Kremlin: Biden e Zelensky se recusam a 'ouvir a Rússia'

O chefe de Estado ucraniano recebeu a promessa de um enorme pacote de ajuda de quase US$ 45 bilhões e novas entregas de armas que incluirão, pela primeira vez, o sistema de defesa aérea Patriot

qui, 22/12/2022 - 10:42
OLIVIER DOULIERY Em sua primeira viagem internacional desde o início da invasão, Zelensky foi tratado como um herói em Washington na quarta-feira, onde se encontrou com seu homólogo Joe Biden na Casa Branca e fez um discurso aplaudido perante o Congresso OLIVIER DOULIERY

O Kremlin afirmou nesta quinta-feira (22) que a visita do presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, aos Estados Unidos mostra que ele não tem intenção de "ouvir a Rússia" e que Washington está realizando "uma guerra indireta" contra a Rússia na Ucrânia.

Em sua primeira viagem internacional desde o início da invasão, Zelensky foi tratado como um herói em Washington na quarta-feira (21), onde se encontrou com seu homólogo Joe Biden na Casa Branca e fez um discurso aplaudido perante o Congresso.

O chefe de Estado ucraniano também recebeu a promessa de um enorme pacote de ajuda de quase US$ 45 bilhões e novas entregas de armas que incluirão, pela primeira vez, o sistema de defesa aérea Patriot.

"Até agora, podemos observar, com pesar, que nem o presidente (americano Joe) Biden nem o presidente Zelensky disseram nada que pudesse ser visto como uma possível disposição de ouvir as preocupações da Rússia", denunciou o porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, em conversa com a imprensa.

Segundo Peskov, nesta visita não houve "verdadeiros apelos à paz", ou "advertências" dos Estados Unidos a Zelensky contra "o bombardeio contínuo de prédios residenciais em áreas populosas do Donbass". Essa região do leste da Ucrânia é parcialmente controlada por separatistas pró-Rússia e, com frequência, bombardeada pelas forças ucranianas.

"Isso mostra que os Estados Unidos continuam em sua linha de guerra, de fato e indireta, com a Rússia", acrescentou.

Na quarta-feira (21), depois que soube da viagem de Zelensky, Peskov alertou que a entrega de armas dos EUA a Kiev "leva a um agravamento do conflito e não é um bom presságio para a Ucrânia".

Em Washington, Zelensky defendeu que esta ajuda, essencial para suas tropas no conflito, é “um investimento na segurança global e na democracia”.

- Reforços militares -

Nos últimos meses, as tropas russas sofreram vários reveses militares e foram expulsas da região de Kharkiv (nordeste) e da cidade de Kherson (sul).

Desde outubro, Moscou mudou sua estratégia e optou por bombardeios maciços contra a infraestrutura básica ucraniana. A ofensiva privou milhões de pessoas de eletricidade, água e calefação.

Esses apagões afetaram Kiev, onde a situação energética permanece "difícil" nesta quinta-feira, segundo o chefe da administração militar da capital, Serguei Popko.

O sistema Patriot dos EUA deve fortalecer "significativamente" a defesa contra esse tipo de ataque, disse Zelensky.

Em uma reunião na quarta-feira para definir as prioridades do Exército para 2023, o presidente russo, Vladimir Putin, também prometeu fortalecer as capacidades militares da Rússia, incluindo as nucleares.

Anunciou, ainda, a entrada em serviço "no início de janeiro" de novos mísseis de cruzeiro hipersônicos Zircon e um aumento na força do Exército para 1,5 milhão de soldados.

Seu ministro da Defesa, Sergei Shoigu, garantiu que as tropas russas vão combater "as forças combinadas do Ocidente" e revelou que planejam estabelecer bases de apoio à sua frota em Mariupol e em Berdyansk, duas cidades ocupadas no sul da Ucrânia.

O ministro foi ao "front" de batalha para inspecionar as posições russas e as condições de pessoal e de material, disse seu departamento, sem especificar o local, ou a data.

No terreno, combates e bombardeios continuam nesta quinta-feira, com pelo menos um morto e 14 feridos em todo país no dia anterior, segundo a Presidência ucraniana.

Do lado russo, o ex-chefe da agência espacial Roscosmos Dmitri Rogozin informou que foi ferido em um ataque ucraniano a um hotel na região de Donetsk, controlada por Moscou, e precisou passar por uma cirurgia.

O comitê investigativo russo disse que este ataque, que matou e feriu outras pessoas, foi "provavelmente" realizado com uma arma de artilharia César francesa, entregue por Paris a Kiev.

COMENTÁRIOS dos leitores