Governo dos EUA insiste em negociar acordo nuclear com Irã
As autoridades iranianas disseram que não consideravam o "momento apropriado" para conversações e protestaram pelas 'posições e ações recentes dos EUA' e dos signatários do acordo nuclear assinado em 2015
O governo americano disse nesta segunda-feira (1°) que continua pronto para se reunir com o Irã, apesar de Teerã ter rejeitado um diálogo direto com Washington. "Dissemos claramente que os EUA estão preparados para se reunir com o Irã para abordar o modo de alcançar um retorno mútuo (ao acordo nuclear)", declarou ontem o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price.
"Não somos dogmáticos sobre a forma e o formato dessas conversações", disse Price à imprensa, acrescentando que o governo americano consultaria seus sócios europeus sobre a questão.
As autoridades iranianas disseram que não consideravam o "momento apropriado" para conversações e protestaram pelas "posições e ações recentes dos EUA" e dos signatários do acordo nuclear assinado em 2015, referindo-se aos ataques da semana passada do governo americano contra grupos pró-Irã na Síria, acusados de disparar foguetes contra interesses de Washington no Iraque.
O Irã disse ontem que os EUA deveriam suspender primeiro as sanções se querem conversar para salvar o acordo nuclear, que o ex-presidente Donald Trump abandonou em maio de 2018. "O governo do presidente Joe Biden deveria mudar a política de pressão máxima de Trump com relação a Teerã. Se querem conversar com o Irã, primeiro deveriam suspender as sanções", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Saeed Khatibzadeh.
O presidente americano, Joe Biden, afirmou que Washington está disposto a conversar sobre a retomada dos compromissos das duas nações com o pacto, segundo o qual Teerã obtém um alívio das sanções limitando suas atividades nucleares. Mas, enquanto o Irã exige a suspensão das sanções dos EUA primeiro, Washington diz que Teerã precisa voltar a cumprir o acordo, que Teerã vem desrespeitando progressivamente desde 2019. Ocidente teme que o Irã tente fabricar armas nucleares, enquanto a República Islâmica assegura que esse nunca foi seu objetivo.
A chancelaria iraniana exortou ontem o Conselho de Governadores de 35 nações da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) a não "criar uma confusão" endossando uma iniciativa liderada pelos EUA para a adoção de uma resolução contra a decisão de Teerã de reduzir sua cooperação com a agência da ONU.
A reunião em Viena ocorreu ontem após o Irã promulgar uma lei, no fim de janeiro, que restringiu o acesso de inspetores a alguns locais, já que Teerã reclama que não está obtendo as recompensas econômicas prometidas em troca de restrições ao seu programa nuclear.
O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, pediu ontem que as inspeções às instalações nucleares do Irã não sejam usadas como uma "moeda de troca", em meio aos esforços para reviver seu acordo nuclear.
Segundo relatório da AIEA, de janeiro, o Irã informou que começou a produzir urânio metálico, que pode ser usado para desenvolver ogivas nucleares. Trata-se de uma pequena quantidade de urânio metálico natural, que não foi enriquecido. De acordo com a AIEA, para usar urânio metálico no núcleo de uma arma nuclear, o Irã precisaria de cerca de meio quilo de urânio metálico altamente enriquecido. Além disso, o Irã aumentou a quantidade e a qualidade do enriquecimento de urânio.
Reino Unido, Alemanha e França encaminharam um projeto de resolução aos Estado membros da AIEA para censurar o Irã por reduzir sua cooperação com a agência nuclear, de acordo com um projeto obtido pela Reuters. O projeto, apoiado pelos EUA, expressou "séria preocupação" com a redução da transparência do Irã e descontentamento com a falta de explicação de Teerã sobre partículas de urânio descobertas em três antigas instalações. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.