População debate construção de torres no centro do Recife
Audiência pública lotou Plenarinho da Câmara do Recife nesta quinta-feira
Cobranças da população, respostas dos órgãos públicos e da empresa privada, apresentação de projeto, aplausos e muitas vaias. Assim foi marcada a audiência pública sobre o projeto Novo Recife, empreendimento imobiliário que será erguido no Cais José Estelita. A sessão de iniciativa do vereador Múcio Magalhães (PT) lotou o Plenarinho da Câmara Municipal do Recife e se iniciou por volta das 9h30, seguindo durante quatro horas.
Participaram da cerimônia o diretor de Desenvolvimento Imobiliário da Moura Dubeux, Eduardo Moura, representando o consórcio do projeto que é composto por outras três construtoras que arremataram, em leilão, o terreno. São elas: a Queiroz Galvão, GL Empreendimentos e Ara Empreendimentos. Também integraram a mesa de debate a diretora de Obras da Secretaria de Controle e Desenvolvimento Urbano da Prefeitura do Recife, Maria De Biasi; a arquiteta da Fundarpe, Nazaré Reis; o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de Pernambuco, Frederico Almeida; a promotora do Ministério Público de Pernambuco, Belize Câmara; além do professor da Universidade Federal de Pernambuco, Tomás de Albuquerque Lapa.
A exposição do projeto, que está em processo de tramitação, foi feita pela primeira vez. No local em que funcionava a Rede Ferroviária Federal – RFFSA será construído um conjunto de 12 torres residenciais e comerciais. O local arrematado pelo consórcio das contrutoras abrange uma área de 101 mil metros quadrados, na área que compreende o Cais José Estelita e o conjunto ferroviário das Cinco Pontas. Para iniciar o debate, o presidente da mesa, Múcio Magalhães, disse que seu objetivo, ao propor esta audiência pública, foi o de conhecer e discutir este empreendimento com os cidadãos do Recife.
De acordo com Eduardo Moura, o projeto preparado é de conhecimento da prefeitura da cidade. “O projeto reserva 36 mil metros quadrados para área pública e outros 25 mil metros para área verde. A vegetação ficará muito mais densa e o terreno, que não tem um destino social correto, receberá um equipamento urbano atualizado”, disse. Para o grupo presente, organizado através de um evento criado na rede social Facebook, a fala do empresário não convenceu nem tampouco agradou, pois foi rechaçada com vaias e palavras de protesto. Ainda segundo ele, áreas verdes, de convivência e que dialogam com a cidade e a sociedade também estão incorporadas ao projeto.
Segundo Maria De Biasi, o processo com o pedido de licença para a construção do empreendimento, que tramita desde 2008 pela Prefeitura do Recife, só poderá ser aprovado se estiver de acordo com as leis ambientais e urbanísticas. “Inclusive a aprovação desse empreendimento também passa por outras duas entidades sociais, a Comissão de Controle Urbanístico (CCU) e a Comissão de Desenvolvimento Urbano (CDU)”, pontuou.
Questionada insistentemente pela plateia composta por estudantes e profissionais de diversas áreas (em grande parte de arquitetura) se era contra ou a favor do projeto, De Biase garantiu não ser nem contra nem a favor. “Nós faremos essa colocação só depois da análise do material que foi encaminhada ao Iphan. Até porque para os impactos que o projeto causar a cidade e a sociedade serão impostas medidas mitigatórias, como por exemplo, a melhoria do trânsito e a reforma da Igreja de São José".
No vídeo que apresenta o empreendimento denominado “Novo Recife”, foram descritos benefícios que o empreendimento trará para a cidade. Entre eles, a injeção econômica de 1,5 milhão ao Estado, as fontes de iluminação colocadas na Bacia do Pina, a geração de empregos durante e depois da obra, além do percentual arrecadado pela cidade com o IPTU e a ligação que as torres terão a um novo shopping da cidade. A plateia reagiu com vaias e palavras de protesto à peça publicitária que compara o empreendimento aos encontrados em Londres e Lisboa.
O grupo entregou aos integrantes da mesa um abaixo-assinado contra o "Complexo Novo Recife". Os integrantes do grupo, que até então só se conheciam pela internet, formalizou a criação do “Direitos Urbanos”, que segundo eles foi batizado assim em alusão aos Direitos Humanos que estão sendo violados com a construção deste empreendimento.