Arraes não renunciou

"Jurei ser digno das gloriosas tradições do povo de pernambuco e o povo de nunca haveria o seu governador descer para negociar o mandato", disse Arraes sobre o golpe de 1964

por Taciana Carvalho qui, 15/12/2016 - 08:07
Partido Socialista Brasileiro/Flickr Partido Socialista Brasileiro/Flickr

Miguel Arraes passaria por dias difíceis. Era 1 de abril de 1964. O Palácio do Campo das Princesas foi cercado por tropas do exército que pediam sua renúncia. Arraes não ser curvou. Se recusou a renunciar. Um golpe do estado tiraria o governador de seu mandato. Saiu preso do Palácio, em um fusca, direto para a prisão em Fernando de Noronha. Passaria também pela Fortaleza de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. No dia 25 de maio de 1965, foi exilado, na Argélia, no Norte da África, onde passou 15 anos. 

Arraes declarou que se recusava a renunciar ou abandonar o mandato porque este o acompanharia enquanto o prazo que o povo lhe concedeu e enquanto o fosse permitido viver. “O Palácio do Governo está sendo ocupado por tropas do exercito, que se subordinaram contra o presidente da República tocando assim, no meu mandato, que o povo de Pernambuco me concedeu através de gloriosa campanha eleitoral. Sei que cumpri, até agora, o meu dever para com o povo pernambucano. Sei que estou fiel aos princípios democráticos e a legalidade e à Constituição, que jurei cumprir. Estou assim, por força da ocupação do palácio feita a luz do dia enquanto se registrava negociações impedido de exercer o mandato numa violação da constituição do estado e da constituição federal”, contou. 

“Prefiro isso do que a negociar e a vê-lo manchado porque jurei ser digno das gloriosas tradições do povo de Pernambuco e o povo de nunca haveria o seu governador descer para negociar o mandato que, honrosamente, conquistou nas ruas do Recife e na cidade do interior do nosso estado. Espero que todos possam, através da unidade, cada vez maior do povo levar o nosso estado e a nossa pátria, a grandeza que todos nós precisamos”.

Ainda na situação que se encontrava, o líder disse que tinha esperança. “Sei que a nossa pátria atravessa dias de grandes dificuldades, mas sei que o povo haverá de conquistar cada vez maior liberdade e condições de lutar por um Brasil grande em que haja harmonia entre seus filhos e que essa harmonia pode vir senão da justiça que se estabeleça para todos, para milhões de cidadãos nossos, milhões de irmãos que estão no Brasil inteiro, a espera de uma palavra da luta que cada um tenha a consciência dos nossos destino nos possa dar e nos possa fazer". 

COMPORTAMENTO ALTIVO

Para o deputado Jarbas Vasconcelos, Arraes caiu com muita dignidade. “Entre mim e Arraes existia uma diferença de idade de 27 anos. Eu não conheci Arraes, pessoalmente, no primeiro período quando ele foi governador e deposto, mas, o que me marcou muito e eu acredito que há muitos pernambucanos naquela época, era o seu comportamento digno, altivo, correto, do enfrentamento aos militares que se subordinaram e deram um golpe de estado”.

O peemedebista acredita que a atitude de Arraes de não ter cediço à pressão marcou a sua trajetória. “Arraes foi acionado pelos militares para que assinasse um documento de apoio ao golpe ou então mudasse os secretários para que continuasse a ser governador. Ele refutou as duas hipóteses e foi ameaçado de voz de prisão, reagiu e saiu preso do Palácio. Foi preso e depois foi para um período de exílio. Isso marcou muito ele, sobretudo, no Recife das pessoas que acompanharam esse gesto altivo”.

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