Denis Mukwege pede tribunal internacional para RDC
'Apesar do estado de sítio instaurado nos Kivus e em Ituri' desde o início de maio, 'a situação em termos de segurança não parece melhorar nessas províncias', afirmou o médico congolês
O médico congolês Denis Mukwege, Prêmio Nobel da Paz de 2018, reivindicou nesta sexta-feira (10) a criação de um tribunal penal internacional para a República Democrática do Congo, país mergulhado na violência há mais de 25 anos.
"Apesar do estado de sítio instaurado nos Kivus e em Ituri" desde o início de maio, "a situação em termos de segurança não parece melhorar nessas províncias", afirmou Denis Mukwege em um comunicado, referindo-se "com horror aos recentes massacres".
Estes ataques deixaram dezenas de mortos nos territórios de Beni e Irumu.
As populações "vivem com medo e terror", apesar de a ONU ter mobilizado suas forças na região, a Monusco, para apoiar o Exército congolês.
Segundo ele, "esta situação trágica e escandalosa não pode continuar".
"Diante do fracasso das soluções políticas e de segurança, estamos convencidos de que o caminho para a paz duradoura exigirá o recurso a todos os mecanismos de justiça de transição", convocou.
Nesse sentido, afirmou que o presidente congolês, Felix Tshisekedi, deve "solicitar, de forma expressa, às Nações Unidas que estabeleça um tribunal penal internacional para a República Democrática do Congo e apoie a criação de câmaras especializadas mistas para fazer justiça às vítimas de os crimes mais graves".
"Os líderes de todo mundo tomarão a palavra em breve" na Assembleia Geral da ONU, lembrou Mukwege, estimulando Tshisekedi a "pedir a ajuda das Nações Unidas e a adoção de uma resolução do Conselho de Segurança para implementar, sem demora, uma equipe de investigadores".
Segundo Mukwege, um médico que atua em Kivu do Sul, esses investigadores terão de "exumar as numerosas valas comuns no leste do país e coletar e preservar as provas de atos suscetíveis de constituir crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes de genocídio".
É preciso "pôr fim à cultura de impunidade que alimenta os conflitos no nosso país desde os anos 1990", concluiu.