Israel retoma controle de sua fronteira com Gaza

ter, 10/10/2023 - 18:34
Said Khatib Civis e socorristas palestinos estão ajudando a limpar os escombros no centro da cidade de Jan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, que foi bombardeada por Israel em 10 de outubro de 2023. Said Khatib

Israel anunciou, nesta terça-feira (10), que havia retomado o controle das áreas em torno da Faixa de Gaza e seguiu bombardeando o enclave, contra o qual declarou um cerco total em uma guerra que já deixou milhares de mortos desde a ofensiva lançada no sábado pelo movimento islamita Hamas.

"Já estamos em meio à campanha, mas isto é apenas o começo. Venceremos com a força, com muita força", advertiu o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na noite de segunda-feira.

As forças de segurança "recuperaram mais ou menos o controle da fronteira" com Gaza, mas "as infiltrações podem continuar", disse o porta-voz militar Richard Hecht.

Na segunda-feira, Israel impôs um "cerco total" à Faixa de Gaza para que não chegue ao território "nem eletricidade, nem comida, nem água, nem gás", nas palavras de seu ministro da Defesa.

Além disso, ordenou a seus cidadãos que evacuem todas as localidades no entorno de Gaza, gerando temores de uma iminente ofensiva terrestre neste pequeno território de 360 km², onde 2,3 milhões de palestinos, já sob bloqueio israelense há 16 anos, vivem de forma precária.

Por sua vez, o Hamas ameaçou executar os cerca de 150 reféns sequestrados em Israel, incluindo crianças, mulheres, idosos e os jovens capturados em um festival de música eletrônica.

Os milicianos mataram 250 pessoas nesse festival.

Outro massacre ocorreu no kibutz de Be'eri, onde foram mortas "mais de 100 pessoas", informou à AFP um porta-voz da ONG Zaka, que participou da identificação das vítimas.

Os paramilitares "atiraram contra todos, assassinaram a sangue frio crianças, bebês, idosos, todos", afirmou.

O Hamas lançou mais de 5.000 foguetes durante sua incursão, de uma magnitude sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948.

- Balanços de mortos não param de aumentar -

Mais de 900 pessoas, incluindo muitos estrangeiros, morreram e outros 2.616 ficaram feridos desde o sábado em território israelense. O Exército também indicou que havia encontrado corpos de 1.500 combatentes do Hamas.

Do lado palestino, 765 pessoas morreram nos bombardeios israelenses em Gaza, e 4.000 ficaram feridas, segundo as autoridades locais.

Quatro jornalistas palestinos perderam a vida em um bombardeio de Israel na cidade de Gaza.

Um morador do enclave, Muhammad Najib, de 70 anos, relatou que deixou sua casa na segunda-feira após os avisos dos israelenses e que, ao retornar ao seu bairro, Al Rimal, na terça-feira, encontrou uma "cena aterrorizante".

"Todo o setor estava devastado, muitas casas estavam totalmente destruídas", afirmou. O que ocorreu "é culpa de crianças e mulheres?", questionou.

No hospital Al Shifa, que atende a população do enclave, a situação é catastrófica.

"Estamos tratando de muitos feridos, principalmente mulheres e crianças que chegam ao mesmo tempo", disse à AFP o médico da emergência Mohammad Ghoneim, sendo interrompido pela chegada de novos feridos: três mulheres, duas crianças, um idoso e dois jovens.

Na segunda-feira, o Hamas ameaçou executar os reféns sequestrados em Israel.

"Cada ataque contra nosso povo sem aviso prévio será respondido com a execução de um dos reféns civis", advertiu o braço armado da organização islamita.

Na terça-feira, o Hamas relatou que dois de seus líderes foram mortos nos ataques israelenses.

Tratam-se de Zakaria Muammar, responsável pelos assuntos econômicos de Gaza, e Jawad Abu Shamala, que coordenava os contratos com outros grupos palestinos e atuava como chefe de relações nacionais do Hamas.

O Exército israelense bombardeou o posto fronteiriço de Rafah, que liga a Faixa de Gaza ao Egito, três vezes em 24 horas. Este ponto é a única saída do enclave palestino que não está sob o controle de Israel.

Netanyahu comparou o ataque do Hamas às atrocidades cometidas pelo grupo Estado Islâmico (EI): "os terroristas do Hamas amarraram, queimaram e executaram crianças (...) São selvagens. O Hamas é o EI", declarou.

Pelo terceiro dia consecutivo, Israel foi alvo de disparos de foguetes do sul do Líbano e respondeu bombardeando essa região. Esses últimos ataques foram reivindicados pelas brigadas Al Qasam, braço armado do Hamas.

- ONU e UE contra o "cerco total" -

A ONU alertou que o "cerco total" imposto por Israel a Gaza é "proibido" pelo Direito Internacional Humanitário e que, desde o início deste confronto, mais de 187.500 pessoas dentro da Faixa de Gaza foram obrigadas a deixar o local.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu, por sua vez, a abertura de um corredor humanitário na região para permitir o envio de material médico essencial à população.

A União Europeia (UE) também criticou essa decisão.

"Israel tem o direito de se defender. Mas isso deve ser feito de acordo com a legislação internacional, com as leis humanitárias", disse o chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell, após uma reunião ministerial em Mascate, capital de Omã.

No Irã, o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, negou mais uma vez o envolvimento de seu país na operação do Hamas, ao mesmo tempo em que reafirmou o apoio "à Palestina".

Os Estados Unidos, que começaram a enviar ajuda militar a Israel no domingo e a posicionar sua frota aérea-naval no Mediterrâneo, estão prontos para enviar recursos adicionais "para fortalecer sua dissuasão" diante do aumento da tensão regional, afirmou o presidente Joe Biden.

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