Putin instaura lei marcial em 4 territórios ucranianos

A lei marcial russa permite reforçar o poderio militar, adotar toques de recolher, limitar deslocamentos, impor a censura militar nas telecomunicações, proibir concentrações públicas e deter estrangeiros

qua, 19/10/2022 - 20:24
Andrey Borodulin A cidade ucraniana de Kherson, em foto de 20 de maio de 2022 Andrey Borodulin

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou a instauração da lei marcial nos quatro territórios ucranianos que Moscou afirma ter anexado, enquanto as autoridades de ocupação começaram a retirar civis da cidade estratégica de Kherson (sul) diante da contra-ofensiva ucraniana.

"Assinei um decreto para introduzir a lei marcial" nas quatro localizações do sul e leste da Ucrânia, anexadas em setembro, afirmou Putin na reunião do Conselho Nacional de Segurança, se referindo a Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhzhia.

A lei marcial russa permite reforçar o poderio militar, adotar toques de recolher, limitar deslocamentos, impor a censura militar nas telecomunicações, proibir concentrações públicas e deter estrangeiros, entre outras medidas.

O anúncio foi feito depois que as autoridades pró-russas iniciaram a evacuação de Kherson, a primeira cidade conquistada pelas tropas de Moscou após o início da invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro.

Kherson é alvo de uma contra-ofensiva de Kiev, que já recuperou vários territórios do leste e sul do país.

- Prêmio ao "corajoso" povo ucraniano -

Enquanto isso, os bombardeios russos continuaram, nesta quarta-feira (19), no norte da Ucrânia, incluindo Kiev, no leste e no centro. Desta vez, atingiram também o oeste, uma região geralmente mais livre de combates.

"O inimigo realizou quatro ataques com mísseis, onze ataques aéreos e mais de 100 ataques com múltiplos lança-foguetes", resumiu o estado-maior das forças ucranianas.

A entidade falou de um "ataque maciço com mísseis de cruzeiro e drones iranianos contra infraestrutura civil nas regiões de Kiev, Cherniguiv (norte), Vinnytsia (oeste), Ivano-Frankivsk (oeste), Donetsk (leste), Dnipropetrovsk (centro), Zaporizhia (sul) e Mikolaiv (sul)", assim como em Cherkassy (centro).

Na semana passada, a Rússia lançou uma campanha de ataques com drones e mísseis contra a infraestrutura elétrica da Ucrânia, com a proximidade da chegada do inverno.

A Presidência ucraniana anunciou nesta quarta-feita que, devido a estes ataques, irá restringir o uso de eletricidade a partir desta quinta.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, considerou, por sua vez, que Putin está em uma "posição incrivelmente difícil" na Ucrânia.

"Parece que a única ferramenta disponível é maltratar os cidadãos da Ucrânia (...) para tentar intimidá-los, para que cedam. Eles não vão fazer isso", disse à imprensa em Washington.

Suas palavras chegaram horas depois do Parlamento Europeu ter atribuído o Prêmio Sakharov para a Liberdade de Pensamento ao "corajoso povo" da Ucrânia, que "resiste" e "luta" por suas "convicções".

- "À margem esquerda" -

"A partir de hoje, todas as estruturas de poder que estão na cidade (...) serão deslocadas para a margem esquerda do rio Dnieper", que estabelece o limite com Kherson, afirmou Vladimir Saldo, chefe da administração russa de ocupação, ao canal Rossiya-24.

A cidade fica na margem direita do rio, em uma área que está sendo cercada por tropas ucranianas em uma contra-ofensiva que começou em agosto.

As autoridades pró-Rússia, que só permitem evacuações para a Rússia ou para territórios controlados por Moscou, indicaram que esperam transferir até 60.000 civis em seis dias.

A Ucrânia acusou a Rússia de tentar aterrorizar a população de Kherson organizando a evacuação com base em "mensagens falsas" sobre ataques à cidade.

Serguei Khlan, um deputado ucraniano dessa região, comparou essa retirada de civis a uma "deportação".

Cerca de cinco milhões de habitantes das áreas anexadas por Moscou estão na Rússia, disse o secretário do Conselho de Segurança Nacional russo, Nikolai Patrushev.

- Linha fortificada -

Neste contexto, o grupo russo de mercenários Wagner iniciou a construção de uma linha de defesa fortificada na região de Lugansk, anexada por Moscou no final de setembro.

Baterias de defesa aérea ucranianas derrubaram "vários mísseis russos" sobre Kiev, disse Vitali Klitschko, prefeito da capital.

A capital ucraniana tem sido alvo de vários ataques de drones 'camicazes' desde segunda-feira, que deixaram cinco mortos.

A Ucrânia e seus aliados ocidentais acusam Moscou de usar drones fabricados no Irã para realizar os ataques, algo que o governo russo diz ignorar e a diplomacia de Teerã garante que "não tem fundamento".

A União Europeia (UE) afirmou que coletou "provas suficientes" de que os drones usados pela Rússia foram fornecidos pelo Irã e que trabalha em um plano de sanções.

O Conselho de Segurança da ONU se reúne nesta quarta-feira em Nova York para discutir os ataques de drones.

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