Filha de caminhoneiro morto vai seguir a profissão do pai
Atualmente, ela trabalha como motorista, mas de veículos leves
Depois de passar o fim de semana com a família, em São Francisco do Sul (SC), o caminhoneiro João Maria Pires, de 60 anos, tinha a capital paulista como destino na segunda-feira (28), quando foi atingido por um deslizamento de terra na BR-376, em Guaratuba, no litoral do Paraná. O enterro dele, que foi a primeira vítima confirmada do acidente, ocorreu na manhã desta quinta-feira (1º), em São José dos Pinhais (PR), cidade onde nasceu.
Filha do caminhoneiro, Tatiane Cristina dos Santos Pires, de 34 anos, contou ao Estadão, após o sepultamento do pai, que vai seguir a profissão dele. Atualmente, ela trabalha como motorista, mas de veículos leves. A inspiração, segundo a filha, vem das viagens que fazia com o pai. "Ele sempre falava nas viagens (pra virar caminhoneira), sempre incentivava muito. Vai ser uma forma de dar orgulho pra ele e realizar um sonho", afirmou.
Ela descreveu o pai, que passou 40 anos nas estradas, como um homem caseiro. "Meu pai era só de ficar em casa, assistindo filmes ou descansando, porque passava a semana inteira na estrada. Sempre gostava que os filhos fossem visitá-lo. Eu morava com ele, minha mãe e meus filhos. Ele brincava muito com os netos", disse. "Até agora não dá pra acreditar. Parece que ele vai chegar, que saiu pra viajar", desabafou.
Tatiane contou que o pai havia saído cedo de casa na segunda-feira para ir até a empresa para a qual trabalhava e depois carregar no Porto de Itapoá (SC). "Eu não tinha conversado com ele naquele dia por telefone. Tenho um irmão mais velho, também caminhoneiro, que tinha passado por ali (no local do deslizamento) uns momentos antes. Inclusive, outros colegas que estavam ali próximo viram o caminhão do meu pai tombado e avisaram. Mas a gente foi confirmar que era ele só na terça à tarde", contou.
Até a confirmação da morte, Tatiane disse que a família se mobilizou atrás de informações em hospitais, pois souberam que o motorista de uma carreta tinha conseguido sair com vida. Além dela, Pires teve outros cinco filhos, sendo um já falecido. "A gente acreditou que fosse meu pai. Mas as horas foram passando, quando já era meio-dia (da terça) era impossível que tivesse se salvado e não tivesse feito contato com a família. As horas passavam e ficava mais angustiante. É muito dolorido", disse.
O veículo dirigido por João Pires é uma carreta carregada com um contêiner vermelho, que aparece em destaque nas imagens do deslizamento. Segundo a filha, a família não foi informada se ele chegou a ser socorrido nem se o corpo estava dentro ou fora do caminhão. "Não sabemos de nada. O que a gente soube foi pela televisão mesmo", afirmou. "A gente quer que tudo seja resolvido logo, que tomem mais providências. Poderiam ter evitado essa tragédia, teve deslizamento antes. Fica um sentimento de injustiça", apontou.
Busca por desaparecidos
Os trabalhos de buscas por desaparecidos e de remoção de terra na rodovia chegou ao terceiro dia nesta quinta. Segundo o gabinete de crise, grande parte da massa de terra da parte superior do incidente foi removida. Com isso, a estimativa de potenciais vítimas foi reduzida para menos de 30 pessoas. "Por causa do grande volume de terra, ainda não é possível especificar com exatidão a quantidade de veículos e vítimas que podem estar soterrados no local", informou.
O deslizamento
O desmoronamento de um talude aconteceu por volta das 16 horas de segunda, atingindo uma das pistas da BR, no km 669, em Guaratuba. Chovia intensamente na região desde o fim de semana. Uma das faixas foi interditada, causando congestionamento. Os veículos estavam em fila quando houve novo deslizamento, por volta das 19 horas. Carros, caminhões e ônibus foram envolvidos por terra e lama. Ainda não há previsão de liberação da rodovia.