Um grupo de ativistas ambientais foi expulso da coletiva organizada pelo Governo de Pernambuco junto ao Exército Brasileiro nessa quarta-feira (17), no Recife. O evento abordou o projeto da Escola de Sargentos (ESA) que será construída no Campo de Instrução Marechal Newton Cavalcanti (CIMNC), em Aldeia, na Zona da Mata de Pernambuco, dentro de uma área de proteção ambiental (APA). À ocasião, representantes de etnias indígenas do Estado, movimentos sociais e integrantes do Fórum Socioambiental de Aldeia foram “convidados a se retirar” da coletiva, a pedido de uma representação do Governo Federal.
A medida gerou indignação entre os ativistas, que argumentaram estar presentes apenas para a escuta do anúncio, que não teria sido previamente comunicado nem mesmo ao fórum, que é uma representação da sociedade civil. No grupo, também estava a co-deputada Carol Vergolino (Juntas), representando o mandato do Psol. A escola, que precisará invadir área protegida para ser construída, terá seu Termo de Compromisso assinado nesta sexta-feira (19).
##RECOMENDA##“Como nós [Fórum] não sabíamos o que seria anunciado nessa coletiva, viemos assistir e ouvir o que é que seria anunciado. Ao chegar aqui, encontramos outros coletivos, o movimento indígena e representantes do Consema. O fórum veio com quatro ou cinco pessoas, praticamente a diretoria toda. Para nossa surpresa, no intervalo, percebemos que os povos indígenas foram convidados a se retirar da sala. Estranhamos a movimentação e a diretora de relações institucionais do fórum desceu para uma sala onde os indígenas estavam sendo abordados por um representante da Presidência da República. Até aquele momento, achávamos que a decisão de retirada tinha sido do Governo do Estado de Pernambuco”, disse Herbert Tejo, do Fórum Socioambiental de Aldeia, ao LeiaJá.
Segundo Herbert, a secretária de Meio Ambiente, Ana Luiza Ferreira, informou que a decisão não era do Governo Estadual e que não estava ciente do motivo da retirada. Posteriormente, uma representante do Governo Federal informou que a coletiva seria exclusiva à imprensa e que as entidades presentes possuíam interesse em realizar um protesto. O LeiaJá realizava a cobertura do evento, mas não conseguiu confirmar com a Secretaria de Comunicação (Secom) se essa foi a justificativa.
“Soubemos o que foi noticiado nas redes sociais, de que haveria uma coletiva à tarde, em que o Governo do Estado e o Exército iriam anunciar um acordo com relação à ESA em Pernambuco. O Fórum é representante da sociedade civil no conselho gestor da APA de Beberibe e nós recebemos a delegação do conselho gestor da unidade de conservação para representar o conselho e a sociedade, no grupo de trabalho que foi criado pela governadora para aprofundar o debate sobre o projeto em Pernambuco”, continuou Herbert, que considerou o grupo como “produtivo e positivo”.
O grupo de trabalho (GT), de iniciativa da governadora Raquel Lyra (PSDB), já passou por três reuniões. Na primeira, o Exército fez uma apresentação; na segunda, o Fórum apresentou alternativas; e na terceira, houve um debate junto à Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), que integra o GT.
O que querem as organizações
Organizações sociais e entidades pelo Meio Ambiente questionam a área desmatada para a construção da próxima Escola de Sargentos (ESA) do Estado. Na próxima sexta-feira (19), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participará da solenidade de assinatura do Termo de Compromisso para a construção
Segundo o Exército, haverá desmatamento para a construção da escola e, posteriormente, o Ibama é quem vai indicar a compensação ambiental. A área é protegida e está em um grande trecho de Mata Atlântica, podendo comprometer cerca de 180 hectares, o equivalente a 180 campos de futebol. A preocupação das organizações é com o impacto ambiental da área desmatada, sobretudo pensando nas reações climáticas a longo prazo.
Exército diminuiu área desmatada
Durante a coletiva, o Exército anunciou que diminuiu pela metade a área a ser desmatada para a instalação da Escola de Sargentos que será construída no Campo de Instrução Marechal Newton Cavalcanti. Segundo o general Joarez Alves Pereira Júnior, comandante militar do Nordeste e diretor do projeto da escola, o terreno tem, ao todo, 7.549 hectares, mas o planejamento da unidade prevê a ocupação de 180 hectares.
"Fomos trabalhando como poderíamos reduzir. Trabalhamos em parceria com o governo para ver o que poderia ser colocada em área desapropriada. Chegamos a um número perto de 90 hectares onde necessitamos suprimir a vegetação", explicou o general.
Na prática, o Exército mexeu na localização da vila militar para adequar as sugestões da sociedade civil e reduzir a área de mata atlântica a ser desmatada. Segundo o general, 6,2 mil pessoas vão residir na área da escola – que contará com uma base de suporte localizada no Recife, incluindo questões de saúde, hospitalar, depósito de suprimentos e familiar.