Soweto presta homenagens a Desmond Tutu
Desmond Tutu morreu no domingo aos 90 anos
Moradores de Soweto, onde Desmond Tutu morou durante o apartheid, prestaram homenagens ao arcebispo nesta quarta-feira (29), em frente à antiga casa do incansável crítico do regime racista, que morreu no domingo aos 90 anos.
“Ele costumava me dizer: 'Vá para a escola. Lute pelos seus direitos sabendo exatamente pelo que está lutando'”, disse à AFP Linda Malinda, hoje com 63 anos. Ela continua ocupando a casa onde vivia então com seus pais, a poucos passos da residência deste expoente da luta contra o apartheid.
Naquela época, o mais famoso arcebispo anglicano do mundo foi o primeiro negro a servir como reitor da Diocese de Joanesburgo. Há 20 anos, ele largou o jaleco de professor para protestar contra a precariedade educacional das crianças negras e contra a aplicação do princípio da separação racial nas escolas.
"Eles aprenderam inglês o suficiente para entender as ordens que seriam dadas a eles", disse ele em uma entrevista em 1995.
Neste dia de verão do sul, várias dezenas de pessoas se reuniram para uma cerimônia religiosa em frente à sua antiga casa. Uma placa em uma das pontas da fachada lembra que o "herói dos direitos humanos" morava ali.
Um pequeno pódio foi instalado nesta rua inclinada, onde os dois ícones da luta pela liberdade - Desmond Tutu e Nelson Mandela - viviam a algumas dezenas de metros um do outro. Uma placa indica a direção da "Calçada dos Prêmios Nobel".
Santidade
Vários grupos de turistas, ao passarem, pararam e aproveitaram para deixar um recado no registo de condolências, sobre uma mesa: “Obrigado pelo que fizestes pela humanidade”, “Obrigado por ter sido a voz dos sem voz", "Descanse em paz"...
Poucos minutos antes do início da cerimônia, os últimos representantes da Igreja chegaram, apressados. O coral do Orlando Pirates, time de futebol local, cantou uma primeira música.
Após a sua estada em Soweto, Desmond Tutu mudou-se para a Cidade do Cabo, onde realizou marchas pacíficas contra o regime. Mas foi neste município que ele se destacou na luta.
De seu púlpito, denunciou a violência praticada pela polícia contra as crianças durante os protestos de Soweto de junho de 1976, que foram severamente reprimidos. Aos poucos, ele se tornou a voz de Nelson Mandela, preso na Ilha Robben. A polícia e o exército o ameaçaram.
“Levantávamos de manhã e se víssemos os caminhões militares, sabíamos que ele iria celebrar a missa”, disse Mathabo Dlwathi, de 47 anos.
“Há alguma santidade nele”, resumiu um de seus sucessores na paróquia de Joanesburgo, o Rev. Xolani Dlwathi. Até o funeral, no próximo sábado, várias outras cerimônias estão planejadas.
"The Arch", arcebispo em inglês, como foi apelidado, será sepultado na Catedral de São Jorge na Cidade do Cabo. Seus restos mortais ficarão em uma capela ardente na quinta e na sexta-feira para que o público possa visitá-lo.