Intercept: Moro teria desestimulado investigação sobre FHC

“Melindra alguém cujo apoio é importante”, teria dito o então juiz, segundo sétima reportagem da série de vazamentos de conversas atribuídas ao magistrado da Lava Jato

ter, 18/06/2019 - 20:23
Montagem com fotos Gabriela Biló/Estadão Conteúdo/ Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo Montagem com fotos Gabriela Biló/Estadão Conteúdo/ Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo

O site The Intercept publicou a sétima reportagem da série de vazamentos de conversas privadas de Telegram atribuídas a Deltan Dallagnol, procurador responsável por coordenar a força-tarefa da operação Lava Jato, e a Sérgio Moro, então juiz de primeira instância da 13ª Vara Federal de Curitiba. De acordo com a matéria, Moro teria discordado do prosseguimento das investigações relacionadas ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e dito a Dallagnol que operação “melindra alguém cujo apoio é importante”.

Segundo o site, o diálogo aconteceu no dia 13 de abril de 2017, logo depois da veiculação, no Jornal Nacional, de uma reportagem sobre a presença do nome de FHC em uma delação do dono da Odebrecht, Emílio Odebrecht, sobre o pagamento de vantagens indevidas, entre os anos de 1993 e 1997. Após a transmissão da notícia, Moro teria questionado a Dellagnol, via Telegram, se as suspeitas relacionadas ao ex-presidente eram sérias. O procurador, então, supostamente respondeu acreditar que a força-tarefa não considerou o caso como prescrito propositalmente, “talvez para (o MPF) passar recado de imparcialidade”.

No período em que as conversas teriam acontecido, fortalecia-se a teoria de que a Lava Jato poupava os políticos tucanos. O Intercept observou ainda que FHC foi citado pelo menos nove vezes na Lava Jato, algumas das vezes em crimes que, comprovados, não estariam prescritos.

“Dará mais argumentos pela imparcialidade”

Depois das conversas supracitadas, FHC apareceria em mais três delações da Lava Jato. uma delas através de Fernando Baiano, operador ligado ao MDB, por causa de um suposto favorecimento da empresa do filho do ex-presidente, Paulo Henrique Cardoso, em contratos. Chama atenção a menção a Paulo Henrique no chat FT MPF Curitiba 3, em junho. Na conversa, os procuradores discutem como a exposição do caso pode criar uma imagem de “imparcial” para a operação. “Dará mais argumentos à imparcialidade”, Dellagnol chega a dizer.  

Em outro diálogo, com a data de 17 de novembro de 2015, o procurador Roberson Pozzobon sugere, em um grupo do Telegram chamado FT MPF Curitiba 2, que um sejam investigados, no mesmo procedimento, pagamentos da Odebrecht aos institutos de Lula e FHC. “Assim ninguém poderia indevidamente criticar nossa atuação como se tivesse vies partidário”, afirma Pozzobon. O procurador chega a os pagamentos feitos à Fundação iFHC, que não estariam prescritos caso fossem realmente propina. Após os comentários, Pozzobon posta duas imagens no grupo.

A primeira, referente a uma troca de e-mails entre a secretária de FHC, Manuel Diaz (representante da Associação Petroquímica e Química da Argentina) e o empresário Pedro Longhi. A secretária pede que Braskem, empresa do setor petroquímico administrada pela Odebrecht, seja consultada sobre “qual a melhor maneira para doação”. Na segundo arquivo compartilhado por Pozzobon, consta um laudo da Polícia Federal de 2014, indicando que a Odebrecht havia feito pagamentos mensais com valor conjunto de 975 mil a iFHC, entre os anos de 2011 e 2012. Ao se deparar com os documentos, o procurador da Lava Jato Paulo Galvão comenta: “porra, bomba isso”.

 

 

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