“Não há confiança”, desabafa Paulo Rubem sobre PDT-PE
Insatisfeito por acordo não cumprido com o partido a nível estadual, o pedetista abriu mão da presidência no Recife e da candidatura em 2016 e ainda disparou contra Vicente André Gomes e José Queiroz
Nascido no Rio de Janeiro, mas residindo em Pernambuco desde os 17 anos, o atual presidente da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Paulo Rubem Santiago (PDT), 59 anos, exerceu atividade parlamentar por três mandatos seguidos e tentou se eleger como vice-governador de Pernambuco nas eleições de 2014. Anunciado como pré-candidato a prefeito do Recife pelo presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, o pedetista conversou com exclusividade com a equipe do Portal LeiaJá e revelou abrir mão da disputa eleitoral, e também, da presidência do PDT-Recife. Além disso, o ex-deputado disparou farpas ao presidente da Câmara do Recife, vereador Vicente André Gomes e ao seu correligionário e prefeito de Caruaru, José Queiroz (PDT).
Confira a entrevista na íntegra:
LeiaJá (L.J): Como o senhor avalia o novo desafio à frente da Fundaj:
Paulo Rubem (P.R): O compromisso que me fez ir para a Fundação é assumir esse projeto pelo menos por quatro anos. Não é entrar agora e passar uma chuva, e no ano que vem sair como se isso aqui fosse abrigo temporário para passar uma noite, não é. É uma instituição grandiosa com competência, com qualidade, com grandes desafios que é acompanhar o plano nacional de educação, o sistema nacional de cultura. Aqui se faz pesquisa, se faz formação, aqui se protege o patrimônio, o acervo e a memória, e o meu projeto com a Fundação é de quatro anos, e não é entrar agora e sair na eleição e por isso, meu nome está fora também.
(L.J): Recentemente seu nome foi colocado como pré-candidato à Prefeitura do Recife. O senhor irá encarar esse desafio?
(P.R): Eu conversei com ele (Carlos Lupi) durante a semana, tanto por telefone, quanto por email. Eu agradeço, mas essa discussão não cabe agora, neste momento, porque nós construímos uma aliança e essa aliança se desfez. Nós temos um prazo até outubro quando os partidos vão colocar seus nomes.
(L.J): De qual aliança o senhor está falando?
(P.R): Foi encaminhada uma lista para ser publicada no TRE-PE, e a lista foi alterada. O Wolney Queiroz simplesmente alterou a lista e com essa alteração, desqualifica a equipe, porque o acordo foi que ele comandaria a executiva estadual com a equipe dele e nós a nossa, mas o acordo não foi cumprido. Então, como eu entendo que houve uma intervenção indevida, ele alterou a lista e colocou os nomes que ele queria, o que eu não fiz. Eu não me sinto representado apenas para ocupar um cargo. Eu não estou atrás de cargo, eu não preciso disso. Tinha proposto uma equipe e um plano de trabalho desde fevereiro, mas na minha opinião houve um rompimento, então, nesse sentido, eu abro mão da presidência do partido. Não estou pleiteando e meu nome não está posto para as eleições de 2016.
(L.J): Diante do ocorrido o senhor sugere uma solução?
(P.R): Eles vão encontrar solução, mas quem eu indicaria que pode assumir à presidência do partido é a Isabella de Roldão que tem um mandato, que está exercendo um ataque violente do PSB em relação ao seu mandato e acho que ela tem mérito de conduzir o processo e eu estou à disposição para debater e discutir, mas, como o acordo feito só atendeu a um lado, que é o lado mais antigo do partido que é Wolney e José Queiroz que está há mais de 25 anos estão com o partido na mão, eu me considero liberado para não pleitear mais à presidência do partido.
Você ter sido parlamentar por oito anos, ter feito uma lista e a outra parte adultera a sua lista, tira os nomes e coloca nomes sem nenhuma consulta, isso para mim atingiu o limite do respeito. Então, como nós não estamos pleiteando cargo eu abro mão.
(L.J): Qual foi a agressão que o PSB fez a Isabella?
(P.R): Não há como fazer aliança com o PSB pela tamanha agressão que o PSB tem feito a ela. Ela foi cassada da Comissão de Educação da Câmara com um ato de Vicente André Gomes quanto nenhum presidente pode fazer isso. Quem decide se um parlamentar é membro ou não de uma comissão é a proporcionalidade, é o tamanho da bancada, são as escolhas que os partidos fazem, nunca um ato do presidente. O presidente da Câmara foi covarde, ele foi absolutamente capacho do prefeito do Recife e do PSB ao tomar uma decisão pessoal de cassar a presença de Isabela na Comissão de Educação e à presidência da Comissão, e esse tipo de atitude inviabiliza dentro de quaisquer razões, dela participar da campanha no palanque do PSB. Então, ela pode ser a candidata da frente, ou candidata à reeleição, apoiando um candidato único de oposição ao governo Geraldo Julio.
(L.J): Sua decisão de abrir mão da presidência do PDT-Recife já foi comunicada a direção nacional?
(P.R): Estou comunicando isso ao Lupi e ao Wolney nessa semana e nós não vamos implementar o plano de trabalho que nós queríamos porque o acordo que fizemos foi rompido, então, eu não tenho nem disposição de ser presidente do partido no município se eu não tenho a maioria para acompanhar o nosso plano de trabalho e, consequentemente, eu estou saindo dessa possível condição de ser presidente.
(L.J): Com essa decisão o senhor também desiste de uma possível candidatura em 2016?
(P.R): Consequentemente estou abrindo mão de ter meu nome discutido porque só tem sentindo ter uma candidatura se tiver um plano de trabalho que eu assuma, daí como possível candidato com um total controle do plano de trabalho e como isso está sendo sugerido por ele, e na nossa avaliação rompe o acordo que era o Wolney assumir a estadual e eu assumir a municipal, então, eu estou comunicando a ele. Já enviei um email e estou abrindo mão e ele faz a composição que quiser e como a equipe de trabalho não foi reconhecida, objetivamente, não está mais em discussão o município e a indicação que ele fez, mas eu permaneço como membro da Executiva Nacional, da Coordenação da Secretaria Econômica e eu estou coordenando hoje o debate econômico do PDT, mas a nível municipal, como não foi cumprido acordo e não se garantiu a equipe, nós não vamos assumir nenhuma responsabilidade e vamos tocar o projeto a nível nacional.
(L.J): A vereadora Isabela de Roldão se colocou à disposição caso o senhor não quisesse entrar na disputa. Como avalia o nome dela?
(P.R): É ótimo. Ela exerce mandato, mas nenhuma candidatura vai sair sozinha. É importante discutir com os partidos aliados qual é a perspectiva dos partidos da oposição, se vai haver uma única candidatura de oposição a Geraldo Julio, ou se são mais candidaturas. Eu sei que o Psol vai lançar o Edílson Silva, o PSDB vai lançar o Daniel Coelho, e não sei se o bloco PT, PTB e PDT se vai ter um, ou mais de um candidato. Então, o nome de Isabela está posto e se ela se colocar a disposição vai ser discutido pelo partido, mas nessas condições não há como.
Eu não conversei com ela e só vi essa notícia pela imprensa, mas na minha avaliação o mandato dela é importante para a cidade como vereadora. Ela tem demonstrado isso, e é obvio que ela terá a oportunidade de discutir se para ela é melhor ter o nome avaliado pelo PDT, pelo PT, ou se ela tenta a reeleição e mantém a aliança.
(L.J): Qual foi o entendimento do partido nas eleições de 2012?
(P.R): Havia uma resolução aprovada no encontro nacional e meu nome foi cassado para o PDT apoiar Geraldo Julio, então, passando por isso eu não tenho como ter nenhum grau de confiança de que assumindo à presidência e a maioria, eu possa construir uma candidatura. Eu fui eleito numa convenção nacional para ser membro e assumir uma secretaria nacional, hora, se eu tenho condições de ser eleito numa convenção nacional porque eu não posso assumir o partido no Recife?
Isso é igual você contratar um técnico de futebol para assumir uma equipe, mas o preparador físico é outro, o médico é outro, o fisioterapeuta é outro que você não conhece. Equipe é equipe, propus um acordo e nós cumprimos e o outro lado não cumpriu. Então, está rompido o entendimento. Mas estou em paz, sem nenhum estresse. Wolney não honrou a lista no Recife e entregou o partido em Jaboatão a pessoas que são ligadas ao PSB. Com essa postura não há o menor grau de confiança.
Em 2012 a decisão nacional era de ter candidatura própria. Só podia fazer convenção para apoiar outro candidato se tivesse uma comunicação com dez dias de antecedência e não foi feito isso e a decisão final de apoio a Geraldo Julio não foi uma decisão da convenção, foi uma atitude de José Queiroz que disse depois da reunião nacional “eu não aceito porque eu já dei a minha palavra a Eduardo que o partido irá apoiar o PSB”. Então a palavra dele vale mais do que o partido? Do que uma resolução nacional? Então para que isso não se repita em 2016, para quem quer que seja o nome do PDT para provável para candidato a prefeito, eu vou levar esse debate com antecedência a partir de agora para a próxima reunião da executiva em agosto, para que a executiva participe e possa brecar esse tipo de chantagem porque um presidente do partido diz: Eu já dei a minha palavra, então, um partido não existe, não tem direção, não tem diretoria, é uma negociação de palavras.
(L.J): Existem rumores de uma possível saída sua do PDT devido a insatisfação. Essa informação é verdade?
(P.R): Não, não. Isso aí foi uma discussão que eu fiz em março. Na verdade nós entregamos o partido porque meu nome tinha sido ventilado para ser o presidente, surpreendentemente publicaram depois de 90 dias o meu nome, mas quando eu me dei conta houve uma adulteração da relação de nomes, os nomes que eu indiquei foram vetados e foram colocados outros nomes que não me representam, então, de imediatamente eu disse: está aqui, estou me afastando, eu não me sinto e alguns interpretaram que isso era uma desfiliação e eu até coloquei que isso representava o afastamento da minha pessoa a essa base, mas eu foi eleito numa convenção nacional e ninguém pode tirar, a não ser numa outra convenção nacional.
(L.J): Como senhor analisa a postura do PDT para escolha de dirigentes em Pernambuco?
(P.R): Em Pernambuco quem elege os dirigentes não são os filiados. Há mais de dez anos aqui tudo é resolvido na cúpula do partido, e foi proposto um acordo e o acordo atende uma parte e não atendeu a outra parte, nós decidimos e vamos levar essa discussão à executiva nacional, porque por enquanto, eu só tenho conversado com Lupi.
(L.J): Nos bastidores da política há informações de que o ex-deputado João Paulo estava chateado porque o senhor foi contemplado com cargo e ele não foi para a Sudene. Isso é verdade?
(P.R): Não tenho nenhum conhecimento sobre isso. Não soube que João Paulo tinha sido indicado para a Sudene. Eu estou sabendo disso exatamente agora, então, não posso nem comentar isso. O que eu converso, vez por outra, com pessoas que foram da equipe de João Paulo e de pessoas que foram da assessoria dele, não me relataram nenhuma insatisfação não. Até porque aí, do ponto de vista dos nomes, pode ter havido algum outro tipo de conflito de interesse, mas eu não tive nenhuma informação nesta questão de insatisfação de João Paulo porque eu fui indicado para a Fundação e ele não foi para outros órgãos. Acho que são processos diferentes, são perfis diferentes. A Sudene é uma coisa, a Fundaj é outra, e a minha vinda para cá foi motivada primeiro por uma motivação dos próprios pesquisadores da casa, pelo perfil da fundação, e meu perfil político e acadêmico e aí eu não posso responder, porque honestamente, eu não tive nenhuma manifestação de que João Paulo ficou insatisfeito por isso.
(L.J): José Queiroz fez algumas críticas ao senhor em relação à disputa eleitoral de 2016 dizendo que só sabia fazer oposição. Como o senhor avaliar essas alfinetadas?
(P.R): – Eu não tenho nada a responder a José Queiroz . Não vou responder a José Queiroz. Ele não merece resposta. Ele quer justificar o injustificável que é a postura dele como coronel há mais de 25 anos comandando o partido, não respeita eleição, não convoca eleição. Não vou responder a José Queiroz. Tudo o que ele diz sobre mim é mentira e falta de vergonha e eu não vou responder.