Mandetta: decisões de Bolsonaro foram conscientes
Ex-ministro disse que o presidente arriscou vidas e apontou que Paulo Guedes pode ter influenciado nas decisões sobre a pandemia
O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que as falas do presidente Jair Bolsonaro minimizando a pandemia da Covid-19 não são frutos de despreparo, e sim “decisão consciente” do governo. Mandetta, que foi o entrevistado do Roda Viva na noite dessa segunda-feira (12), também relatou que foi apresentado ao presidente o cenário de que o país poderia chegar a 180 mil óbitos por conta da doença.
“Não acho que seja despreparo, acho que foi uma decisão consciente, sabendo dos números, apostando num ponto futuro (...) Ele se abraçou na tese da economia, já para ter uma vacina para ele e falar: 'a economia vai recuperar, fui eu que recuperei, não deixei'. Ele fez uma opção política consciente que colocava em risco a vida das pessoas. Isso foi consciente da parte dele, não tenha dúvidas”, afirmou Mandetta.
Sobre a previsão do número de óbitos, o ex-ministro disse: “não só informei na reunião de ministros, como procurava informação individual com o presidente, e ele sempre falava ‘não quero, não vou ouvir, depois eu vejo; até a hora que eu exigi do ministro Braga Neto. Mostrei os três cenários: otimistas, realistas, pessimistas; cenários tinha para todos os gostos, mas o que mais me convenceu foi o cenário que a gente tinha que lutar para não chegar a 180 mil óbitos e ele tinha que saber, e tinha que saber disso por cidades. Isso foi feito, foi apresentado, foi documentado por escrito e entregue a ele na presença de todos os ministros, dentro do Palácio da Alvorada”.
O ex-ministro da Saúde responsabiliza também o ministro da Economia, Paulo Guedes, que segundo sua opinião, pode ter influenciado as decisões de Jair Bolsonaro sobre o tema.
Quando questionado em que momento percebeu que seria impossível permanecer a frente do Ministério da Saúde e porque aceitou conviver por tantos meses com o negacionismo que denuncia, o ministro relata que “era preciso, você tem que ter a noção do porque naquele momento a gente ter que fazer primeiro a informação para o maior número de pessoas para que as pessoas pudessem montar suas linhas de defesa que são feitas em casa”.
“Naquele momento tínhamos um desenho muito forte, a equipe era muito técnica, e nós tínhamos quais eram os pontos que trabalhavam a favor do vírus, quais eram os pontos que trabalhavam a favor do nosso sistema de saúde, a favor de convergência; e entendemos que naquele momento tínhamos que permanecer o maior tempo possível para evitar as fake news, falar o que a ciência tinha que falar, insistir na chamada para as pessoas, redimensionar o SUS para um vírus leve, então, aquilo justificava toda e qualquer melindre que a gente podia ter em descompasso em relação ao presidente”, comentou Mandetta.