Diretor pediu para adequar estudo a fala de Bolsonaro

A declaração foi feita pela advogada Bruna Morato, representante de 12 médicos que trabalham ou trabalhavam na Prevent Senior, na CPI da Covid

ter, 28/09/2021 - 14:19
Edilson Rodrigues/Agência Senado A advogada Bruna Morato depondo na CPI da Covid Edilson Rodrigues/Agência Senado

A advogada Bruna Morato, representante de 12 médicos que trabalham ou trabalhavam na Prevent Senior, afirmou à CPI da Pandemia nesta terça-feira (28) que os profissionais não tinham autonomia para definir o tratamento da Covid-19 e que a prescrição do kit covid era praticamente obrigatória.

Em seu depoimento, Bruna Morato confirmou as denúncias de médicos de que a Prevent Senior testou em pacientes o "kit covid" para reduzir custos. E declarou que houve um pacto com o governo Bolsonaro para comprovar sua eficácia e assim impedir o lockdown, para não comprometer a economia.

Aos senadores, a advogada mencionou a participação dos médicos Anthony Wong e Nise Yamaguchi e o virologista Paolo Zanotto, que participariam do chamado gabinete paralelo do Ministério da Saúde.

Alinhamento ao discurso de Bolsonaro 

Bruna Morato classificou como “atípico” o fato de o presidente Jair Bolsonaro ter divulgado um estudo da Prevent Senior segundo o qual o tratamento com o "kit covid" garantiria “100% de cura”. A publicação foi feita em abril em uma rede social.

“É totalmente atípico o fato de o presidente da República citar uma instituição de saúde como tendo obtido sucesso em um ou outro estudo. O que fica claro no que foi publicado é que existiu uma maior publicidade com relação às informações. Informações essas, inverídicas”, afirmou.

A advogada destacou ainda que, após o comentário de Bolsonaro, o diretor da Prevent Senior responsável pelo estudo acionou pesquisadores do plano de saúde para rever os dados da pesquisa. O objetivo seria garantir que estavam alinhados aos números citados pelo presidente da República.

“Existia uma mensagem encaminhada ao grupo de pesquisadores em que [o diretor do Instituto de Pesquisa da Prevent Senior] Rodrigo Esper pede que se faça um “arredondamento” de dados, considerando a citação do presidente da República. Ele pede que se faça uma revisão. Cita que [o estudo] foi citado pelo presidente e que, por isso, os dados precisariam ser perfeitos”, disse Bruna Morato.

Lema de 'obediência e lealdade'

Antes do intervalo dos trabalhos da CPI, Bruna Morato afirmou que o suposto lema “obediência e lealdade”, da Prevent Senior, foi criado em 2015 e continua sendo utilizado até hoje, inclusive pelo diretor-executivo, Pedro Batista Júnior.

“Lema esse que ele [Batista Júnior] levou muito a sério e propagou para todos os seus subordinados. É lema da empresa, sempre foi lema, e continua sendo propagado. É graças a esse lema que a empresa continua usando a política de coerção”.

Em depoimento na semana passada, Batista Júnior afirmou que o lema teria sido criado em 2017 por um ex-diretor, não estando mais em vigor.

Da Agência Senado

 

 

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