Estudo revela vírus adormecidos há 48 mil anos na Sibéria

Sete vírus do permafrost foram revividos e se replicaram em laboratório – incluindo o mais antigo revivido até agora

por Vitória Silva ter, 29/11/2022 - 14:09
Unsplash Cadeia de montanhas na Sibéria Unsplash

Cientistas de um estudo coletivo na Europa reviveram vários vírus antigos que foram bloqueados profundamente no permafrost - camada do subsolo da crosta terrestre que está permanentemente congelada - da Sibéria, desde a Idade do Gelo. Embora a pesquisa pareça arriscada, a equipe acredita que é uma ameaça que vale a pena investigar, diante dos perigos crescentes do degelo do permafrost e das mudanças climáticas. 

Em um novo artigo, que ainda não foi revisado por pares, os pesquisadores explicam como identificaram e reviveram 13 vírus pertencentes a cinco classes diferentes de amostras coletadas no gelado extremo leste da Rússia. O texto foi publicado na plataforma pré-prints BioRxiv. Entre a coleta, eles conseguiram reviver um vírus de uma amostra de permafrost com cerca de 48.500 anos. 

Eles também reviveram três novos vírus de uma amostra de 27 mil anos com fezes de mamute congelado e um pedaço de permafrost com uma grande quantidade de lã de mamute. Este trio foi chamado de mamute Pithovirus, mamute Pandoravirus e mamute Megavirus. 

Outros dois novos vírus foram isolados do conteúdo estomacal congelado de um lobo siberiano (Canis lupus), denominados Pacmanvirus lupus e Pandoravirus lupus. Esses tipos infectam amebas, bolhas unicelulares que vivem no solo e na água, mas experimentos indicaram que os vírus ainda têm potencial para serem patógenos infecciosos. A equipe introduziu os vírus em uma cultura de amebas vivas, mostrando que elas ainda eram capazes de invadir uma célula e se replicar. 

O projeto vem de uma equipe de pesquisadores da Universidade Aix-Marseille, na França, que ressuscitou um vírus de 30.000 anos encontrado no permafrost da Sibéria em 2014. Com o último grupo desses seres, incluindo um que data de 48.500 anos atrás, os pesquisadores possivelmente reviveram um mais mais antigo ainda. 

“48.500 anos é um recorde mundial”, disse Jean-Michel Claverie, um dos autores do artigo e professor de genômica e bioinformática na Escola de Medicina da Universidade Aix-Marseille, à New Scientist. 

No artigo, os pesquisadores explicam que mais trabalhos precisam se concentrar nos vírus que infectam eucariontes, observando que “poucos estudos foram publicados sobre esse assunto”. Eles explicam que o aumento das temperaturas devido às mudanças climáticas provavelmente despertará muitas ameaças microbianas, incluindo vírus patogênicos, do passado antigo. 

“Como infelizmente bem documentado por pandemias recentes (e em andamento), cada novo vírus, mesmo relacionado a famílias conhecidas, quase sempre requer o desenvolvimento de respostas médicas altamente específicas, como novos antivirais ou vacinas”, escrevem os autores do estudo. 

 

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