Etiópia declara estado de emergência em todo o país
Os rebeldes de Tigré, que travam uma guerra contra as forças pró-governo há um ano, reivindicaram este fim de semana o controle de duas cidades estratégicas
O governo etíope declarou estado de emergência em todo o país, informou a mídia estatal nesta terça-feira (2), enquanto os rebeldes de Tigré, que travam uma guerra contra as forças pró-governo há um ano, reivindicaram este fim de semana o controle de duas cidades estratégicas.
"O estado de emergência visa proteger os civis contra as atrocidades cometidas pelo grupo terrorista TPLF em várias regiões do país", informou o Fana Broadcasting Corporate, referindo-se aos rebeldes da Frente de Libertação do Povo Tigré.
A TPLF reivindicou nos últimos dias a captura de Dessie e Kombolcha, duas cidades localizadas em um cruzamento estratégico cerca de 400 quilômetros ao norte da capital Addis Ababa, sem descartar uma ofensiva sobre a capital.
O governo negou ter perdido o controle dessas cidades, mas se for confirmada, tal captura marcará outra fase importante no conflito que já se arrasta por um ano.
As comunicações foram interrompidas em grande parte do norte da Etiópia e o acesso dos jornalistas é restrito, dificultando a verificação independente da situação no terreno.
Na manhã desta terça-feira, as autoridades da capital Addis Abeba pediram à população que se organizasse e se preparasse para defender seus bairros.
Esta recente escalada do conflito preocupa a comunidade internacional, que nos últimos dias renovou seus apelos por um cessar-fogo imediato e negociações de paz.
O enviado americano para o Chifre da África, Jeffrey Feltman, declarou nesta terça-feira que Washington se opõe a "qualquer movimento da TPLF em direção a Addis Abeba ou qualquer ação destinada a sitiar a capital", durante uma intervenção no Instituto Americano para a Paz.
Os Estados Unidos também anunciaram que vão retirar importantes vantagens comerciais concedidas à Etiópia, em razão das "graves violações de direitos humanos reconhecidas internacionalmente, perpetradas pelo governo etíope e outras facções no norte do país", de acordo com um comunicado da representante americana para o Comércio.
O conflito do Tigré começou em novembro de 2020 e experimentou uma mudança dramática desde junho.
Prêmio Nobel da Paz de 2019, o primeiro-ministro Abiy Ahmed proclamou vitória em 28 de novembro passado, poucas semanas depois de enviar o Exército a Tigré para destituir as autoridades regionais dissidentes da TPLF.
Em junho, porém, os rebeldes recuperaram a maior parte da região, forçando as tropas do governo a se recuarem. Ao mesmo tempo, continuaram sua ofensiva nas regiões vizinhas de Amhara e Afar.
A posterior propagação dos combates para as regiões vizinhas de Afar e Amhara deslocou centenas de milhares de pessoas e aumentou a crise humanitária que, segundo a ONU, deixou 400.000 pessoas à beira da fome.
Em setembro, as autoridades de Amhara estimaram que pelo menos 233.000 civis que fugiam do avanço rebelde encontraram abrigo em Dessie e em Kombolcha.