Alianças podem atrapalhar governabilidade, alerta analista

A união de quadros apenas pelo ganho eleitoral pode ter um efeito adverso no futuro, comentou doutor em Ciência Política e coordenador da Universidade Católica do Recife (Unicap) Thales Castro

sex, 08/04/2022 - 12:26
Luiz Cervi/Divulgação Baleia Rossi (MDB), Luciano Bivar (PSL), Bruno Araújo (PSDB) selam bloco para as eleições Luiz Cervi/Divulgação

Estratégia ousada para alguns e traição para outros, as novas alianças políticas antecipam o teor das eleições deste ano. A volta de Jair Bolsonaro (PL) ao Centrão, a chapa que se monta com Lula (PT) e Geraldo Alckmin (PSB), e o bloco recém-formado entre União Brasil, MDB, PSDB e Cidadania comprimem a diversidade do pluralismo político brasileiro e podem trazer prejuízos para a governabilidade. 

“O que acontece é que na política a traição é um fato inexorável. A dúvida é saber quando ela acontecerá e por quem”, adverte o doutor em Ciência Política e coordenador da Universidade Católica do Recife (Unicap) Thales Castro.

Ele prevê que a conveniência pragmática em unir forças somente pela competitividade pode resultar em uma descaracterização incompatível com a construção dos partidos e fazer com que o eleitor não enxergue mais o programa histórico defendido por determinada sigla.

Fraturas na governabilidade

“Se essas descaracterizações ocorrem de maneira tão gritante, podem dar um efeito negativo e o tiro sair pela culatra, por que acaba se tornando um 'monstrengo' tão grande que o eleitor acaba por não se sentir representado por aquela legenda”, descreveu.

Outro ponto negativo se mostra na inconsistência de liderar com uma chapa tão diversificada e, em determinados casos, distantes historicamente. “A vitória de uma frente tão heterogênea é você ter fraturas no processo governativo, que vão gerar repercussões na capacidade de barganha do Parlamento”, analisou Castro.

Ao  sugerir a federalização com o PSOL, a líder da Rede Marina Silva deixou claro que o intuito era ultrapassar a cláusula de barreira para viabilizar as candidaturas de ambos e que cada legenda defenderia seus interesses próprios no Congresso.

As movimentações prometem aquecer os bastidores até o fim de julho, quando inicia as convenções dos partidos para os lançamentos oficiais das candidaturas. Com a ameaça e a desistência de pré-candidatos, novas mudanças são esperadas em um pleito que tenta contrabalancear a polarização vivida no Brasil.

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