Londres reprime ativistas contra a mudança climática
O grupo de desobediência civil Extinction Rebellion paralisou cidades e promete fazê-lo novamente em Glasgow no final do mês
O Reino Unido se esforça para exibir internacionalmente suas credenciais ambientais antes da próxima cúpula da ONU sobre a mudança climática em Glasgow, enquanto ao mesmo tempo procura lidar com os crescentes protestos de ambientalistas.
O grupo de desobediência civil Extinction Rebellion paralisou cidades e promete fazê-lo novamente em Glasgow no final do mês.
Nas últimas semanas, uma facção até então desconhecida, a Insulate Britain, bloqueou várias rodovias e estradas, levando a dezenas de detenções.
Na quarta-feira (6), o primeiro-ministro Boris Johnson os chamou de "incômodo" e aplaudiu sua ministra do Interior, Priti Patel, por promover "novos poderes para colocá-los na prisão, onde deveriam estar".
Seu governo afirma querer liderar a redução das emissões de carbono para limitar o aquecimento global, mas segue o exemplo da imprensa britânica conservadora, cada vez mais hostil aos ativistas, a quem chama de "ecomáfia" e "ambientaidiotas".
Os ativistas são acusados de arriscar vidas com suas táticas, que incluem grudar-se no asfalto e ficar sentado no meio do trânsito da hora do rush.
Na segunda-feira, a televisão mostrou uma motorista desesperada implorando para que a deixassem passar para seguir a ambulância que levava sua mãe ao hospital.
- Barbas e gorros de lã -
"Estamos arrasados com isso. Não saímos às ruas para impedir a passagem de ambulâncias", disse à AFP Tim Speers, de 36 anos, membro do Insulate Britain.
Originário do sudoeste da Inglaterra, ele está longe de ser a caricatura midiática de um "hippie", como Johnson o chamou, de barba e gorro de lã.
Bem barbeado e de fala rápida, este ex-jogador profissional de pôquer afirma ter deixado sua antiga vida para trás para lutar contra a mudança climática por meio da desobediência civil.
"Assim que fizerem uma declaração significativa de que começarão a trabalhar, de que alcançarão seus próprios objetivos, vou sair da estrada", garante. Mas "não posso ficar parado enquanto este governo falha completamente com os cidadãos que é obrigado a proteger".
Os britânicos têm uma longa história de protestos ambientais contra projetos de infraestruturas, como um desvio rodoviário no oeste da Inglaterra na década de 1990.
Um dos ativistas que então tentou bloquear a construção com um túnel sob a obra, Daniel Hooper, conhecido como "Swampy", reapareceu no início deste ano em outro protesto.
Ele foi julgado junto com outros ambientalistas, incluindo os filhos de um proprietário de terras e editor milionário, por tentar impedir a construção de uma linha férrea de alta velocidade.
O grupo passou dias entrincheirado em túneis extremamente estreitos que cavaram secretamente perto da estação ferroviária de Euston, no centro de Londres.
- "Não haverá amanhã" -
Na segunda-feira, Speers protestava em frente aos tribunais quando mais de 100 membros do grupo receberam ordens judiciais contra o bloqueio de estradas.
As suas origens são muito diversas, desde pais com seus filhos, a idosos ou membros do clero.
Janine Eagling, uma consultora de TI aposentada de 60 anos, explica que ingressou no Insulate Britain porque precisava agir com urgência.
"A situação está pior do que nunca. Estamos emitindo C02 como se não houvesse amanhã e, se continuarmos assim, literalmente não haverá amanhã", afirma.
Garantindo que não toleraria "eco-guerreiros, que atropelam nosso modo de vida e esgotam os recursos policiais", Patel anunciou na terça-feira novas medidas para enfrentar esses grupos.
"Atirar no mensageiro não destrói a mensagem: nosso país enfrenta o maior risco da história e nosso governo está falhando conosco", defendeu a Insulate Britain, que defende que todos os lares britânicos sejam ambientalmente eficientes.
Glasgow, com uma concentração planejada de 50.000 a 100.000 pessoas durante a cúpula, pode ser o cenário de um novo confronto.
A polícia da Escócia, que enviará cerca de 10.000 policiais por dia durante duas semanas, anunciou que facilitará manifestações pacíficas e permitirá "protestos ilegais até certo ponto".
Mas avisou que tomaria medidas "quando o protesto começar a afetar a capacidade de funcionamento da conferência".