Quem tem reais chances de ser o próximo presidente?
As pesquisas que mostram Bolsonaro liderando é um fator relevante, mas não garante vitória. Especialistas chegam a acreditar em um reviravolta
Desde as primeiras pesquisas eleitorais divulgadas, o candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL) lidera a intenção de votos dos brasileiros, o que pode dar um “ar de favoritismo”. No entanto, especialistas em política alertam para o fato de que esses levantamentos representam uma sinalização importante do momento eleitoral e das tendências de comportamento das pessoas, mas na conjuntura atual alguns outros elementos importantes em uma disputa não podem ser esquecidos.
A cientista política Priscila Lapa chama atenção para o fato de que o presidenciável Fernando Haddad (PT) conquistou apoios importantes para dar força à sua candidatura. “Ainda que apoios não signifiquem necessariamente a conversão dos votos, eles indicam 'força’ de uma candidatura. Aos poucos, Haddad foi conseguindo se posicionar não apenas como o candidato de Lula ou do PT, mas como o anti-Bolsonaro”.
Lapa também ressalta que o candidato petista teve uma maior visibilidade junto aos veículos de imprensa. “É algo que não pode ser desconsiderado. Ele ocupou de forma expressiva os canais disponibilizados e aproveitou a ausência do adversário para se colocar como um candidato preparado, sereno e capaz de resolver os graves problemas enfrentados (pelo país)”.
Por sua vez, em relação aos apoios, Bolsonaro possui dois em particular de grande importância na busca da vitória: as das lideranças evangélicas, que certamente ajudaram a "avolumar" a candidatura no segundo turno e os apoios em Minas e no Rio de Janeiro, respectivamente, de Romeu Zema (Novo) e Wilson Witzel (PSC), candidatos favoritos para ganharem a eleição nos seus estados.
Vendo o lado negativo, a cientista recorda que as últimas denúncias de possível utilização de recursos de empresas para disparos de fake news também cumprem um papel importante na compreensão da conjuntura atual do pleito. “Se por um lado levanta dúvidas sobre a tão proclamada idoneidade de Jair Bolsonaro, abre as cortinas do possível poder que a campanha dele hoje tem”.
De acordo com cientista político Pedro Soares, a eleição não está ganha, uma vez que cada levantamento divulgado faz uma leitura diferente. Para ele, há evidências claras de que pode existir uma reviravolta em relação à vantagem de Bolsonaro. “Por exemplo, o Estado de São Paulo, que foi no primeiro turno reduto de Bolsonaro, hoje saiu uma pesquisa de um instituto paulista destacando que a rejeição de Bolsonaro cresceu muito em virtude das últimas notícias”.
Soares falou que as últimas aparições do capitão da reserva foram com discursos muitos agressivos. “Acredito que a rejeição dele é muito devido a isso. Em São Paulo, logo um reduto bolsonarista, foi o estado em que a rejeição mais cresceu”. O cientista também lembrou que, hoje, o ex-presidente do PSDB, Alberto Goldman, anunciou o voto em Haddad mesmo sendo uma das vozes mais críticas ao PT dentro do PSDB.
“O anúncio do ex-presidente do PSDB, que é um dos tubarões do PSDB, declarando apoio aberto ao Haddad pelo fato de Bolsonaro nas últimas declarações estar se colocando de uma forma explícita, muito violenta, e indo contra as instituições democráticas como, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal”.
Ele ainda falou que a falta da participação de Bolsonaro nos debates também é responsável por uma parcela do aumento dessa rejeição. “Eu acredito muito nesses sintomas, nesses fatores que fez com que Haddad consiga superar a cada dia a figura de Bolsonaro. Hoje ainda é quarta, esse cenário mudou dentro de três dias e eu acredito que a eleição ainda não está fechada, não está garantida. Algo pode acontecer mais grave e esse fatores podem se agravar ainda mais. Eu acredito que esses fatores apresentados agora nas prorrogações do segundo tempo do segundo turno podem ser os grandes responsáveis por essa virada”.