Autodiagnóstico e a banalização dos transtornos nas redes
Pessoas relatam nas redes sociais que sofrem com transtornos psiquiátricos mesmo sem passar por avaliação clínica
Basta abrir as redes sociais para se deparar com vários relatos de pessoas que dizem sofrer transtornos psiquiátricos. Parece que nossos amigos e familiares foram atingidos por uma onda de depressão, TDAH e crises de ansiedade depois de ver vídeos no Youtube, podcasts e publicações.
Essa tendência expõe mais um prejuízo do exagero de informações ao qual somos submetidos em uma rotina debruçada sobre telas. O presidente da Sociedade Pernambucana de Psiquiatria e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o doutor em Neuropsiquiatria Leonardo Machado, alertou para os perigos de substituir a psicoterapia por dicas no Instagram.
"Quando você pega informações da internet, elas nem sempre são passadas de maneira correta. Nem sempre são profissionais, às vezes são pessoas que têm o diagnóstico e vão fazer algum comentário sobre. Além de a pessoa se identificar, ela pode supervalorizar alguns pontos e, eventualmente, pegar informações equivocadas", destacou Leonardo.
Dificuldade na produção de laudos
O especialista mencionou que a 'moda' do autodiagnóstico também se deve à dificuldade de produzir laudos psiquiátricos por sua característica dimensional. Nesse sentido, faltam exames com marcadores biológicos para ajudar a definir o quadro do paciente, como ocorre com a tuberculose e a gripe, por exemplo.
Como os transtornos primários partem de características comuns - como a procrastinação -, os diagnósticos só são cravados após a avaliação da intensidade, da persistência e do impactos dos sintomas na vida do paciente.
As pessoas que queimam as etapas do tratamento acabam submersas em um campo do conhecimento que não dominam e, geralmente, passam a se enxergar com uma condição mais grave do que realmente é.
"Isso acontece até com estudante de medicina quando está aprendendo psiquiatria", citou o neuropsiquiatria.
Normalização do debate
Apesar da banalização do assunto, por outro lado, a abordagem recorrente do tema vem ampliando o debate entre os jovens, saiu das redes sociais, e, aos poucos, vem quebrando o preconceito entre os mais velhos.
"Eu percebo a procura de ajuda em todas as faixas etárias a partir de informações que viram na internet. Eu acho que isso é muito bom. É diferente quando a pessoa pensa que tem porque viu na internet, mas procurou ajuda e fica aberta a uma avaliação, do que quando ela fecha o diagnóstico e pronto", observou.