Mandetta: 'militares na Saúde são reféns de Bolsonaro'
Ex-ministro entende que há mau uso das Forças Armadas e despreparo no Ministério da Saúde, o que teria sido orquestrado por Bolsonaro em uma ‘arapuca’
O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, criticou a participação de militares da ativa no Ministério da Saúde, no que diz respeito à condução da pandemia da Covid-19. Para o médico, não há preparo suficiente por parte dos agentes das Forças Armadas para assumir os postos que foram concedidos na pasta. Por outro lado, Mandetta diz que os militares foram colocados em uma "arapuca" montada pelo presidente Jair Bolsonaro (partido), que assim, teria mais facilidade em encontrar os responsáveis pelos erros da sua gestão. As declarações foram feitas em entrevista ao Metrópoles, nesta sexta-feira (9).
Mandetta disse que há “uma relação direta entre a ocupação militar burra [do Ministério da Saúde] com as mortes [que poderiam ter sido evitadas com a vacinação mais célere]”.
"Do ponto de vista da Saúde, os militares foram péssimos. Se fosse um país onde se responsabilizam as pessoas por mortes causadas por dano à saúde, eles tinham que ser condenados. Os militares não são cúmplices, são co-autores do governo Bolsonaro. No caso da Saúde, praticamente a totalidade dos que foram fazer a intervenção militar no Ministério da Saúde, não tinham preparo para o assunto e é quase a totalidade da ativa. E aí quando vem a consequência através de um inquérito, é claro que vão aparecer as faces desse mau uso da força militar. Aí eles se tornam reféns do Bolsonaro, que os colocou dentro dessa arapuca", declarou o ex-chefe da pasta.
O ex-ministro defendeu a aprovação de uma legislação que determine que militares só possam assumir cargos públicos civis após deixarem formalmente as forças às quais são vinculados. “Não dá para ficar nesse limbo”, avaliou. “Somando salários. E isso incorpora para a aposentadoria. Quer dizer, uma coisa mesquinha”, completou.
Ainda falando sobre a atuação dos militares da ativa no Governo, o ex-ministro criticou a postura do Exército diante das declarações feitas pelo senador e presidente da CPI da Covid, Omar Oziz (PSD-AM), durante sessão da Comissão. Mandetta reconheceu a "nota de repúdio" como "ameaça".
Na última quarta-feira (7), o ministro da Defesa, Walter Braga Neto, e os comandantes das Forças Armadas divulgaram nota em repúdio a declarações de Aziz. O senador disse, durante a sessão para ouvir Roberto Dias, que “há muitos anos o Brasil não via membros do lado pobre das Forças Armadas envolvidos em falcatrua dentro do governo”. Na nota, Braga Neto e os comandantes afirmaram que o parlamentar desrespeitou as Forças Armadas e que “não aceitarão qualquer ataque leviano”.
Para Mandetta, o texto é uma ameaça. O ex-ministro classificou a manifestação como “desproporcional e extremamente agressiva ao Senado da República”. “Foi uma ameaça. O Brasil está um barril de pólvora, com álcool, palha, gasolina, e o Bolsonaro está querendo fumar. Todo dia ele fala que não vai ter eleição, que a urna não presta, que é o 'meu Exército'. A crise militar que tivemos no dia 30 de março, com a exoneração do ministro da Defesa, Fernando (Azevedo), deixou todos desconfortáveis com a utilização de militares da ativa, como é o caso do general Pazuello nomeado como Ministro da Saúde", destacou o ex-titular da Saúde.
Sobre erros e possíveis crimes cometidos pela gestão da Saúde, Luiz Henrique Mandetta mencionou que houve "patrocínio" de uma série de medidas sem base científica pelo Ministério da Saúde, sem serem revistas pela Conitec ou recomendadas pela Anvisa, que já é fruto de ação de improbidade contra o general Pazuello.
"Depois se tem a saída do Ministério da Saúde de qualquer tipo de prestação de contas à sociedade ou de orientação aos estados. Houve falta de atuação do Governo Federal, falta de testes, os testes venceram no depósito do Ministério, provavelmente porque eles acreditam na tese da imunidade de rebanho e outras teses", concluiu.