As mulheres ucranianas que preferem voltar ao seu país

Mulheres ucranianas, após vários dias de peregrinação, voltaram ao seu país, apesar dos estragos causados pela invasão russa

qui, 17/03/2022 - 12:09
Aleksey Filippov Galyna Kanuka (centro), seus dois filhos e sua mãe Svitlana Natalukha em Lviv, em 16 de março de 2022 Aleksey Filippov

Mulheres ucranianas, que fugiram das bombas, após vários dias de peregrinação voltaram ao seu país, apesar dos estragos causados pela invasão russa.

A estação de trem de Lviv, no oeste da Ucrânia, está lotada de passageiros que partem e disputam assentos nos trens que saem do país devastado pelo conflito.

Mas em uma plataforma desolada, longe do saguão principal, há grupos de pessoas fazendo a viagem contrária.

Enxugando as lágrimas do neto, Svitlana Natalukha, de 60 anos, conta como sua família viajou por cinco dias: de sua casa em Kharkiv, cidade bombardeada incessantemente desde o início da guerra, para Lviv, no oeste da Ucrânia, e depois para a Polônia, antes de retornar.

Svitlana, sua filha Galyna Kanuka, de 28 anos, e os dois netos foram bem recebidos na Polônia. Mas, paralisados pela perspectiva de reconstruir suas vidas do zero, preferiram voltar ao país.

"Os voluntários nos ajudaram muito, mas só onde estavam", diz Galyna Kanuka. "Eles nos disseram para continuar para outras cidades para encontrar outros voluntários".

A barreira linguística, que dificultava o cuidado da doença de uma das crianças, também influenciou na necessidade de retorno.

"A pátria os espera"

Mais de três milhões de pessoas fugiram da Ucrânia desde o início da invasão russa há três semanas, segundo a ONU.

Não há números oficiais sobre aqueles que retornam. Mas a AFP observou esta semana três trens com entre 100 e 250 passageiros da cidade polonesa de Przemysl com destino a Lviv.

Entre eles, alguns voluntários estrangeiros respondendo ao pedido de apoio militar da Ucrânia, ou encarregados de levar ajuda humanitária. Mas, em sua maioria, mulheres e crianças com passaportes ucranianos.

Na estação de Lviv, uma faixa manuscrita convida os que partem a regressar: "Voltem para as suas casas, a pátria os espera".

Olexandr, um agente a bordo de um dos trens, que se recusa a revelar o sobrenome, diz que às vezes há até 300 passageiros nesses trens de volta.

"No início, não acontecia, mas ultimamente várias mulheres com filhos começaram a voltar", assegura.

Embora vários países – especialmente na UE – tenham adotado medidas para acolher refugiados ucranianos, é difícil apagar os medos dos deslocados diante do imenso desafio de reconstruir suas vidas em outros lugares.

Em Przemysl, na Polônia, os candidatos ao retorno deixam para trás uma estação repleta de voluntários que oferecem comida, abrigo e a possibilidade de continuar sua jornada.

Os trens de volta a Lviv não são anunciados no painel de embarque, e os viajantes negociam sua jornada contra o fluxo de refugiados em um portão marcado como "entrada proibida" no controle de passaportes.

Os vagões, com poucos passageiros, iniciam uma viagem de 90 quilômetros, aproximando-se de uma fronteira onde prevalecem os engarrafamentos, e sobrevoados por helicópteros no lado polonês.

Em Lviv, apesar de estar longe das linhas de frente, as janelas estão cobertas de sacos de areia e as sirenes ressoam a noite toda anunciando bombardeios aéreos.

No domingo, uma base militar perto de Lviv e da fronteira polonesa foi atingida por bombardeios russos, que mataram 35 pessoas.

Para a família de Svitlana Natalukha, a maior cidade do oeste da Ucrânia deve, apesar de tudo, se tornar um refúgio.

"Queríamos que as crianças estivessem seguras na Polônia, mas não conseguimos", explica. "Esperamos que possam ficar seguras em Lviv."

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