Familiares visitam os que se foram e revivem memórias

Em meio a lembranças, parentes que se foram são velados de todas as formas

por Rachel Andrade qui, 02/11/2023 - 15:32
Júlio Gomes/LeiaJá Visitantes no Cemitério da Várzea, na zona Oeste do Recife Júlio Gomes/LeiaJá

A tradicional celebração do Dia de Finados, neste 2 de novembro, é uma data importante para que as pessoas possam velar e se lembrar dos que já se foram. Entre lágrimas e sorrisos, as memórias de pessoas queridas e amadas permanecem, deixando a vida dos que ficam cheia de saudades. No Cemitério da Várzea, localizado na zona Oeste do Recife, as visitas foram tomadas pela emoção. 

Cemitério da Várzea visto de cima. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá 

É o caso de Tereza Carla de Santana, enfermeira e moradora do bairro da Várzea, e que todos os anos vai homenagear seu pai, falecido há 46 anos, no jazido da família, comprado por ele mesmo, muito antes de morrer. “Meu pai morreu com 39 anos, antes disso ele já tinha [o jazigo]. A gente, de criança, ele já trazia aqui no cemitério”, relatou Tereza à reportagem. 

 

Tereza Carla de Santana. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá 

Além de Tereza, pessoas da família também visitam o túmulo do patriarca, não apenas no Dia de Finados, mas em outros momentos do ano também. No entanto, a frequência e quantidade de pessoas que continuam seguindo a tradição é cada vez menor. “Hoje em dia tá ficando mais escasso. Eu ainda venho, minha irmã vem, mas o restante da família, meus filhos, por exemplo, não vêm. Eu tenho um irmão mais velho que também não vem pra cemitério, não gosta”, disse. 

“Meu pai era tão adorador de cemitério que meu irmão nasceu no Dia de Finados. Minha mãe dizia que no dia, meu pai andou nu, e só não saiu pelas ruas porque ela trancou as portas”, comentou Tereza, dando risadas ao se lembrar do falecido pai. 

 

Quando o luto é interminável 

Todos os anos, a viúva Lindalva Rodrigues Costa, de 80 anos de idade, moradora do bairro do Cordeiro, também na zona Oeste da capital pernambucana, vai ao Cemitério da Várzea acender velas aos familiares que se foram, incluindo seu esposo, falecido há 47 anos, no jazigo da família. “Tá aí meu pai, minha irmã, minha neta, minha bisneta, meu cunhado, muita gente. Já tem umas 35 ossadas aí”, afirmou, fazendo uma conta breve de cabeça. 

Lindalva Rodrigues Costa. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá 

Lembrando especialmente de seu esposo, Gilberto Rodrigues, dona Lindalva conta que um acidente de carro causou seu óbito, em agosto 1976. “Ele chegou de viagem, me buscou na maternidade e registrou o nome do nosso filho no cartório. À noite foi a serviço para Palmares e bateu em uma carreta”, relatou com tristeza. 

Apesar do passar do tempo, dona Lindalva nunca esqueceu do seu amor que se foi, deixando com ela oito filhos e as memórias de um casamento que durou apenas 16 anos. “Eu hoje de manhã conversei com meu marido, quando estava colhendo essas flores [disse apontando para um pequeno buquê de flores em cima do jazigo], e disse ‘olha Beto, eu vou levar as flores do jardim da nossa casa pra botar lá [no jazigo]’”, disse com a voz falha e os olhos marejados. 

O luto de dona Lindalva é compartilhado por uma de suas filhas, Aurian Costa, que a acompanha todos os anos no Dia de Finados, e percebe a morte como uma continuação da vida. “Na minha concepção não acaba quando morre, porque fica na mente e no coração pro resto da vida. Até hoje eu sinto, então pra mim não morreu, vive dentro de mim, na minha mente. Eu vejo a morte dessa forma”, contou, de forma reflexiva.

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