Luciano Siqueira: um líder estudantil contra a repressão
Vice-prefeito viveu na clandestinidade na ditadura, mas não conseguiu fugir da prisão
Vice-prefeito da cidade do Recife, Luciano Siqueira (PCB) foi um jovem voluntário do movimento da cultura popular no ano do Golpe militar em 1964. Com apenas 15 anos de idade viu o regime democrático brasileiro ruir por longos anos. Ainda jovem, se filiou ao PCB. Foi perseguido na Faculdade de Medicina e teve que viver na clandestinidade.
“Os nomes chegaram na faculdade para serem cassados. Fui para o anfiteatro de anatomia, onde 200 e poucos alunos estavam. Lá eu fiz um discurso, li aquela lista explicando a turma do primeiro ano de medicina o que era cada um de nós. Antes disso eu tive a iniciativa de pegar o giz e escrever no quadro negro: “Não aceitaremos as cassações” . A turma se levantou aos gritos”, lembrou o comunista.
Junto com sua mulher, Luci, viveu na clandestinidade e sobreviveu como vendedor de roupa pelo Nordeste. “Nós vivemos na população mais pobre das regiões como Campinha Grande Maceió e o Sertão de Alagoas, porém tínhamos uma renda suficiente para sobrevivermos e ainda ajudar financeiramente o partido, sabíamos que podíamos ser presos e torturados a qualquer momento”, disse.
“Ninguém do partido sabia onde eu morava, somente eu e minha mulher. O rigor era tão grande que não sabíamos onde o outro morava e nos encontrávamos em lugares neutros e fazíamos reuniões clandestinas”, completou o ex-militante.
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Mesmo com todos os cuidados contra o regime, Luciano Siqueira acabou preso em abril de 1974 na cidade do Crato, no Ceará. O comunista foi torturado tanto em Fortaleza quanto nas dependências do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) no Recife, onde, segundo ele, “o limite entre a vida e a morte não depende só de você”.
“Quando eu fui preso no Ceará me levaram encapuzado e algemado para um lugar que depois eu iria saber que se tratava de um quartel que estava sendo construído em juazeiro. Eles tiraram o capuz, foi à única vez que vi torturadores. Me colocaram em uma sala retangular, sem iluminação, , colocaram 4 velas, uma em cada canto e disseram “tire a roupa”, eu disse “tiro não”, porque a instrução do partido é a seguinte, “se você atender a ordem de um torturador você já é desmoralizado e ali você não segura mais nada”, ai eles começaram a rasgar minha roupa”, detalhou o vice-prefeito.
Depois de ser levado a a Penitenciária Professor Barreto Campelo, em Itamaracá, Luciano Siqueira conviveu com outros colegas de partido e lutou contra as condições dos presos políticos. “A gente acreditava no socialismo, poderíamos morrer, mas outros companheiros iriam continuar a luta. Nós vivemos hoje na democracia, vencemos, por todas as distorções que a gente tem”, frisou.
Ele foi solto em 1979, com a Leia da Anistia. Nesse período voltou a cursar medicina e sobreviveu como artesão até ingressar de vez na carreira política. “Nós que vivíamos na clandestinidade tínhamos a concepção que o povo sabia o que nós fazíamos. Nós fomos objeto de solidariedade do povo”, afirmou o comunista.