Herman: "Marcelo Odebrecht sofisticou cultura de propina"
Ao analisar o processo que pode cassar a chapa Dilma-Temer de 2014, o relator disse que o ex-presidente da empreiteira é "especialista na corrupção”
Relator do processo que pede a cassação da chapa Dilma-Temer, o ministro Herman Benjamin disse, na manhã desta sexta-feira (9), que a Odebrecht é a “matriarca da manada de elefantes” da corrupção política no país. Segundo ele, o herdeiro da empreiteira, Marcelo Odebrecht, “sofisticou uma cultura de propinas” ao assumir o comando da empresa.
“Marcelo Odebrecht não herdou apenas uma empresa, ele herdou uma cultura de propinas e sofisticou essa cultura. Ele é a terceira geração de uma empresa que dominou o Brasil desde a abertura das suas portas lá atrás, ainda na Bahia, com uma pequena empresa. Ele era o administrador de um grande grupo econômico e um dos maiores esquemas de corrupção do mundo, não só do Brasil”, disparou, chamando o ex-presidente da empreiteira como “especialista na corrupção”.
A influência de Marcelo na campanha de 2014 foi explanada por Herman, após o ministro Admar Gonzaga intervir na leitura do voto dele e questionar a veracidade de alguns trechos citados pelo ministro pouco depois de reiniciar a divulgação do parecer - encerrado nessa quinta (8), quando argumentava sobre a prova da conta-poupança que, segundo Marcelo Odebrecht, tinha R$ 150 milhões e era destinada ao PT.
Na manhã desta sexta, Herman passou a analisar o item de “propina ou caixa 2” dada pela construtora para a campanha de 2014. “Não há como se investigar financiamento ilícito de campanha no Brasil sem investigar a Odebrecht. Mesmo que a Odebrecht não tivesse sido citada nominalmente, nós não teríamos como esquecer a matriarca da manada de elefantes”, afirmou Benjamin, justificando a menção da empresa que, segundo ele, é citada diretamente na petição inicial feita pelo PSDB.
Sob a ótica do relator, para a cassação de mandato em questão não há necessidade que os pagamentos de caixa 2 sejam derivados de propina. "A simples não declaração basta para a cassação dos mandatos. A regra é a da transparência absoluta", declarou. "Os valores contabilizados são muitos maiores do que aquele citado pelo Marcelo Odebrecht e eram contabilizados de forma clandestina”, acrescentou.
O relator ainda observou que, segundo o depoimento de Marcelo Odebrecht ao TSE, "era tanto dinheiro” que o herdeiro da empreiteira não “sabia como o dinheiro estava sendo utilizado, até porque o controle desses recursos era feito pela 'muralha da china'". O ministro relator, Herman Benjamin, cita e-mails trocados entre Marcelo Odebrecht e o "italiano" falando sobre os pagamentos feitos.
“Não vamos imaginar que aqui é um pecado de um partido político, ou de dois, que inventaram essas práticas todas”, afirmou o ministro Benjamin, para quem as práticas identificadas se estendem a todos os partidos.