Teleférico: chefe fala de 'economia' para não ativar freio
Também caixa-preta foi apreendida por análises
O chefe de serviços do teleférico Stresa-Mottarone, Gabriele Tadini, admitiu que o sistema de freios da estrutura foi "deliberadamente" alterado para que, em caso de problemas, não causasse uma paralisação de funcionamento geral.
Segundo a Procuradoria de Verbânia, Tadini "afirmou que deliberada e repetidamente inseriu os dispositivos que bloqueavam o freio, desativando o sistema de freios de emergência". Além disso, o responsável disse que o gestor da empresa Ferrovie del Mottarone, que operava os bondes, Enrico Perocchio, e o diretor da companhia, Luigi Nerini, "foram repetidamente informados" sobre a prática.
Tadini ressaltou que "tal escolha foi autorizada e não foram tomadas providências que permitissem as intervenções de manutenção necessárias, que teriam requerido a paralisação da estrutura, com repercussão de caráter econômico".
Perocchio negou, através de seus advogados, que conhecesse a prática, que consistia na colocação de uma espécie de "garfo" - um distribuidor que mantinha as sapatas de freio em um distância que não conseguiam frear o cabo de transporte em caso de alguma quebra.
Como o equipamento não foi removido, o sistema de emergência de freios não foi ativado e a cabine desceu de ré a cerca de 100km/h. Quando ela chegou no primeiro poste de sustentação, houve uma espécie de "efeito catapulta", que lançou a cabine por 54 metros no ar, caindo em um bosque próximo.
Além dos depoimentos e das peças coletadas no local da tragédia, os procuradores informaram que também estão com uma espécie de "caixa-preta", um sistema que registra toda a movimentação das cabines do teleférico, incluindo velocidade, altura e oscilações.
Atualmente, três pessoas estão presas e os demais funcionários do teleférico estão sendo ouvidos. Conforme os procuradores de Verbânia, se as provas técnicas mostrarem a "conduta errada" dos operadores, "as penas seriam elevadíssimas".
A queda da cabine matou 14 pessoas na hora. Apenas um menino de cinco anos, Eitan, conseguiu sobreviver à tragédia - que também matou seus pais e dois irmãos. A criança já saiu do coma induzido e respira sozinha, segundo informou o hospital de Turim onde ele está internado.
Nesta quinta-feira, o ministro de Infraestrutura e Transporte, Enrico Giovannini, participou de uma sabatina informativa na Câmara dos Deputados para falar sobre o incidente e sobre os cuidados que o governo toma na concessão desse tipo de estrutura.
"O trágico incidente de 23 de maio de 2021 no teleférico Stresa-Mottarone é uma grande ferida para o país. Desejo exprimir novamente as minhas profundas condolências, em nome do governo, aos familiares das vítimas", disse ainda o ministro.
Da Ansa