Autodiagnóstico e a banalização dos transtornos nas redes

Pessoas relatam nas redes sociais que sofrem com transtornos psiquiátricos mesmo sem passar por avaliação clínica

qua, 13/09/2023 - 11:45
Pixabay Mulher com smartphone Pixabay

Basta abrir as redes sociais para se deparar com vários relatos de pessoas que dizem sofrer transtornos psiquiátricos. Parece que nossos amigos e familiares foram atingidos por uma onda de depressão, TDAH e crises de ansiedade depois de ver vídeos no Youtube, podcasts e publicações.

Essa tendência expõe mais um prejuízo do exagero de informações ao qual somos submetidos em uma rotina debruçada sobre telas. O presidente da Sociedade Pernambucana de Psiquiatria e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o doutor em Neuropsiquiatria Leonardo Machado, alertou para os perigos de substituir a psicoterapia por dicas no Instagram.

"Quando você pega informações da internet, elas nem sempre são passadas de maneira correta. Nem sempre são profissionais, às vezes são pessoas que têm o diagnóstico e vão fazer algum comentário sobre. Além de a pessoa se identificar, ela pode supervalorizar alguns pontos e, eventualmente, pegar informações equivocadas", destacou Leonardo.

Dificuldade na produção de laudos

O especialista mencionou que a 'moda' do autodiagnóstico também se deve à dificuldade de produzir laudos psiquiátricos por sua característica dimensional. Nesse sentido, faltam exames com marcadores biológicos para ajudar a definir o quadro do paciente, como ocorre com a tuberculose e a gripe, por exemplo.

Como os transtornos primários partem de características comuns - como a procrastinação -, os diagnósticos só são cravados após a avaliação da intensidade, da persistência e do impactos dos sintomas na vida do paciente.

As pessoas que queimam as etapas do tratamento acabam submersas em um campo do conhecimento que não dominam e, geralmente, passam a se enxergar com uma condição mais grave do que realmente é. 

"Isso acontece até com estudante de medicina quando está aprendendo psiquiatria", citou o neuropsiquiatria.

Normalização do debate

Apesar da banalização do assunto, por outro lado, a abordagem recorrente do tema  vem ampliando o debate entre os jovens, saiu das redes sociais, e, aos poucos, vem quebrando o preconceito entre os mais velhos.

"Eu percebo a procura de ajuda em todas as faixas etárias a partir de informações que viram na internet. Eu acho que isso é muito bom. É diferente quando a pessoa pensa que tem porque viu na internet, mas procurou ajuda e fica aberta a uma avaliação, do que quando ela fecha o diagnóstico e pronto", observou. 

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