Risco de confinamento transforma Xangai em cidade-fantasma
Embora o número de casos de Covid-19 seja baixo em comparação com outros países, a China enfrenta, no momento, seu surto mais grave desde o início de 2020
Xangai, uma das cidades mais populosas do mundo, parece uma cidade-fantasma diante da ameaça de confinamento para seus 25 milhões de habitantes decorrente de um surto de Covid-19.
Embora o número de casos de Covid-19 seja baixo em comparação com outros países, a China enfrenta, no momento, seu surto mais grave desde o início de 2020.
O país anunciou quase 5.300 novas infecções nesta terça-feira (15), marcando o retorno de testes em massa, confinamentos e restrições de viagens.
Um símbolo de Xangai, o píer Bund - às margens do rio Huangpu - ficou vazio esta semana pelas medidas para erradicar os casos locais de covid.
Apenas um pequeno grupo de pedestres com máscara tirava fotos da paisagem, enquanto os trabalhadores tiveram de ficar em casa, os alunos retornaram às aulas on-line, e os restaurantes foram fechados em alguns bairros.
As restrições em Xangai foram direcionadas às áreas com focos de contágio, em vez dos confinamentos gerais aplicados em outras cidades chinesas. Ainda assim, os moradores tinham dificuldades em saber o que fazer.
"Fomos informados ontem à noite que deveríamos suspender (o serviço de restaurante) e vamos cumprir. Caso contrário, seremos fechados", disse à AFP o proprietário de um restaurante no centro de Xangai.
Em um bairro vizinho, outro dono de restaurante reclamou que as medidas desencorajavam as pessoas a comerem fora. "Não temos tido muitos clientes esses dias", lamentou, observando que há muita ansiedade a respeito da situação atual.
Na rede social Douyin, versão chinesa do TikTok, uma mulher reclamou que a proibição foi anunciada logo no momento em que ela alugava espaço para abrir um restaurante. "Eu vou, literalmente, chorar", desabafou.
- Trajes de segurança -
Em Shenzhen, cidade do sul de 17,5 milhões de pessoas, um confinamento mais severo foi imposto, e vídeos nas redes sociais mostravam pessoas correndo aos supermercados.
Muitos locais foram bloqueados com barreiras de plástico vermelho, e longas filas se formavam entre as grandes torres onde os profissionais de saúde de trajes de segurança coletavam amostras para testes em massa de covid-19.
O rígido controle chinês obteve grande apoio popular, enquanto o número de mortos foi baixo e, após a caótica primeira onda de infecções em 2020, a vida voltou ao normal.
"Agora estou acostumado (com as medidas de controle). Convivemos com elas por muito tempo", disse Yan Zhiping, morador de Pequim, à AFP. "Enquanto nos protegerem bem, não haverá problema", completou.
A frequência das restrições sanitárias começou, no entanto, a esgotar a paciência de muitos. Com isso, intensificou-se o debate sobre se Pequim deveria ajustar sua rígida estratégia de "covid zero", principalmente diante da variante ômicron. Embora mais contagiosa, os casos ligados a ela têm sido menos graves.
Um morador de Xangai reclamou on-line que a cidade fez um "trabalho ruim" e acusou o governo de impedir as pessoas de postarem comentários negativos.
"A prevenção e o controle do vírus em Xangai é uma piada, uma piada extremamente irresponsável", postou outro.