Jovens japoneses se afastam das urnas

Líderes veteranos que agradam uma população que envelhece, táticas de campanha desatualizadas e falta de educação política levam a índices de participação cronicamente baixos entre os jovens, afirmam eleitores e políticos

sex, 29/10/2021 - 11:37
Behrouz MEHRI O estudante Shoma Motegi trabalha em seus projetos em frente a um computador em sua casa em Yokohama (Japão) Behrouz MEHRI

Shoma Motegi votará pela primeira vez nas eleições gerais do Japão no domingo (31), mas o jovem de 19 anos é uma minoria em sua faixa etária, algo que deseja mudar.

Líderes veteranos que agradam uma população que envelhece, táticas de campanha desatualizadas e falta de educação política levam a índices de participação cronicamente baixos entre os jovens, afirmam eleitores e políticos.

A abstenção no Japão, onde o partido no governo conservou o poder quase continuamente durante décadas, é a quinta mais alta entre as 41 economias desenvolvidas acompanhadas pela OCDE.

A diferença nos padrões de voto por idade foi muito acentuada nas últimas eleições gerais: apenas um terço dos eleitores com aproximadamente 20 anos participou, contra 72% na faixa de 60-69.

"É um desperdício do direito ao voto em eleições que determinam o nosso futuro", disse Motegi à AFP.

Se os jovens não votarem, "as políticas favorecerão a geração atual que está trabalhando ou os idosos", acrescentou este estudante de economia de Yokohama.

Os analistas dizem que o resultado das eleições legislativas é muito previsível, com uma vitória quase certa do novo primeiro-ministro Fumio Kishida, de 64 anos.

Depois de se tornar líder do Partido Liberal Democrata, Kishida apresentou seu Executivo com uma média de idade de 62 anos e apenas três mulheres.

"Não parece muito estimulante", comenta Misha Cade, uma estudante de 24 anos que também quer ir às urnas no domingo.

Em sua opinião, as japonesas geralmente não se sentem representadas na política.

"Acreditam que é um mundo de homens, como se fosse um lugar onde não podemos entrar", explica Cade, que cresceu nos Estados Unidos antes de voltar ao Japão quando era adolescente.

E ela? Entraria na política?

"Nunca poderia (...). Há muito assédio sexual e um machismo descarado, não acho que seja algo que pudesse tolerar diariamente", argumenta.

Para tentar atrair as jovens gerações, o governo reduziu a idade mínima para votar de 20 para 18 há cinco anos.

Mas Motegi afirma que alguns de seus amigos ainda evitam o debate político, especialmente em questões que dividem a opinião pública, como a energia nuclear e a segurança nacional.

Este estudante é membro da Conferência da Juventude do Japão, uma ONG que recentemente realizou dois debates nos quais os jovens eleitores perguntavam aos deputados sobre questões importantes para eles, como as condições trabalhistas, o custo da educação ou as políticas de gênero.

"A juventude japonesa tem muito interesse em questões sociais, incluindo a igualdade de gênero, a desigualdade de renda e a mudança climática", explica Yuki Murohashi, um dos organizadores.

Mas "os estudantes muitas vezes nem sabem a diferença entre os partidos políticos", acrescenta este ativista de 32 anos.

Isso acontece parcialmente devido à falta de educação eleitoral nas escolas ou porque "os partidos não se esforçam o suficiente para chegar até os jovens", opina.

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