Retinoblastoma é o tumor ocular mais incidente em crianças
Especialista explica quais os sinais da doença e formas eficazes de prevenir e tratar esse tipo de câncer, considerado um dos mais comuns em crianças também considerando outros tipos de tumor
Após o apresentador de TV Tiago Leifert e sua esposa, Daiana Garbin, comunicarem ao público que a filha Lua, de um ano de idade, está passando por um longo tratamento contra a retinoblastoma, o assunto passou a ganhar mais notoriedade. A doença é um tipo de câncer nos olhos e que é tratado com maiores chances de sucesso quando a rotina médica inclui checagem oftalmológica desde cedo. Quase um mês após o anúncio do casal, o assunto continua rendendo nas redes sociais e novos relatos de familiares da mesma situação têm surgido. Mas afinal, o que é essa doença?
O retinoblastoma é um câncer de olho que começa na retina – o revestimento sensível no interior do olho. A doença afeta mais comumente crianças pequenas, mas raramente pode ocorrer em adultos. A retina é composta de tecido nervoso que detecta a luz quando ela passa pela frente do olho e é responsável por enviar sinais através do nervo óptico para o cérebro, onde esses sinais são interpretados como imagens.
Considerados por muitos especialistas uma forma rara de câncer no olho, o retinoblastoma é a forma mais comum de câncer que afeta o olho em crianças. O retinoblastoma pode ocorrer em um ou ambos os olhos. Quem explica melhor essas características da doença é a doutora Ana Carolina Valença Collier, oftalmopediatra do Instituto de Olhos do Recife (IOR) e entrevistada do LeiaJá nesta publicação.
“Não há uma incidência frequente, mas, dos tumores na criança, é um dos mais comuns; e dos tumores oculares na criança, é o com maior incidência. O público mais atingido é o de crianças com até cinco anos de idade, não descartando a possibilidade de acontecer mais tardiamente, mas esses são os mais comuns de serem acometidos”, explica a especialista.
Como o retinoblastoma se desenvolve?
Os olhos começam a se desenvolver bem antes do nascimento. Durante os estágios iniciais de desenvolvimento, os olhos têm células chamadas retinoblastos, que se multiplicam para produzir novas células que preenchem a retina. Em um certo ponto, essas células param de se multiplicar e se tornam células maduras da retina. Raramente, algo dá errado com este processo. Em vez de amadurecer, alguns retinoblastos continuam a crescer fora de controle, formando um câncer conhecido como retinoblastoma.
A cadeia de eventos dentro das células que leva ao retinoblastoma é complexa, mas quase sempre começa com uma mudança (mutação) no gene RB1. O gene RB1 normal ajuda a evitar que as células cresçam fora de controle, mas uma mudança no gene impede que ele funcione como deveria. Dependendo de quando e onde ocorre a alteração no gene RB1, pode resultar em dois tipos diferentes de retinoblastoma. No entanto, a doença pode ser revertida.
“O retinoblastoma não é uma doença irreversível. Como vários outros tipos de tumores, ele pode ser tratado, curado, ou ser só estabilizado. Quanto mais cedo a gente descobrir, melhor é o prognóstico. Se ele não tiver atingido o eixo da visão, você vai ter uma recuperação da sua visão e um prognóstico bem melhor. Agora, dependendo do estágio, caso avance, muitas vezes a criança pode perder a vida por conta do tumor. Então vai depender muito do diagnóstico precoce, pra gente pegar ele nos estágios iniciais e tratar corretamente, através de um tratamento menos invasivo. O tratamento pode ir desde a aplicação de laser e da quimioterapia localizada, até a retirada do globo ocular”, continua a oftalmopediatra Ana Valença.
Especialista responde perguntas comuns sobre o retinoblastoma
LJ: Quais os principais sinais da doença?
Oftalmopediatra: Os principais são aquela mancha branca, que a gente chama leucocoria; o reflexo que entra no olho e a gente vê em fotografia, que o normal é ser avermelhado, mas ele aparece esbranquiçado. Outra característica que é muito comum são aqueles desvios oculares; geralmente o olho desvia quando ele tem uma baixa divisão. Dá pra fazer um teste em casa, tampar um olho e depois tampar o outro; é outro sinal se for visto que a criança tem mais dificuldade para enxergar com um dos olhos.
LJ: O que é o "teste do olhinho"? Qual a forma correta de buscar ajuda e diagnosticar a criança com retinoblastoma?
Oftalmopediatra: O teste do olhinho é um exame feito obrigatoriamente no momento que a criança nasce. Existe aquele teste do olhinho que é feito na maternidade pelo próprio pediatra e que ele faz o exame com um aparelho chamado oftalmoscópio direto, para ver se o reflexo vermelho está presente ou não. A gente também aconselha, além do teste do olhinho feito na maternidade pelo pediatra, que a criança faça nos primeiros meses de vida o teste do olhinho com o oftalmologista.
Normalmente, a gente coloca um colírio e dilata a pupila da criança, faz uma oftalmoscopia binocular indireta e vê se a criança tem algum tipo de doença. Você não vai ver só o reflexo alterado, mas que tipo de doença essa criança tem. A gente aconselha fazer esse exame oftalmológico nos primeiros dois anos de vida, a cada seis meses, e se a criança não tiver nada, uma vez por ano. Se ele tiver alguma patologia, o oftalmopediatra vai determinar qual o prazo que ela tem que voltar para as consultas.
LJ: É comum que pais e/ou responsáveis deixem para realizar os cuidados oftalmológicos mais tardiamente?
Oftalmopediatra: O que a gente sempre aconselha é realmente fazer esse exame a cada seis meses. Muitas vezes os pais nem sabem disso. Agora, com a repercussão do caso de Tiago Leifert, as pessoas estão se preocupando mais. Infelizmente, no caso dos serviços públicos, muitas vezes as pessoas não têm acesso e nem facilidade de conseguir uma consulta a cada seis meses, mas o ideal é que seja feito isso. A lição que a gente tira é que, mesmo que a gente não perceba nada, o exame preventivo é essencial.
Complicações
As crianças tratadas para retinoblastoma correm o risco de o câncer retornar dentro e ao redor do olho tratado. Por esse motivo, o médico do seu filho agendará exames de acompanhamento para verificar se há retinoblastoma recorrente. O médico pode elaborar um cronograma de consultas de acompanhamento personalizado para o seu filho que inclua exames oftalmológicos frequentes.
Além disso, crianças com a forma hereditária de retinoblastoma têm um risco aumentado de desenvolver outros tipos de câncer em qualquer parte do corpo nos anos após o tratamento, especialmente pineoblastoma, um tipo de tumor cerebral. Por esse motivo, crianças com retinoblastoma hereditário podem fazer exames regulares para rastrear outros tipos de câncer.