam uma inquietação um dia após o ataque. Os guardas solicitavam aos jornalistas que evitassem aglomeração "porque a área não estava limpa" e dirigiam olhares suspeitos a qualquer pessoa que se aproximasse do perímetro.

Responsável pela segurança na área, Mohamad Torbi, que estava no local no momento do atentado, afirmou que consegue reconhecer os membros do EI "porque têm sotaque e comportamento diferente".

"Mas ontem estavam com nossos uniformes", explica.

A adolescente afegã Amena viu dezenas de colegas de classe morrerem quando sua escola foi alvo de um ataque do Estado Islâmico, em maio. Mesmo assim, ela queria continuar estudando, mas os talibãs proibiram.

Os novos líderes do Afeganistão não permitem que a maioria das estudantes do ensino fundamental retomem as aulas. "Queria estudar, ver meus amigos e construir meu futuro, mas não tenho mais esse direito", lamenta Amena, 16, com quem a AFP conversou em Cabul. “Desde a chegada dos talibãs, estou triste e com raiva.”

Em 18 de setembro, os novos dirigentes islâmicos do Afeganistão permitiram que professores homens e meninos a partir de 13 anos voltassem às aulas, mas não as professoras e meninas. Posteriormente, informaram que permitiriam que as meninas voltassem aos centros de ensino fundamental uma vez garantida a divisão por gênero nas salas de aula, o que já era feito.

Algumas jovens puderam retornar aos institutos, como na província de Kunduz, mas a grande maioria permanece sem acesso à educação. Já as escolas primárias foram reabertas a todas as crianças.

- 'Por que não podemos estudar?' -

Amena reside perto da escola Sayed Al-Shuhada, onde 85 pessoas, a maioria adolescentes, foram mortas em ataques a bomba cuja autoria foi reivindicada pelo grupo Estado Islâmico. "Ainda assim, queria voltar para o colégio", diz.

Em vez disso, a jovem vive fechada em casa, com alguns livros e "nada de especial para fazer". Ele sonhava em ser jornalista, mas "agora já não há esperança no Afeganistão".

Os irmãos mais velhos de Amena a ajudam em casa, e de vez em quando ela é atendida pela psicóloga que cuida de sua irmã mais nova, traumatizada após o ataque à escola. “Meu irmão traz livros de história e eu os leio”, conta a jovem. "E sempre vejo as notícias."

Amena não entende por que as meninas têm acesso proibido ao ensino fundamental. "Elas também têm o direito de estudar, são metade da sociedade. Não há diferença entre nós."

Após a invasão dos Estados Unidos que expulsou os talibãs, em 2001, houve avanços na educação das meninas. O número de escolas triplicou e a taxa de alfabetização das mulheres quase dobrou, para 30%. Mas a mudança limitou-se às cidades.

“As mulheres afegãs tiveram grandes conquistas nos últimos 20 anos”, diz Nasrin Hasani, professora de 21 anos, que trabalhava em uma escola do ensino fundamental e se transferiu para uma escola primária. Mas a situação atual "mina nosso moral e o dos alunos. Que eu saiba, o islã nunca criou obstáculos à educação e ao trabalho das mulheres."

Nasrin não foi intimidada pelos talibãs, mas a Anistia Internacional informou que uma professora de educação física havia recebido ameaças de morte e sido convocada a um tribunal local por ensinar a prática de esportes a crianças.

Nasrin se apega à esperança de que os talibãs de 2021 sejam "um pouco diferentes" dos que estiveram no poder entre 1996 e 2001, que proibiam as mulheres de sair sozinhas.

- Sonhos enterrados -

Zainab, 12, lembra-se do dia em que as crianças puderam voltar para a escola. Ela os viu pela janela, com "uma sensação ultrajante". “Eu era feliz na escola”, conta. "Podia estudar o dia todo e sonhar com o futuro. Agora, as coisas pioram a cada dia."

“Se as escolas não reabrirem logo, o ano letivo irá terminar e não poderemos passar de ano", lamenta a menina, cujo nome foi alterado para proteger sua identidade.

Malalay, 16, irmã de Zainab, diz, emocionada, que sente "desespero e medo". “Não saímos, não vamos à escola, está tudo ruim. Os homens não deveriam me privar dos meus direitos. Tenho o direito de frequentar o colégio e a universidade. Todos os meus sonhos e projetos foram enterrados", lamenta.

Os talibãs anunciaram, nesta segunda-feira (4), que destruíram uma célula do Estado Islâmico (EI) na capital afegã, Cabul, horas depois de um suposto ataque da organização jihadista contra uma mesquita que deixou cinco mortos.

O porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, disse que os combatentes fizeram a operação no norte de Cabul na noite de domingo (3).

"Como resultado da operação, que foi muito decisiva e bem-sucedida, o centro do EI foi completamente destruído, e os membros do EI em seu interior morreram", tuitou Mujahid.

Testemunhas e jornalistas da AFP ouviram explosões e disparos na capital no momento do assalto, enquanto imagens publicadas nas redes sociais mostravam uma grande explosão e fogo no local.

Abdul Rahaman, um funcionário do governo em Cabul, disse à AFP que um "grande número" de membros das forças especiais dos talibãs atacou pelo menos três casas em seu bairro.

"Os confrontos continuaram por várias horas", disse ele, acrescentando que não conseguiu dormir pelo som dos tiros.

"Não sei quantos morreram, ou foram presos, mas o combate foi intenso", completou.

A operação foi lançada horas depois de um ataque mortal a um lugar de oração na mesquita de Eid Gah, em memória da mãe de Mujahid, o porta-voz talibã. Ela faleu na semana passada.

Um funcionário da comissão cultural do governo, que pediu para não ser identificado, disse à AFP que cinco pessoas foram mortas, e 11 ficaram feridas. As baixas incluem civis e talibãs.

"Também prendemos três pessoas ligadas à explosão", acrescentou.

Segundo a mesma fonte, o artefato foi colocado na entrada da mesquita. Explodiu no momento em que as pessoas saíam, depois de apresentarem suas condolências a Mujahid e sua família.

Nesta segunda-feira, Mujahid disse à AFP que uma investigação está em andamento, mas que "a informação inicial sugere que grupos ligados ao EI cometeram o ataque".

Tanto os talibãs quanto o braço afegão do EI, conhecido como Estado Islâmico-província de Khorasan, são islâmicos sunitas de linha-dura. Divergem, porém, em temas como religião e estratégia, o que já provocou sangrentos confrontos entre eles.

As Forças Armadas francesas que atuam na região africana do Sahel mataram o líder do grupo Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS), Adnan Abu Walid al-Sahraoui, procurado pelos Estados Unidos por ataques mortais contra seus soldados e trabalhadores humanitários estrangeiros.

"Adnan Abu Walid al-Sahraoui, chefe do grupo terrorista Estado Islâmico no Grande Saara, foi neutralizado pelas forças francesas", anunciou o presidente francês Emmanuel Macron no Twitter na manhã desta quinta-feira (16).

"Este é um novo grande sucesso na luta contra grupos terroristas no Sahel", acrescentou Macron.

Walid al-Sahraoui, ex-membro da Frente Polisario saaraui, fundou o EIGS em 2015 depois de deixar o movimento da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico e jurar lealdade ao EI, que na época controlava territórios no Iraque e na Síria.

Este grupo extremista foi identificado pela França como um "inimigo prioritário" no Sahel.

De acordo com a ministra da Defesa francesa, Florence Parly, o líder do EIGS, considerado responsável pela maioria dos atentados cometidos no Mali, Níger e Burkina Faso, "morreu após um ataque da força Barkhane", uma operação implantada pela França na extensa zona árida da região do Sahel.

"Representa um golpe decisivo contra este grupo terrorista", opinou a ministra no Twitter.

"O ataque ocorreu há algumas semanas e hoje temos certeza de que era o número um do EIGS", explicou Parly à rádio RFI, sem especificar o local da operação.

Walid al-Sahraoui era "quem procurávamos, visto que era o líder autoritário, indiscutível e sem rival" dentro do grupo islamita.

"Quando se elimina um elo fundamental da corrente, se interrompe e se enfraquece esses grupos terroristas", frisou a ministro, que afirmou que o segundo e o terceiro no comando do EIGS já haviam sido "neutralizados" durante a primavera e o verão.

- Série de assassinatos -

Walid al-Sahraoui, que esteve por trás da morte de trabalhadores humanitários franceses em 2020, também estava sendo caçado pelos Estados Unidos por uma emboscada em outubro de 2017 no sudoeste do Níger, perto de Mali, na qual quatro soldados de suas forças especiais e quatro nigerianos foram mortos.

Esta área é palco habitual de ações de dois grupos terroristas islâmicos: o Estado Islâmico no Grande Sahara (EIGS) e o Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos, ligado à Al-Qaeda.

O EIGS realizou ataques particularmente mortais contra civis e militares na chamada "zona das três fronteiras".

Os Estados Unidos até ofereceram uma recompensa de US $ 5 milhões por informações sobre o paradeiro de Sahraoui.

Em 9 de agosto de 2020, no Níger, o chefe do grupo ordenou pessoalmente o assassinato de seis trabalhadores humanitários franceses e do guia e motorista nigerianos que os acompanhavam.

No final de 2019, o grupo realizou uma série de ataques em grande escala contra bases militares no Mali e no Níger.

Ex-membro do movimento de independência da Frente Polisario do Saara Ocidental, Sahraoui juntou-se à Al-Qaeda no Magrebe Islâmico e também co-liderou o Mujao, um grupo islamita do Mali responsável pelo sequestro de trabalhadores humanitários espanhóis na Argélia e de um grupo de diplomatas argelinos no Mali em 2012.

O Exército francês matou vários membros do alto escalão do EIGS como parte de sua estratégia de atacar os líderes extremistas no âmbito de sua operação militar no Mali.

Após oito anos de ações no Sahel, Macron anunciou em junho uma redução da presença militar francesa na área e o fim da operação Barkhane.

Os ataques do Estado Islâmico (EI) no Afeganistão devem acabar com a saída das tropas americanas do país ou o novo governo atuará para reprimir este grupo, afirmou à AFP um porta-voz do Talibã.

O grupo extremista Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), que há vários anos executa atentados fatais no Afeganistão e Paquistão, reivindicou o ataque de quinta-feira passada nos arredores do aeroporto de Cabul, onde estavam milhares de candidatos ao exílio após a tomada de poder em 15 de agosto pelos talibãs.

O ataque, que provocou mais de 100 mortes (incluindo 13 militares americanos), aconteceu menos de uma saída antes da data-limite para a saída das tropas americanas, estabelecida pelo presidente Joe Biden para 31 de agosto, após duas décadas de presença no país.

O EI-K também reivindicou o ataque desta segunda-feira (30) com foguetes contra o aeroporto de Cabul.

"Esperamos que os afegãos sob influência do EI (...) abandonem suas operações assim que observarem a entrada em vigor de um governo islâmico após a saída das potências estrangeiras", declarou o principal porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, em uma entrevista concedida à AFP no fim de semana.

"Se criarem uma situação de guerra e continuarem com suas operações, o governo islâmico... vai cuidar deles", advertiu Mujahid.

Os talibãs prometeram a paz com sua chegada ao poder, depois que foram expulsos do governo há duas décadas.

As forças dos Estados Unidos executaram vários ataques aéreos no fim de semana contra alvos do EI-K. No domingo anunciaram que destruíram um carro-bomba nas proximidades do aeroporto de Cabul.

As operações irritam os talibãs. "Eles não têm permissão para executar este tipo de operação (...) Nossa independência deve ser respeitada", afirmou Mujahid.

O EI-K é o braço local do EI e há vários anos protagoniza ataques mortais tanto no Afeganistão como no Paquistão, matando civis em mesquitas, escolas e hospitais.

- "Problemas técnicos" -

Os membros do EI-K são partidários de uma linha radical sunita similar a do Talibã, mas divergem no plano teológico e estratégico. Os dois grupos disputam o protagonismo da jihad.

Como símbolo da forte inimizade entre ambos, O EI classificou os talibãs como apóstatas em vários comunicados e não felicitou o movimento pela tomada de Cabul em 15 de agosto.

À medida que avançavam militarmente nas últimas semanas, os talibãs abriram as prisões e libertaram, sem qualquer controle, tanto os seus combatentes como a os militantes do EI, uma decisão que cada vez mais é considerada um grande erro estratégico.

Os talibãs, que se esforçam para mostrar uma imagem de abertura e moderação, prometeram criar um governo "representativo", mas apenas quando as tropas estrangeiras deixarem o país.

As negociações sobre a formação do novo Executivo prosseguem em Cabul.

"É importante anunciar o governo, mas isto exige paciência. Estamos fazendo consultas para formar de maneira responsável um governo", explicou Zabihullah Mujahid, que citou "alguns problemas técnicos", sem revelar detalhe.

No momento, o país está parado. Bancos, serviços governamentais e outras instituições públicas estão, em sua maioria, fechados. Vários funcionários públicos afirmaram à AFP que o Talibã impede seu retorno ao trabalho.

"Os estudantes de religião" prometeram melhorar a economia afegã, mas, sem acesso à ajuda internacional e aos recursos mantidos no exterior, o futuro de um dos países mais pobres do mundo se anuncia complexo.

As tropas dos Estados Unidos executaram neste sábado (28) um ataque com drone contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI) no Afeganistão, ao mesmo tempo em que prossegue a reta final da retirada no aeroporto de Cabul, sob a ameaça de novos atentados.

"O ataque aéreo não tripulado ocorreu na província afegã de Nangahar. Os primeiros indícios apontam que matamos o alvo", afirmou em um comunicado o capitão Bill Urban, do Comando Central. "Não sabemos de nenhuma vítima civil", acrescentou o militar.

O ataque, executado de fora do Afeganistão, foi o primeiro do exército americano após o atentado suicida de quinta-feira no aeroporto de Cabul.

Fontes vinculadas ao ministério da Saúde do governo afegão derrubado pelos talibãs informaram neste sábado que o balanço do ataque superou 100 mortes, incluindo 13 soldados americanos. Alguns meios de comunicação citam mais de 170 vítimas fatais.

Após o ataque reivindicado pelo Estado Islâmico de Khorasan (EI-K), o braço do grupo extremista no Paquistão e Afeganistão, o presidente Joe Biden prometeu represálias.

"Vamos persegui-los e faremos com que paguem", afirmou em um discurso após o ataque mais violento contra o exército americano no Afeganistão desde 2011.

O risco de atentados persiste, segundo Washington. "Ainda acreditamos que há ameaças específicas", advertiu na sexta-feira John Kirby, porta-voz do Departamento de Defesa americano.

A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou que outro ataque era "provável" e que os próximos dias serão "o período mais perigoso até agora".

Controle do aeroporto

Na sexta-feira à noite, como na véspera do atentado, a embaixada dos Estados Unidos em Cabul pediu a seus cidadãos que abandonem "imediatamente" as proximidades do aeroporto.

"Devido a ameaças à segurança no aeroporto de Cabul, continuamos aconselhando os cidadãos americanos que evitem comparecer ao local e evitem os portões do aeroporto", afirmou a embaixada.

Várias mensagens contraditórias dos talibãs e americanos aumentaram a tensão a poucos dias da data-limite de 31 de agosto, prevista para a conclusão da retirada das tropas estrangeiras do Afeganistão após 20 anos de guerra, o que também marcará o fim das operações de saída.

Os talibãs, por meio do porta-voz Bilal Karimi, afirmaram que controlam "três importantes áreas da parte militar do aeroporto" de Cabul.

Pouco depois, o porta-voz do Pentágono, John Kirby, negou que os talibãs estejam no comando de qualquer portão ou "de qualquer operação do aeroporto".

Apesar da tensão, os voos de repatriação das potências ocidentais foram retomados na sexta-feira, mas em um ritmo menor que nos dias anteriores.

Retiradas até o último momento

O aeroporto ainda tem 5.400 pessoas que aguardam para deixar o país, informou o general americano Hank Taylor, antes de destacar que as retiradas prosseguirão "até o último momento".

Mais de 109.000 pessoas saíram do país pelo aeroporto desde 14 de agosto, um dia antes da entrada dos talibãs em Cabul, segundo o governo americano.

A Otan e a União Europeia solicitaram a continuidade das retiradas, apesar do atentado, mas vários países concluíram os voos a partir da capital afegã.

Um dos últimos foi a França que, no entanto, anunciou negociações com os talibãs para poder continuar com a retirada de afegãos depois de 31 de agosto.

Suíça, Itália, Espanha, Suécia, Alemanha, Holanda, Canadá e Austrália anunciaram o fim da missão.

O primeiro-ministro britânico Boris Johnson afirmou que as operações do país estavam nas "últimas horas", mas se comprometeu a fazer de tudo para ajudar na saída dos afegãos aptos a pedir asilo. A Itália foi o país da UE que mais retirou pessoas do Afeganistão, com 4.900, segundo o governo de Roma.

"Direito inato" a trabalhar

Em seu retorno ao poder, os talibãs tentam mostrar uma imagem de abertura e moderação. Muitos afegãos, no entanto, temem a repetição do regime fundamentalista e brutal imposto entre 1996 e 2001.

O temor é ainda melhor a respeito da situação das mulheres, que no regime anterior foram impedidas de trabalhar e estudar.

Em uma tentativa de aplacar os medos, um representante talibã afirmou que as mulheres têm o "direito inato" a trabalhar.

"Podem trabalhar, podem estudar, podem participar na política e podem fazer negócios", declarou Sher Mohammad Abbas Stanikzai, que foi o negociador dos islamitas nas frustradas negociações de paz de Doha.

A ONU fez neste sábado um apelo urgente aos doadores para que ajudem os agricultores afegãos a lutar contra a seca, que ameaça reduzir os meios de subsistência de sete milhões de pessoas.

A seca, a pandemia de covid-19 e o deslocamento da população provocado pela ofensiva dos talibãs "afetaram duramente as comunidades rurais do Afeganistão", alertou em um comunicado a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Quase 14 milhões de afegãos, incluindo dois milhões de crianças, sofrem atualmente de insegurança alimentar grave. Isto representa um terço dos afegãos. Três milhões de animais estão em perigo.

A Rússia condenou, nesta sexta-feira (27), "nos mais duros termos", o atentado suicida reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI), cometido ontem nos arredores do aeroporto de Cabul e que deixou 85 mortos - declarou o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov.

"Infelizmente, as pessimistas previsões que antecipavam que grupos terroristas, em especial o EI, iriam se aproveitar do caos do Afeganistão se confirmaram", disse Peskov à imprensa.

"O perigo é muito grande para todos (...)", acrescentou o porta-voz, que classificou como uma "notícia muito triste" o número de mortos.

Pelo menos 85 pessoas morreram, incluindo 13 soldados americanos, e mais de 160 ficaram feridas no atentado cometido ontem no aeroporto de Cabul.

Tudo isso, completou Peskov, "soma tensões" no Afeganistão, país onde os talibãs recuperaram o poder em 15 de agosto, após uma meteórica campanha militar.

A Rússia tem-se posicionado com cautela em relação ao novo governo talibã. Nesse sentido, ao contrário de outras nações ocidentais, não esvaziou sua embaixada no Afeganistão.

O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) reivindicou nesta quinta-feira a autoria do ataque da véspera contra um ônibus que causou a morte de 37 soldados do Exército sírio, anunciou a agência americana Site, especializada na vigilância dos grupos jihadistas.

"Os soldados do califado (EI) armaram uma emboscada contra um ônibus que transportava soldados do Exército dos renegados", informa um comunicado da agência de propaganda do EI, reproduzido pela Site. Os jihadistas "os atacaram com armas pesadas e usaram múltiplos artefatos explosivos, o que provocou a destruição do ônibus e a morte de cerca de 40 pessoas, além de outros feridos", assinala o texto.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), que já havia atribuído a autoria do ataque ao grupo jihadista, informou ontem que 37 soldados haviam morrido e outros 12, ficado feridos no ataque, ocorrido na província de Deir Ezzor. A agência de notícias oficial Sana, por sua vez, referiu-se a um "ataque terrorista" contra um ônibus que matou 25 cidadãos e deixou 13 feridos.

Após ter autoproclamado seu califado em 2014 em algumas partes do território sírio e iraquiano, o EI sofreu uma derrota atrás da outra antes de perder o controle da maioria de seus territórios na Síria em março de 2019.

Apesar da derrota, grupos jihadistas continuam cometendo atentados contra soldados do exército sírio ou das milícias curdas na província central de Homs ou na de Deir Ezzor, na fronteira com o Iraque.

A província de Salaheddin declarou neste domingo (22) três dias de luto, após a morte de 10 pessoas em um ataque jihadista que provocou críticas contra as forças iraquianas por não conseguirem eliminar as células clandestinas do Estado Islâmico (EI).

Na sexta-feira, o chefe da polícia federal, o general Jaafar Al-Batat, celebrou o "sucesso da operação de segurança total do monte Makhul", a cerca de 200 km ao norte de Bagdá, em declarações à agência oficial iraquiana.

No dia seguinte à noite, o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) respondeu com uma bomba colocada na beira da estrada que explodiu quando um carro de civis passava.

Quando a polícia e membros do Hashd Al-Shaabi - coalizão de paramilitares agora integrados ao Estado - chegaram ao local, os jihadistas dispararam contra eles.

Seis militares e quatro civis morreram nessa emboscada dos jihadistas. Cerca de dez dias antes, outros onze iraquianos, incluindo combatentes do Hashd Al-Shaabi (Unidades de Mobilização Popular, PMU), morreram em um ataque com granada em um posto militar na entrada oeste de Bagdá.

Esses são números altos para um país que não sofria grandes atentados desde o anúncio da vitória sobre o EI há três anos.

- Ressurgimento jihadista -

O modus operandi, com granadas, bombas colocadas na beira da estrada ou com armas leves, ainda é simples, dizem os militares iraquianos ou estrangeiros da coalizão anti-jihadista liderada pelos Estados Unidos.

Mas isso não impede, segundo os especialistas, que o ramo iraquiano do EI seja atualmente o mais ativo do grupo, que perdeu em 2019 seu "califado" territorial autoproclamado na Síria.

"Suas atividades aumentaram rapidamente desde fevereiro de 2020", detalha um estudo publicado em novembro pelo Centro Internacional de Contraterrorismo de Haia.

Este aumento dos ataques lembra "o ressurgimento de 2012" e traz à tona a nova estratégia do EI: "passar da fase de reconstrução para a de ataques relâmpago do tipo guerrilha contra as forças de segurança e seus apoios", afirma o estudo.

"Os ataques do EI em áreas remotas são casos isolados, agora sob controle", celebrou o general Batat nos meios de comunicação estatais na sexta-feira.

Mas para Jamal al-Dhari, um político sunita, a emboscada de sábado "evidencia os repetidos fracassos do combate ao terrorismo" e "o governo de Mustafa al-Kazami deve seriamente implementar uma estratégia nacional".

Os últimos ataques ocorreram após o anúncio dos Estados Unidos da retirada em breve de 500 de seus soldados implementados no Iraque, para deixar apenas 2.500.

Os Estados Unidos vão reduzir a quantidade de militares no Afeganistão e no Iraque ao seu menor número em 20 anos depois de o presidente Donald Trump se comprometer a pôr um fim aos conflitos do país no exterior, anunciou o Pentágono na terça-feira (17), gerando preocupações de segurança.

Rejeitando o risco de que se destrua o que foi conseguido pelos Estados Unidos na região, o secretário interino da Defesa, Chris Miller, disse que 2 mil soldados vão deixar o Afeganistão em 15 de janeiro. Outros 500 retornarão do Iraque na mesma data, deixando 2,5 mil em cada país.

A retirada reflete o desejo de Trump "de pôr um fim de forma exitosa e responsável às guerras no Afeganistão e no Iraque e trazer nossos corajosos soldados para casa", disse Miller.

O secretário informou que já foi alcançada a meta estabelecida em 2001, após os ataques da Al Qaeda contra os Estados Unidos, de derrotar os extremistas islâmicos e ajudar "seus parceiros locais e aliados a liderar a luta".

O porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, declarou à AFP que a retirada "é um bom passo e é ótimo para os povos de ambos os países", tanto Estados Unidos quanto Afeganistão.

Terminar com as guerras sem fim

A decisão aproxima os Estados Unidos de se desvincularem de conflitos que desde 2001 atravessaram três presidentes e não têm um fim à vista.

O anúncio foi feito faltando dois meses para que o republicano Trump transfira o poder ao democrata Joe Biden em 20 de janeiro.

Diante da observação de que Trump estaria agindo abruptamente após sua derrota eleitoral, o assessor de segurança da Casa Branca, Robert O'Brien, disse que a retirada das tropas estava planejada há tempos.

"Há quatro anos, o presidente Trump fez campanha prometendo terminar as guerras sem fim para os Estados Unidos. Hoje, o Pentágono só anunciou que o presidente Trump cumpriu com a promessa feita ao povo".

Trump "espera que por volta de maio todos tenham voltado sãos e salvos".

Foguetes em Bagdá

A decisão foi divulgada dez dias depois de Trump destituir o secretário da Defesa Mark Esper, que insistia em deixar 4,5 mil soldados no Afeganistão para apoiar o governo de Cabul.

Esper reduziu a quantidade de 13 mil soldados americanos desde o acordo de 29 de fevereiro entre os Estados Unidos e a insurgência talibã.

Os talibãs e o governo afegão iniciaram negociações de paz após um acordo assinado entre Washington e os insurgentes, que envolve a retirada das forças americanas até meados de 2021.

Mas até a destituição de Esper, o Pentágono alegava que os talibãs não tinham cumprido sua promessa de reduzir os ataques violentos contra as forças afegãs e advertiu que estes ataques seriam intensificados com menos tropas americanas.

Sediq Sediqqi, porta-voz do presidente Ashraf Ghani, confirmou por sua vez no Twitter que Ghani falou por telefone com Miller sobre "o contínuo e significativo apoio militar americano às Forças de Defesa e Seguraça afegãs".

No Iraque, a administração Trump anunciou a redução do número de soldados em meio a um ataque com foguetes lançados por grupos aliados ao Irã contra a embaixada americana e bases militares americanas.

Nesta terça, uma salva de foguetes foi disparada contra a Zona Verde de Bagdá, onde fica a embaixada dos Estados Unidos, rompendo uma trégua de um mês nos ataques contra a representação diplomática.

Sob a condição de não ser identificado, um alto funcionário da Defesa minimizou o risco de ressurgimento de grupos extremistas como Al Qaeda e Estado Islâmico.

"Os profissionais do serviço militar estão de acordo de que esta é a decisão correta", disse este funcionário.

"A Al Qaeda está no Afeganistão há décadas e a realidade é que seríamos uns tolos se disséssemos que vão embora amanhã", completou.

'Saída humilhante'

Funcionários americanos e estrangeiros advertiram que uma retirada precipitada das tropas poderia ajudar grupos extremistas como Al Qaeda e Estado Islâmico.

O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, disse na segunda-feira que a redução de tropas provocará um fracasso como "a humilhante saída americana do Vietnã", em 1975, e se tornará uma vitória propagandística dos extremistas.

O chefe da Otan, Jens Stoltenberg, considerou que o Afeganistão pode "voltar a ser uma base para os terroristas internacionais".

O ministro das Relações Exteriores alemão, Heiko Maas, afirmou que Berlim está preocupada pois o anúncio dos Estados Unidos "pode significar que as negociações de paz prossigam", alertando também contra uma "retirada precipitada".

Desde o lançamento das ofensivas militares em 2001 no Afeganistão e no Iraque, dois anos depois, mais de 6.900 militares americanos morreram e mais de 52.000 ficaram feridos nos dois países, segundo o Pentágono.

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