Cleber Rabelo defende ações pelo saneamento em Belém

Candidato do PSTU pretende corrigir desvios na saúde e infraestrutura e diz que a via expressa do BRT deve ser concluída, mas não resolve o problema da mobilidade urbana na cidade

qua, 28/09/2016 - 18:12
Divulgação Cleber Rabelo propõe grandes reformas na capital Divulgação

O vereador e candidato a prefeitura de Belém Cleber Rabelo (PSTU) falou sobre sua plataforma de governo. Ele trabalhou por 14 anos como servente de pedreiro. Nas eleições de 2012, foi o terceiro vereador mais votado da coligação PSOL/PSTU, com pouco mais de 4 mil votos. O político é também o diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, desde 2003.

Cleber Rabelo criticou o BRT, principal obra da atual gestão municipal. "Eu já falava há um bom tempo que as obras do BRT não iam resolver o problema do transporte urbano em Belém. Já existiam estudos sobre o aumento anual de veículos, e o BRT é uma pista expressa, mas que se encheu de paradas na Almirante Barroso que inclusive vão atrasar as obras." Veja, abaixo, a entrevista do candidato, a quarta da série publicada pelo LeiaJá.

* Na área da saúde, se for eleito, quais são seus projetos?

O tema da saúde não envolve uma política específica só na questão da saúde diretamente. O tema do saneamento básico é fundamental na prevenção de doenças. Então esse tema na verdade já é uma calamidade pública em nosso município, porque 2,25% das residências é que têm direito à coleta de esgoto com tratamento e água encanada com tratamento. Então, ou seja, tem menos de 3% das residências do município de Belém com rede de esgoto tratada e água tratada, é um problema na saúde, porque na verdade as crianças têm contato direto com água contaminada, adoecem e por aí vai. Para cada real investido no saneamento se economizam três na saúde. O tema da saúde tem a ver com atacar este problema do saneamento, mas principalmente atacar o problema da atenção básica da saúde. Os agentes comunitários de saúde, os agentes de combate à endemia, que não têm um tratamento qualificado pelo município, pela prefeitura, precisam ter mais estrutura para poderem trabalhar. O nosso tema central em relação à questão da saúde é deixar de repassar o dinheiro público para empresas privadas – os laboratórios ou clínicas que prestam serviços para a prefeitura – para investir na saúde pública municipal. Muitas vezes com esses convênios [com clínicas e laboratórios], você não tem uma fiscalização de fato, por exemplo se realmente aconteceu aquela quantidade de exames – seja de raios-x, ultrassom, de uma série de coisas – então nós queremos pegar o dinheiro público e investir na saúde pública do município para fortalecer a saúde. 

* O que pretende fazer a respeito das longas filas e falta de leitos nos hospitais e PSMs?

Essa discussão já foi travada várias vezes na Câmara Municipal, e como vereador já tenho debatido esse tema, e na verdade Belém não tem um hospital de retaguarda. Para que se faça as cirurgias e o paciente vá para o hospital de retaguarda para recuperação. O Zenaldo propagandeou muito a compra do [hospital] Porto Dias, naquele valor “pequenino” de R$ 100 milhões, e isso acabou não se efetivando. E a tal parceria que ele falou tanto com o governador do Estado, discutiram a compra do Hospital Samaritano. Compraram o Samaritano por R$ 12 milhões, pagaram dois milhões e ficaram devendo 10, o dono do hospital inclusive lacrou lá, e não está tendo esse atendimento para a população. Isso foi um negócio muito mal planejado porque lá sequer tem elevador. O que Belém precisa na verdade é disso: a construção de um hospital de retaguarda para desafogar a central de leitos e das cirurgias de alta complexidade.

* Qual sua proposta para a educação? Mais escolas ou aumento de qualidade nas já existentes?

Na educação é essencial dar uma atenção especial para as crianças. Os dados de 2010 revelaram que em Belém havia mais de 78 mil crianças de zero a três anos. E apenas 4,5% dessas crianças eram atendidas pelas creches municipais. Outra pequena parte era atendida por iniciativas privadas e pouquíssimos pela rede estadual. Portanto, mais de 71 mil das crianças estavam fora das creches. Essa realidade não mudou em Belém. Eu tenho uma política de creches que é importante porque vai avançar na geração de renda das famílias. A nossa prioridade na questão da educação é a construção de creches para dar atenção às crianças. Nas escolas, precisa-se de investimento para que possamos ter uma política de reforma e ampliação do que já tem para dar uma educação de mais qualidade, mais conforto. É um absurdo que as escolas daqui do município ainda funcionem com ventilador. Outro tema para nós é de que a educação não deve se restringir simplesmente à sala de aula. É necessário implementar mais políticas públicas nas escolas. Quem estuda de manhã tem que ter atividades extracurriculares de tarde, e vice-versa. Temos uma proposta de introduzir nas escolas a dança, teatro, música, capoeira, ou seja, introduzir a arte, cultura e lazer nas escolas para desenvolver as aptidões dos estudantes enquanto ainda estão jovens. Combater a violência também é ter políticas públicas, principalmente na educação.

* E a acessibilidade para os deficientes nos setores da educação e transporte público?

Este é um tema muito caro e difícil. Para os deficientes visuais ou físicos, precisa de uma política não só nas escolas mas no município. A locomoção é muito difícil em Belém, as calçadas não são padronizadas. A pista do BRT mostrou esses problemas, ocorreram vários acidentes, há uma dificuldade muito grande para as pessoas atravessarem a rua. Esta pista ficou desnivelada, então não tem uma acessibilidade melhor para cadeirantes. Então deveriam ter políticas de padronização das calçadas, acessibilidade nas escolas, não só rampas como também elevadores, e os ônibus que também têm uma deficiência muito grande em relação a isso. Tem ônibus que tem sim o acesso, mas muitas vezes não funciona. Às vezes o cadeirante precisa subir no ônibus mas o elevador não funciona. Isso acontece porque não há uma cultura de dar atenção para essas pessoas, tanto por parte dos empresários quanto por parte dos rodoviários, há uma pressa imensa para cumprir horário, que tem motorista que não quer parar nem para idoso, quanto mais deficientes, que vão atrasar o tempo dele. 

* Você pretende finalizar as obras do BRT e a expansão da Bernardo Sayão?

Eu já falava há um bom tempo que as obras do BRT não iam resolver o problema do transporte urbano em Belém. Já existiam estudos sobre o aumento anual de veículos, e o BRT é uma pista expressa, mas que se encheu de paradas na Almirante Barroso que inclusive vão atrasar as obras. Ainda não temos noção do funcionamento porque as estações não estão funcionando de fato com o BRT e com os ônibus que têm que transportar as pessoas pros bairros. Ela é uma obra insuficiente, caríssima, que não vai resolver o problema mas deve ser acabada. E justamente por ser insuficiente nós queremos discutir a implementação do transporte fluvial, que saia de Belém e passe por Outeiro, Icoaraci, Pratinha, Ver-o-Peso, e vá até a UFPA. Se houver barcas de qualidade, que nem as do Rio de Janeiro do trajeto Rio-Niterói, barcas velozes e que transportem com segurança, você desafoga muito o trânsito na Augusto Montenegro, rodovia do Tapanã e Almirante Barroso fazendo esse transporte pelo rio. Queremos cumprir aquilo que está na lei orgânica do município, que é a criação de uma empresa municipal de transporte, que não vise o lucro como os empresários de ônibus, aí é possível para o município garantir passe livre para os estudantes e desempregados. O passe livre dá direito a educação para os filhos dos trabalhadores.

* Uma das maiores preocupações é a crescente violência no Estado. Qual seu projeto para melhorar a segurança pública?

Para avançar nesse tema do combate à violência precisa-se de uma política de geração de emprego e renda que englobe um plano de obras públicas que tenha a questão da moradia popular para pessoas de baixa renda e reforma de escolas, unidades básicas de saúde e o saneamento. Nesse tema da iluminação pública, não só a prefeitura tem que garantir a iluminação como é importante a isenção de taxa, inclusive de IPTU, para desempregados e pessoas de baixa renda, porque a taxa de iluminação publica é muito alta, são várias pessoas que pagam pelo mesmo poste, tem um poste a cada 30 ou 50 metros, então 10 a 15 casas pagam um valor de uma taxa que é sobre o valor do consumo da sua energia, e quanto mais a pessoa gasta maior fica a taxa. Para pessoas de baixa renda nós queríamos criar um valor fixo e baixo de iluminação pública, isentar para pessoas desempregadas e garantir que tenha iluminação principalmente nos bairros periféricos, que são completamente abandonados pelo município.

* Você tem alguma medida ecológica planejada?

No tema ecológico uma das principais questões que precisa ser feita em Belém é o caso de calamidade pública, o saneamento básico, o tratamento da rede de esgoto que não existe. Esse é um dos temas centrais que tem a ver com a despoluição dos rios. Belém é cortada por vários rios e canais em que a rede de esgotos é diretamente despejada. Ter esse plano de despoluição dos rios de um programa ambiental que trate a rede de esgoto é fundamental. Temos aqui o Canal São Joaquim, mas as pessoas viajam daqui pra passear em Paris no Rio Sena. Se fosse desassoreado, tratado, despoluído, isso daqui é um prêmio que a gente tem que não é valorizado pelo poder público.

* Sobre o setor de Turismo, qual sua opinião?

O Turismo tem que ser tratado por aí, um plano que despolua e trate os rios como um patrimônio do município, mas não só isso. Eu acho importante incentivar a cultura popular – como o carimbó – por que às vezes se dá ênfase mais para outras questões que privilegiem as grandes redes de hotéis. Um dos nossos símbolos foi o mestre Verequete, que quase morre e não conhece o Theatro da Paz, não teve sua cultura exposta ali. Então incentivar a cultura popular pra resgatar isso é importante, pois queremos que as pessoas venham pra cá, não somente para conhecer as ilhas, como o Marajó, mas também para conhecer a cultura cultivada pelo nosso povo. O que nós temos hoje como grande patrimônio é o Arraial do Pavulagem, mas tem outras culturas que não recebem o incentivo do governo para que possa ter esse resgate e que os turistas possam conhecer a nossa cultura com muito mais ênfase.

* De que forma você pode melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores de construção civil ou a classe operária em geral?

É muito difícil ter um plano que mude de qualidade a vida dos trabalhadores da construção civil, quando se fala em termos de salário. Essa é uma luta que fazemos todos os anos pra tentar melhorar, mas em contrapartida o patrão quer muito trabalho mas não quer pagar um bom salário. No terreno da construção civil o que eu vou fazer como prefeito de Belém é aumentar a fiscalização de combate aos acidentes em obras, principalmente as mortes, que têm índices altos no nosso município. A prefeitura tem que agir com uma firmeza muito maior nessa área da segurança do trabalho, para que as pessoas não percam seus entes queridos. Eu mesmo, em 2011, perdi um primo que caiu do 11º andar na obra da Conselheiro e morreu na hora. Vocês sabem que eu sou operário da construção civil, sou trabalhador. A falta de segurança nas obras é constante, mas melhorar como prefeito a vida dos trabalhadores da construção civil significa ter um plano de obras públicas voltada a atender a questão de moradia a essas pessoas. 

* Seu projeto para a redução de salário dos vereadores foi bastante polêmico. Como você lidou com as críticas e a oposição?

Houve criticas de todos os lados. Nosso programa é contra esses privilégios dos políticos, não só dos vereadores, mas dos deputados estaduais, deputados federais – inclusive, no início desse ano, o Zenaldo se aposentou como deputado estadual ganhando mais de R$ 25 mil por mês – enquanto isso, o Michel Temer quer aumentar a idade da aposentadoria dos trabalhadores para 65 anos. Querem que o trabalhador morra de trabalhar e não se aposente, enquanto deputado federal não abre mão de dois mandatos e depois de oito anos se aposenta com um salário gordo. Nós achamos isso errado. Um vereador ou deputado deveria viver com um salário de professor, saber a realidade do trabalhador; e esse dinheiro que hoje é privilégio de poucos, ser usado pra atender a população na saúde, educação, moradia, e saneamento básico. Na Câmara eu fui o único vereador que votou a favor do meu projeto, do restante uns votaram contra e a maioria votou em uma emenda colocada pelo vereador Moa Moraes que tornava a redução facultativa: quem quisesse abrir mão do salário abria e quem não quisesse continuava com o mesmo pagamento, e isso foi aprovado. 

* Qual é a média de gastos da sua campanha eleitoral? Você doa metade do seu salário pro partido. O orçamento vem inteiramente destas doações ou há outras fontes de renda?

O nosso partido não aceita dinheiro de empresários para fazer campanha, pois achamos que essa é a grande debilidade do país: os candidatos recebem dinheiro das empresas e depois de eleitos as empresas vão cobrar; nenhuma empresa dá dinheiro sem interesse. Foi isso que se revelou na operação Lava-Jato, na lista da Odebrecht, ou seja, o próprio dono da Delta, uma empresa de construção civil, deu uma entrevista – acho que para a revista IstoÉ ou a Veja – e falou “se eu investir 30% em uma campanha de um candidato eu vou ganhar três vezes mais”. Ele sabe que aquilo não é um beneficio, é um investimento e que ele vai ter um retorno, tanto é que as mesmas empresas – Camargo Corrêa, Odebrecht, Andrade Gutierrez – doaram tanto para a campanha da Dilma quanto a do Lula, do Aécio Neves, da Marina Silva, de todos eles, porque sabiam que qualquer um que ganhasse ia ter aquela gorda fatia de retorno. A nossa campanha nesse sentido tem muita dificuldade, pois além de termos um tempo reduzido na televisão isso torna difícil a gente expressar as nossas opiniões e propostas. A nossa campanha se dá com doações dos trabalhadores. Organizamos um jantar e vendemos convites para arrecadar grana. Não pagamos ninguém para fazer panfletagem ou balançar bandeira, são os militantes do partido, alguns ativistas, e algumas pessoas que apoiam a nossa campanha que vão nos ajudar nos bairros.

Por Caio Matheus Sousa e Luísa Mitschein.

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