Tubarão nas praias e os perigos da inconsciência ambiental

O LeiaJá conversou com Paulo Olveira, professor da UFRPE e engenheiro de pesca, que trata da relação entre ataques de tubarão e destruição de ecossistemas

por Rachel Andrade sex, 10/03/2023 - 13:40
Reprodução Praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes Reprodução

O dia 28 de junho de 1992 marcou a história da vida praieira na Região Metropolitana do Recife (RMR). Um banhista sofreu um incidente com um tubarão, causando grande alarde na população na época. A vítima foi mordida quando nadava na praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, lugar onde mais se registraram casos do tipo. Apesar de haver registros anteriores, ele foi o primeiro atacado por tubarão desde que Pernambuco passou a registrar essas ocorrências. Mais de 30 anos se passaram e Pernambuco conta atualmente com 77 casos registrados de incidentes com tubarão, sendo 26 com vítimas fatais.

Os casos mais recentes este ano aconteceram nas últimas semanas. No dia 20 de fevereiro um homem foi mordido na praia de Del Chifre, em Olinda. Outros dois casos aconteceram na praia de Piedade, nas imediações onde aconteceu o primeiro incidente, em 92. Dois adolescentes, de 14 e 15 anos, sofreram as investidas do animal nos dias 5 e 6 de março, respectivamente, e ainda estão internados no Hospital da Restauração, no Recife.

Lá atrás, em 92, ainda não existiam estudos sobre os tubarões que circulavam na costa pernambucana, e foi nessa época que começaram a ser desenvolvidos projetos de pesquisa para compreender as espécies marinhas e as causas de suas aparições. Os estudos continuaram até 2014, principalmente oriundos da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e espelhados para a sociedade por meio do Comitê de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (CEMIT).

Mas afinal, o que faz os tubarões, depois de tantas décadas de pesquisas e projetos de conscientização da população, ainda serem encontrados no litoral da RMR, e tão perto de seres humanos? O LeiaJá conversou com o professor da UFRPE e engenheiro de pesca, Paulo Oliveira, que explicou alguns detalhes sobre o assunto.

Questões ambientais

O professor enfatiza que um dos problemas que deve ser combatido com urgência é a destruição de ecossistemas. “A questão envolvendo interação de tubarões e seres humanos tem a ver com a degradação generalizada dos ecossistemas costeiros, e algumas questões relacionadas à geografia, à geomorfologia das nossas praias. Essa degradação faz com que os tubarões se aproximem da costa, e as questões geográficas e geológicas fazem com que eles permaneçam na costa”, esclarece o docente.

O Governo do Estado decidiu essa semana reativar e reestruturar o CEMIT, retomando as frentes de pesquisa que a UFRPE realizava, além de sua realocação para a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS). Até então, o comitê ficava sob responsabilidade da Secretaria de Defesa Social (SDS).

Contrário aos que defendem a interferência física no mar, como a aplicação de telas submarinas, o professor alerta que é preciso estudar mais a fundo as causas e as consequências das ações humanas no meio ambiente. “A partir do momento que a gente coloca uma barreira física, a população vai ter a falsa sensação de segurança, porque essas redes não vão assegurar a erradicação dos incidentes. Além disso, ainda tem a questão ecológica. Ao invés de resolver um problema, você acaba gerando outro maior ainda”, discorre.

Monitoramento e educação ambiental

Paulo relembra ainda que quando o acompanhamento da movimentação marinha era realizado de forma constante pelo CEMIT, a incidência de casos era significativamente menor. No entanto, ele enfatiza ainda que a diminuição do número de casos se dá com a participação da sociedade a partir do fortalecimento da educação ambiental para a população.

“É importante mostrar para as pessoas que em determinados trechos não se pode entrar, em outros é possível, indo de forma segura, como: escolher os horários da baixa-mar; em locais rasos; evitar entrar sozinho. Essas medidas são tomadas no mundo inteiro”, explica Oliveira.

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