Covid: estudo aponta sequelas neurológicas em recuperados
Especialista dá dicas de como reverter possíveis deficiências após infecção pelo vírus
Em fevereiro, o Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas, em São Paulo, realizou um estudo que apontou sequelas no sistema neurológico e cognitivo em 80% dos pacientes recuperados do coronavírus. Problemas como perda de memória, dificuldade em raciocínio, compreensão e interpretação foram alguns dos sintomas detectados na pesquisa, que conta com 430 participantes. Alguns deles também foram diagnosticados com problemas em atividades motoras do cotidiano, como tarefas domésticas, e em exercícios de coordenação e equilíbrio, como dirigir.
Nos casos em que há o diagnóstico precoce para detectar onde a sequela trabalha, a situação pode ser revertida. De acordo com o neuropsicólogo Amarilio Campos, antes de iniciar qualquer tipo de intervenção, é necessário fazer exame médico para identificar quais foram os minerais e vitaminas que o paciente perdeu na infecção pelo coronavírus. "A desidratação é um dos sintomas da Covid. Com isso, sais minerais e elementos fundamentais para a memória e atenção acabam se perdendo", explica.
Exames laboratoriais e verificação da taxa de triglicérides e colesterol são outros pontos para estar atento após a recuperação da Covid-19. Outro alerta é o grau de implicação do fígado e saber como estão as taxas de produção de determinados hormônios expelidos por este órgão. "É necessário [fazer] um check up com endocrinologista, cardiologista e clínico geral. Assim, a pessoa pode identificar se está com déficits de atenção ou memória, que tiram um pouco a funcionalidade no dia a dia", orienta Campos.
Segundo o neuropsicólogo, os vícios não são práticas positivas no processo de recuperação pós-Covid. "Nesse período de reabilitação, o paciente deve evitar práticas que sejam nocivas, como tabagismo e uso de drogas. O uso deles não favorece a oxigenação nas áreas do cérebro e pode prejudicar ainda mais as questões referentes à memória. A bebida alcóolica também precisa ser avaliada, pois causa alteração em várias áreas do cérebro, como questões motoras e perda de memória".
O especialista destaca que uma das alternativas de recuperação eficaz é a alimentação. Uma dieta menos calórica pode ser menos nociva ao organismo infectado pelo vírus. "A alimentação é fundamental para a hidratação. É preciso repor determinados nutrientes, minerais e vitaminas. Não adianta voltar com hábitos ruins e achar que a vida está normal. Ela não estará normal", reforça Campos.
Isolamento também traz sequelas
Segundo o neuropsicólogo, o isolamento social também pode ser um fator agravante nas sequelas de aspecto neurológico e psicológico, independente de infecção pelo vírus. "As pessoas vão ter um prejuízo quando isso acabar, principalmente em atrasos cognitivos de alfabetização, atrasos de fala e socialização", observa. Campos afirma que crianças e adolescentes estão sendo alvos da pandemia, uma vez que o afastamento das aulas presenciais causa deficiência no processo de aprendizagem e interação social. "Os adolescentes, por exemplo, precisam do contato com outras pessoas, precisam da socialização, porque é nessa fase que sexualidade desperta mais. Isso vai ser muito visto lá na frente", complementa.
Já os adultos serão afetados de outra maneira. "Por estar em isolamento há mais de um ano, de repente uma saída para conviver em sociedade pode fazê-lo se envolver em algum tipo de conflito, porque ele não tem mais aquela facilidade social que tinha antes do isolamento", diz Campos. Para o especialista, todos precisarão ser reabilitados no aspecto físico, mental e, para alguns, até espiritual.