"Três voltas no morro": jovens levam preces à Imaculada

Vivência da fé é realidade passada de geração a geração para muitos devotos de Nossa Senhora

por Vitória Silva qui, 08/12/2022 - 14:00

“Sempre que temos uma conquista, damos três voltas no morro”: esse é o relato de Beatriz Krishna, uma jovem devota de Nossa Senhora da Conceição. Seguindo os passos da família, a universitária de 19 anos declara com orgulho a satisfação que sente em estar próxima da Imaculada. Atualmente residindo no Recife, a jovem tem a tradição de subir o morro desde pequena, quando ainda morava em Gameleira, no interior do estado. 

A caminho do Santuário para deixar suas preces, ela esteve acompanhada dos pais, e o trio estava vestido à caráter: nas cores azul e branco, com a imagem de Nossa Senhora estampada no peito. 

“Eu creio muito. Sempre que temos uma conquista, damos três voltas no morro. Graças primeiro a Deus, depois à Nossa Senhora. É uma tradição de família. Compramos um carro? Três voltas no morro. Uma casa? Três voltas no morro. Esse ano não tenho nada urgente para levar até ela, mas algumas coisas pessoais. Já conseguimos muitas graças através dela. E sempre fazemos isso juntos, eu e meus pais”, relatou a estudante. 

Segundo ela, é difícil lembrar das primeiras vezes que foi ao morro, pois o seu entendimento do significado da celebração ainda era pouco, mas são memórias que marcaram e compõem a fé que hoje ela tem na santa. “Tenho lembranças através das fotos, porque era muito pequena quando comecei a vir, mas lembro principalmente por causa da minha avó, que é devota. Agora, por estar mais debilitada, ela não consegue subir o morro, então nós viemos por ela também”, acrescentou. 

Essa herança geracional foi um relato comum entre os fiéis que chegavam ao Santuário da Conceição. Mislândia Carmo, de 30 anos, é uma analista contábil que mora em Casa Amarela, também na Zona Norte e próximo ao Morro da Conceição. Ela já nem se lembra de quando começou a subir as escadarias e ladeiras, mas sabe que foi uma promessa da mãe.  

“Todo ano ela vinha e me trazia. Nossa família sempre foi católica, da congregação de Nossa Senhora de Fátima, mas também fazemos parte da comunidade aqui do morro, então todo domingo estamos aqui na missa. É algo que veio de geração em geração e eu herdei da minha mãe, também quero passar para os meus filhos. Independente da festa, estamos aqui. Não é preciso uma promessa, basta o propósito da fé”, declarou a devota. 

Ao lado de Mislândia estavam os seus filhos, Ana, de nove anos, e Bernardo, de cinco. Ana era mais tímida e não quis comentar suas preces pessoais, mas Bernardo abriu o coração de imediato: “rezo pela minha avó, meu avô, minha tia, meu tio, minha mãe e meu pai”. Sob a aprovação da mãe, ele disse que gosta de subir as escadas, apesar da genitora saber que a criança ainda não entende muito bem o período de celebração.  

"A gente amadurece com o passar do tempo e entende todo o sentido da fé, a intercessão que ela faz. Mesmo não tendo uma promessa, tenho a devoção. Eles dois [os filhos] não entendem tão bem, mas é o momento de amadurecer. O sentido da igreja e da fé, mas eles já sabem porque vêm aqui e a importância de agradecer. Eu sei que eles virão na procissão comigo no futuro”, concluiu a mãe. 

O nascimento de Maria 

Em clima de festa, uma nova Maria poderá nascer neste dia 8 de dezembro: o parto da filha dos jovens Gleice e Ícaro está previsto para o Dia de Nossa Senhora. Gleice Soares, de 30 anos, é professora e mãe de primeira viagem ao lado de Ícaro Santos, de 34 anos. 

"A festa é a data provável do nascimento da nossa filha. Moro em Recife, mas subi a escadaria pela primeira vez. Viemos pegar a benção dela. Não sou devota por tradição, mas quando soubemos a data, na primeira ultrassom, pensei 'meu Deus, é o dia de Nossa Senhora'. Fiquei tão feliz. Pode até ser depois [o parto], mas só de saber que a chegada de Maria pode ser no dia, fico muito emocionada. Desde pequena frequento a missa com a minha avó e ela era devota. Jovem, também fiz parte do EJC [Encontro de Jovens com Cristo] e tive esse contato”, disse a jovem, emocionada. 

O futuro pai, que também estava emocionado, acredita que a filha virá com o propósito de reaproximar o casal da igreja, retorno que já era um plano desde o início da pandemia. 

"Durante a pandemia, nos afastamos um pouco da igreja, então também viemos nos renovar, estar mais próximos do templo. Não que nossa fé tenha diminuído, mas a gente precisava disso. O último ano foi muito intenso para a gente e perdemos um pouco o contato. Quando descobrimos essa possibilidade de ser no Dia de Nossa Senhora, decidimos apresentar Maria a ela, pedir que dê tudo certo. É nossa primeira vez na festa e na paternidade, mas estamos achando tudo muito tranquilo e bonito. O morro é lindo”, acrescentou Ícaro. 

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