França tem novo dia de protestos contra reforma
As manifestações de quinta-feira da semana passada terminaram com 457 detidos e 441 policiais e agentes das forças de segurança feridos
A França tem nesta terça-feira (28) a 10ª jornada de protestos contra a reforma da Previdência adotada pelo governo do presidente liberal Emmanuel Macron, que busca uma solução para o cada vez mais violento conflito social, mas sem cogitar a retirada da lei impopular.
As manifestações de quinta-feira da semana passada terminaram com 457 detidos e 441 policiais e agentes das forças de segurança feridos, em sua maioria nos distúrbios que aconteceram após as passeatas que reuniram mais de um milhão de pessoas em todo o país, segundo as autoridades.
No cenário de tensão cada vez maior, Macron e a primeira-ministra, Élisabeth Borne, anunciaram que "estendem a mão" para os sindicatos, que lideram os protestos desde janeiro, mas sem ceder na reivindicação para que o governo desista da reforma.
Laurent Berger, líder do sindicato CFDT, afirmou que aceitaria negociar, mas apenas se o governo deixar a reforma de lado, em particular o aumento da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos.
Ele pediu nesta terça-feira a criação de um "processo de mediação" para encontrar uma "via de saída" para a crise.
As centrais sindicais pedem a retirada da reforma, que aumenta a idade de aposentadoria a partir de 2030 e antecipa para 2027 a exigência de contribuição por 43 anos (e não 42 como atualmente) para que o trabalhador tenha direito a uma pensão integral.
Desde 19 de janeiro, data da primeira manifestação, os manifestantes conseguiram mobilizar centenas de milhares de pessoas (3,5 milhões em 7 e 23 de março, segundo o sindicato CGT) em grandes protestos pacíficas, mas sem sucesso para convencer o governo.
- 13.000 agentes -
Para esta terça-feira, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, anunciou um "dispositivo de segurança inédito" de 13.000 agentes no país e advertiu para a presença em Paris de "mais de 1.000 radicais, alguns procedentes do exterior".
As autoridades esperam "de 650.000 a 900.000" manifestantes". Fontes policiais acreditam que presença de jovens nas passeatas deve "dobrar ou triplicar".
"Queremos mostrar nosso descontentamento e dizer que, apesar de sermos adolescentes (...) temos o direito de dizer que somos contrários", declarou na segunda-feira uma jovem identificada apenas como Selma, enquanto bloqueava sua escola do Ensino Médio em Montreuil, leste de Paris.
Os trens circulavam com atraso em todo país. Na capital, o transporte público registrava "perturbações", segundo a operadora RATP.
Em Lille (norte), Yasmine Mounib, uma estudante de 19 anos, disse que concorda com as reivindicações, mas que nos transportes "ao menos poderiam permitir os trens da manhã". Ela disse que acordou às 4h00 para uma aula quatro horas depois, que mesmo assim não conseguirá assistir.
"Isto vai prejudicar meus estudos", lamentou.
Os protestos assumiram várias formas nas últimas semanas: milhares de toneladas de lixo acumuladas nas ruas de Paris, bloqueios de depósitos e refinarias que deixaram 15% dos postos de gasolina sem combustível, entre outros.
A decisão de Macron de adotar o projeto por decreto, por temer uma derrota durante a votação no Parlamento, e sua recusa a voltar atrás provocaram a radicalização dos protestos, com distúrbios registrados desde 16 de março.
"O sentimento de injustiça e de não ser ouvido alimenta a emoção", afirma uma pesquisa do instituto Odoxa, na qual Macron Borne tem o apoio de apenas 30% e 28% da população, respectivamente.
- Situação explosiva -
À espera da decisão do Conselho Constitucional sobre a validade da reforma, o governo tenta virar a página para outras prioridades, como saúde e educação, e a tentativa de garantir uma maioria estável no Parlamento.
Os sindicatos já haviam alertado Macron há algumas semanas para a situação explosiva que seria registrada se o governo não considerasse o mal-estar provocado pela reforma, rejeitada por mais de dois terços dos franceses, de acordo com as pesquisas.
A adoção definitiva da legislação, em 20 de março, aumentou a intensidade dos protestos. A repressão por parte da polícia provocou alertas das ONGs de direitos humanos, advogados, magistrados e até do Conselho da Europa.
As imagens de uma batalha campal voltaram a ter destaque no sábado, durante os protestos contra uma barragem agrícola destinada ao agronegócio em Sainte-Soline (centro-oeste). O confronto deixou dois manifestantes em coma.
Nos dois casos "há um uso desproporcional da força que já havíamos denunciado durante (o protesto social em 2018 e 2019) os coletes amarelos", afirmou à AFP Jean-Claude Samouiller, da ONG Anistia Internacional.