Hackers atacam sites da junta militar em Mianmar
A ação virtual aconteceu um dia depois das manifestações que reuniram dezenas de milhares de pessoas no país para protestar contra o golpe de Estado que derrubou o governo civil de Aung San Suu Kyi
Hackers atacaram nesta quinta-feira (18) sites governamentais administrados pela junta militar em Mianmar, em resposta ao bloqueio noturno da Internet estabelecido pelas autoridades militares e ao aumento das detenções.
Um grupo que se apresenta como "Hackers de Mianmar" atacou várias páginas do governo, incluindo a do Banco Central, o site de propaganda do Exército birmanês, o endereço do canal público MRTV, da autoridade portuária e o site da agência de segurança alimentar e de saúde.
A ação virtual aconteceu um dia depois das manifestações que reuniram dezenas de milhares de pessoas no país para protestar contra o golpe de Estado que derrubou o governo civil de Aung San Suu Kyi em 1o de fevereiro.
"Lutamos por justiça em Mianmar", afirmou o grupo de hackers em sua página do Facebook. "É como uma grande manifestação diante dos sites do governo", completaram.
Em Yangon, os motoristas bloquearam os tráfego nesta quinta-feira, pelo segundo dia consecutivo, em uma tentativa de impedir o avanço das forças de segurança.
Carros e ônibus ficaram parados ao redor de uma ponte do distrito de Dagon Norte, enquanto os manifestantes pediam para que as pessoas não seguissem até o trabalho e se unissem ao movimento de desobediência civil.
- Centenas de detenções -
Na segunda maior cidade do país, Mandalay (centro), a polícia e o Exército dispersaram os manifestantes que bloqueavam o tráfego ferroviário, de acordo com testemunhas. Uma fonte dos serviços de emergência afirmou que as forças de segurança abriram fogo, mas não tinha condições de saber se eram balas de borracha, ou munição letal.
Quatro condutores de trem foram detidos na cidade, segundo a Associação de Ajuda aos Presos Políticos (AAPP), que tem sede em Yangon. O grupo denunciou mais de 500 detenções desde o golpe militar no primeiro dia do mês.
Onze funcionários do Ministério das Relações Exteriores foram detidos nesta quinta-feira por participação no movimento de protesto, informou uma fonte da pasta à AFP.
Um policial, que pediu anonimato, afirmou que pelo menos 50 funcionários do governo foram detidos nos últimos quatro dias.
O canal de televisão estatal MRTV também anunciou ordens de detenção contra vários atores, cineastas e um cantor, acusados de utilizar sua popularidade a serviço do movimento de protesto.
Os militares intensificaram as ameaças desde o golpe de 1o de fevereiro, quando acabaram com 10 anos de frágil transição democrática.
- Tráfego de internet reduzido -
Na quarta-feira à noite, a junta militar impôs uma espécie de toque de recolher na Internet que reduziu o tráfego a 21% do nível habitual, segundo o observatório NetBlocks, grupo que registra as restrições na rede e tem sede no Reino Unido.
O medo de represálias está presente entre os habitantes do país, que viveu quase 50 anos sob ditadura militar desde sua independência em 1948.
As forças de segurança já usaram balas de borracha e gás lacrimogêneo contra os manifestantes em várias ocasiões.
Uma mulher de 20 anos, atingida na cabeça na semana passada - provavelmente com munição letal - teve a morte cerebral anunciada. Um policial faleceu na terça-feira, devido aos ferimentos que sofreu durante um protesto em Mandalay.
Apesar do medo, os apelos por desobediência civil prosseguem: médicos, professores, controladores aéreos e trabalhadores do sistema ferroviário estão em greve contra o golpe.
Em Naypyidaw, a capital administrativa, a ex-chefe do governo civil Aung San Suu Kyi, de 75 anos, está em prisão domiciliar.
Suu Kyi, já processada por infringir uma obscura norma comercial ao importar "ilegalmente" walkie-talkies, enfrenta uma nova acusação por violar "a lei sobre a gestão de desastres naturais", segundo seu advogado, que ainda não conseguiu falar com a cliente. A audiência está prevista para 1o de março.
Os generais ignoram as críticas internacionais e as sanções anunciadas por Washington. Eles contam com dois apoios importantes na ONU: China e Rússia, países que consideram a crise atual "um assunto interno" birmanês.