Polícia descarta que Paulo Morato tenha sido assassinado

De acordo com os investigadores, "há indícios fortes" de morte súbita ou suicídio. Empresário, que era um dos principais alvos da Operação Turbulência, foi encontrado morto nessa quarta (22)

por Giselly Santos qui, 23/06/2016 - 13:15 Atualizado em: qui, 23/06/2016 - 13:26
Líbia Florentino/LeiaJáImagens Investigadores deram o parecer preliminar durante coletiva à imprensa Líbia Florentino/LeiaJáImagens

A hipótese de que o empresário Paulo César Morato, dono da Câmara & Vasconcelos, tenha sido assassinado foi "praticamente descartada" pela Polícia Civil de Pernambuco. Em entrevista coletiva, no início da tarde desta sexta-feira (23), o secretário-executivo de Defesa Social, Alexandre Lucena pontuou que "há indícios fortes" de morte súbita ou suicídio. 

A Câmara & Vasconcelos é uma das empresas fantasmas investigadas pela Polícia Federal na Operação Turbulência e apontada como a compradora do avião utilizado por Eduardo Campos (PSB) na campanha presidencial em 2014, quando morreu em um acidente aéreo fatal em Santos. 

De acordo com Lucena, a perícia preliminar do Instituto de Medicina Legal (IML) identificou que Morato teria falecido poucas horas após dar entrada em um motel de Olinda, na Região Metropolitana do Recife, onde foi encontrado nessa quarta (22). O empresário teria chegado ao local por volta das 12h da terça-feira (21), horário justamente em que aconteciam as prisões da investigação da PF deflagrada para interromper a ação de uma organização criminosa que efetuava o pagamento de propinas para políticos pernambucanos. Morato era um dos principais alvos, mas não foi confirmado se ele estava em rota de fuga.

A polícia identificou que o dono da Câmara ficou dentro do quarto por cerca de 30 horas e como não houve sinalização para a renovação da diária os funcionários decidiram verificar a questão com o hóspede, no entanto, quando abriram a porta ele já estava sem vida. "O corpo não tinha sinais de violência interna ou externa, ele era hipertenso, estava sob pressão e de acordo com informações da sua advogada já havia tentado suicídio anteriormente", explicou Lucena.

Com Paulo Morato foram encontrados documentos pessoais, além de 7 pendrives, 3 celulares, R$ 3 mil em espécie, 3 cheques de terceiros sem valores, 53 envelopes para depósito vazios e remédios para diabetes e hipertensão. "É este o fato que mais nos chama a atenção. Dentro desses pendrives e nos celulares podem haver informações que contribuam para as investigações da Polícia Federal", destacou o chefe da Polícia Civil de Pernambuco, Antônio Barros. 

Barros explicou também que a Polícia Civil está trabalhando em parceria com a PF e fornecendo todas as informações necessárias para o andamento da Operação Turbulência. E pontuou que as imagens das câmeras que ficavam em frente à garagem do quarto onde o corpo foi encontrado também serão analisadas ainda durante o feriadão. “A expectativa é de que na próxima semana tenhamos resultados concretos”, disse Barros.

Polêmicas

A morte de Paulo César Morato tem gerado uma série de especulações e polêmicas. Uma delas é a perícia do quarto onde ele foi encontrado. Na noite dessa quarta, uma equipe da Polícia Cientifica foi encaminhada ao local para averiguar os vestígios, mas uma perícia complementar seria efetuada hoje. Durante a manhã uma equipe de peritos esteve no motel, porém deixou o prédio sem verificar nada. 

Indagada sobre a postura, a gerente geral da Polícia Científica de Pernambuco, Sandra Santos, negou qualquer interferência nas investigações. “A perícia dessa quarta durou o tempo necessário e coletou todos os vestígios para a análise da polícia. Eles devem ter ido ao local sem comunicar a chefia e tudo será apurado internamente”, esclareceu. 

Outro assunto levantado pela imprensa foi a influência da imagem do ex-governador Eduardo Campos na Polícia Civil pernambucana. Nas redes sociais, desde ontem, o maior questionamento é porque a Polícia Federal não assumiu as investigações já que Paulo Morato era foragido de uma operação da responsabilidade dela. “Agimos com profissionalismo, acima de qualquer respeito pela imagem de A ou B. A Polícia Federal está participando e tendo acesso a tudo”, garantiu Antônio Barros. 

Operação Turbulência

Deflagrada na terça-feira, a operação investiga um esquema criminoso especializado em lavagem de dinheiro com a utilização de empresas fantasmas e “laranjas”. Quatro empresários foram presos: João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho, Eduardo Freire Bezerra Leite, Apolo Santana Vieira – apontados como líderes - e Arthur Roberto Lapa Rosal, que seria responsável por receber valores em sua conta pessoal. 

Todos estão no Centro de Observação e Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife (RMR). Apenas Paulo César Barros Morato não foi encontrado na terça pela PF e estava sendo considerado foragido. Ele era considerado o “testa de ferro” do esquema. Isto porque a Câmara & Vasconcelos, empresa que era dono, foi responsável pelo recebimento de quase R$ 19 mil da OAS, investigada na Lava Jato, para um suposto serviço de terraplanagem nas obras da Transposição do Rio São Francisco. O montante, entretanto, pode ter sido destinado para pagar o avião utilizado por Eduardo Campos na campanha presidencial em 2014.

Durante as ações da Turbulência, foram apreendidos dois helicópteros, um avião, barcos, carros de luxo e 45 relógios de diversas marcas foram confirmados pela corporação. Também foram confiscados cheques, contratos, comprovantes de transferência eletrônica, recibos e dinheiro em espécie (notas de real e dólar).

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