Por que políticos novatos se colocam na disputa da Câmara?
Especialistas na área explicam o motivo pelo qual os partidos fazem isso e a viabilidade das candidaturas
Com a aproximação das eleições de 2022 e o andamento do calendário eleitoral, alguns atores que não são originalmente da política aparecem como pré-candidatos à Câmara dos Deputados, em Brasília, o que se tornou comum, mas acaba não sendo o praxe político por não se ter o “trabalho prévio de base” dos candidatos, tendo em vista que existem cargos anteriores a este, como o de deputado/deputada estadual e vereador/vereadora, por exemplo.
De acordo com o professor da UFPE e cientista político, Arthur Leandro, os partidos têm a intenção de ampliar o número de votos possíveis na legenda, que se tornou mais difícil depois do fim de coligação partidária para as eleições proporcionais, e “isso era antes e continua sendo agora o objetivo dos partidos de potencializar os ativos”. “O que pode acontecer e o que normalmente ocorre é que uma pessoa que não era da política que se lança como candidato tem algum tipo de diferencial que gabarita um potencial puxador de votos. A pessoa não era da política, mas tinha uma carreira como artista, atleta, ganhou evidência em função de um evento qualquer e pode se tornar um puxador de votos”, afirmou.
A cientista política e professora da Facho, Priscila Lapa, corroborou e explicou que a estratégia é “básica elementar de tentativa de renovação dos quadros partidários”. “O ruim é que não é feito o trabalho de base, porque uma coisa é você ter o processo de atração de novos quadros para o partido e uma vez que chegam, eles conseguem ajudar a construir a agenda, identidade do partido, participar ativamente das discussões, e aí você cria uma base a partir da qual você vai revelando essas lideranças e fazendo com que elas se coloquem no processo eleitoral de forma viável, conexa com os objetivos do partido”, contextualizou.
“Acontece que às vezes os partidos acabam tendo que apelar porque existe um desgaste de lideranças com o passar do tempo pois existe um processo de envelhecimento natural dessas pessoas, não só em idade, mas da liderança dela dentro do partido, e isso vai abrindo um espaço na chegada dela com os novos postulantes, só que não é um trabalho prévio de base, orgânico e acaba que essas candidaturas parecem ter brotado da terra, não tem um trabalho mais consistente para que isso aconteça, não são candidaturas completamente fundamentadas”, detalhou Priscila Lapa.
A especialista relembrou o caso do deputado federal Túlio Gadêlha (Rede Sustentabilidade), que não era um ator político e se colocou pela primeira vez como candidato à Câmara dos Deputados. “Existem os cisnes negros, que é quando você tem um fator novo, às vezes a pessoa ocupa um espaço de identidade e, às vezes, acontece quando uma pessoa tem uma identificação com uma bandeira política muito forte naquele momento, na conjuntura da eleição e que faz sentido para as pessoas. Túlio Gadêlha não parecia alguém muito proeminente na cena política local e já ganhou a primeira eleição para deputado federal, mas por um conjunto de fatores que acabaram alavancando o nome dele. Existem esses casos, mas são exceções, casos isolados e que tem mais a ver também com a conjuntura da eleição”.
Arthur Leandro pontuou a viabilidade em parte das candidaturas e lembrou de figuras como o humorista Tiririca, por exemplo. “Existe a real viabilidade em boa parte dessas candidaturas. Quando o partido lança alguém que possa atrair votos vindo de fora da política, é porque ele imagina que vai ganhar com a presença das pessoas e não vai ter custo. Tivemos recentemente o ex-morador de rua envolvido no episódio em Brasília e, tão logo ficou em evidência, foi procurado pelos partidos políticos que tentaram filiá-lo, mesmo em função do calendário eleitoral e, mesmo assim, o nome dele foi buscado. Também teve o caso do conhecido humorista Tiririca, que não era da política mas se lançou como candidato e foi um puxador de votos na sua primeira eleição”, avaliou.
“Na onda de 2013, quando aconteceram aqueles protestos iniciados da campanha do “Não é só por 0,20 centavos”, uma série de movimentos que se apresentaram como espontâneos terminaram potencializando candidatos que viraram políticos profissionais. Esse processo não é exatamente uma novidade, ele é uma janela de oportunidade para os partidos e para esses candidatos que, vindo de fora da política, adentram o sistema e a maior parte deles continua exercendo como político profissional e buscando a reeleição quando o mandato se encerra”, ponderou.
Candidaturas
Pré-candidato a deputado federal, o Dr Manoel Jerônimo (Republicanos), é defensor público estadual e contou ao LeiaJá ter se colocado para disputar uma cadeira na Câmara Federal por estímulo dos seus “assistidos”. “Há muito tempo eu trabalho na defesa das pessoas hipossuficientes, dos vulneráveis, invisíveis e, graças a Deus, eu trabalho com muito amor à causa, muita determinação, sentimento de justiça e vontade de fazer o meu melhor. Geralmente eu consigo deixar meus assistidos muito satisfeitos com o meu serviço público e, em razão disso, as pessoas vão me incentivando a colocar meu nome para representá-las no poder legislativo. Por isso eu resolvi me colocar à disposição como pré-candidato, buscando representar a causa das pessoas que vivem em vulnerabilidade social”, explicou.
Fora do meio político, ele detalhou ter sido convidado pela sigla para representá-la e aceitou por levantarem as mesmas bandeiras. “É o partido que mais cresce em Pernambuco e resolvi aceitar o convite para que, junto aos correligionários, a gente possa construir pontes que venham a incluir os excluídos, que venham melhorar a vida do povo pernambucano. O partido Republicanos tem ideologias parecidas com a minha. É um partido que busca defender bandeiras que são muito nobres, como a da inclusão social, defesa dos idosos, diminuição da carga tributária, valorização das mulheres, pessoas com deficiência, e isso me fez ficar encantado pelo partido”, disse.